10 - DESMAIADO

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No meio do caminho, Fade resolveu que passaria mal e desmaiaria. Segundo ele, o sol era implacável e sua cútis não estava ambientada a climas tão drásticos. No momento pensei que fosse uma brincadeira. Porém, bastou chegarmos na varanda da minha casa para que o lorde inglês caísse com tudo no chão.

A cena seria até hilariante, se no mesmo momento mamãe não abrisse a porta e visse aquela cena estranha.

― O que esse corpo faz desovado na frente da minha casa? ― pergunta, esbaforida.

― Eu posso explicar, mãe...

― Passa pra dentro agora, garota! ― puxa minha orelha, me arrastando para dentro ― E traga o defunto.

Faço um muxoxo impaciente, coloco minha mochila no sofá e arrasto Fade pelo colarinho da camisa, que era de marca e custava minha mesada elevada a três.

― Você vai deixar ele jogado no meio da minha sala? E se alguém chegar? ― pergunta mamãe, andando em círculos, analisando cada detalhe do rapaz jogado no tapete persa caríssimo, que ela ganhou de um admirador secreto no começo dos anos 2000.

― Ele não está morto ― coloco as mãos na cintura e suspiro ― Deixe de exageros e pare de assistir CSI.

― Drogado? ― pergunta com cuidado.

― Também não.

― Foi assaltado? Agarrado por groupies?

― A resposta é não ― ela abre a boca, como se fosse testar mais alguma hipótese ― Para todas as possíveis suposições que virão, Dona Marlene. Ele está assim por culpa da Sacarelli.

Mamãe se benze.

Amélia jamais pisou na minha casa e provoca reações assim, imagine só se mamãe já tivesse visto a peça pessoalmente. Ela com toda a certeza se perguntaria o que fez de errado para que sua filhota andasse com gente de alta periculosidade.

― Ele nunca andou de ônibus na vida, mãe ― sento e respiro fundo ― Sacarelli fez ele pegar o ônibus no horário de pico, e o pior... ― ela ergue a sobrancelha ― Ele foi expulso pelo motorista e tivemos que vir a pé até aqui. Acho que o sol sugou as forças dele, já que é todo "não me toque, reles mortais".

― Tadinho ― Dona Marlene se aproxima e faz carinho nele, afastando com cuidado os cabelos loiros ― Oh! Tão bonito minha filha! Porque não pega pra você?

― Inviável, Marleninha...

― Mas porque? ― ergue a sobrancelha e percebo que vai começar a jorrar mais algumas suposições sem pé nem cabeça, até porque, no mundo de hoje, você pega quem quiser, né? Simples assim.

Dou meia volta para não lhe dar respostas. Entro na cozinha para beber um pouco de água, já que essa caminhada infernal me fez ficar desidratada. Mamãe murmura coisas, tipo:

"Que desperdício."

"Seria um ótimo genro."

"Imagina a fuça que os meus netos teriam."

― Mel ― chama, levantando do chão ― Tem certeza de que ele está mesmo bem?

― Mãe! ― reclamo, engolindo quase um litro de água de uma só vez ― Já disse que ele está bem! ― Só não está acostumado com a pobreza.

― Ele é rico ― ela sussurra, com os olhos brilhando ― Uau... ― começa a alternar o olhar entre o rapaz e eu ― Ele ficará no seu quarto?

Vejo um sorrisinho maquiavélico.

Série CCS: Amor e Outros SurtosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora