EPILOGO

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Olho pela última vez para o rosto da Vanessa e do meu pai. Entro na sala de embarque assim que a mulher anuncia pela segunda vez que meu voo já está pronto para decolar. Sinto um pequeno aperto no peito, mas nem se compara a sensação de alivio.

Foi difícil demais nesses dois meses guardar o segredo da viagem. Não quis falar para ninguém além da Babi e minha mãe. Afinal, elas são minhas melhores amigas. Nem para a Penélope eu contei.

Quer dizer, nesse momento ela já sabe que eu estou viajando para Milão sem passagem de volta, mas isso foi porque lhe avisei ontem. A questão era que eu sei muito bem como é sair de um lugar onde você criou laços, construiu relacionamentos e sentimentos. Eu já tive essa experiência antes e sei como era doloroso deixar tudo para trás. Não queria prolongar isso ao máximo, por esse motivo deixei de última hora.

Nem sequer sei se o Brian sabe disso. Faz mais de três semanas que não o vejo.

Desde aquele dia em seu apartamento eu juntei todas as minhas forças para não encontrar mais com ele. Claro que isso foi praticamente impossível tendo em vista que estudávamos juntos e morávamos no mesmo prédio. Mas toda vez que esbarrava com ele ou nossos olhares se encontravam eu tentava disfarçar e fingir que ele não era ninguém.

Porque foi isso que ele realmente se tornou para mim.

Ninguém.

Apenas uma página mal escrita da minha vida.

Linhas tortas, palavras erradas e muitas falhas.

No começo eu percebia sua expressão de fúria a me ver. Ele guardou por muito tempo raiva de mim. E isso me machucava. Como tudo relacionado a ele. Mas, bem no fundo do peito, eu sabia que todo aquele rancor não era minha culpa. Ele fez as más escolhas. Ele se afundou na própria lama de seus sentimentos. Não tinha dava a ver com isso.

Pensando desse jeito foi bem mais fácil seguir em frente. E bom, agora estou aqui. Com uma passagem para Milão na mão, uma mala na outra e um monte de esperanças em meu coração.

Pronta para ter o meu final feliz.

Ou melhor, meu começo feliz.

Sem príncipes.

Sem sapos.

Apenas eu, meus sonhos e uma vida inteira me esperando do outro lado do mundo.

BRIAN

Eu estou até agora sem conseguir acreditar que eu deixei que tudo isso acontecesse comigo. Eu sempre soube que a Cecilia era loucamente apaixonada por mim. E talvez eu tenha sido um enorme canalha ao me aproveitar disso. Entretanto, eu não esperava que realmente fosse verdade a parte do "louca".

Inventar uma gravidez para me prender a ela foi o auge de toda sua loucura.

Ela praticamente estragou com minha vida e qualquer perspectiva de futuro.

Me sento no banco do aeroporto e jogo, frustrado, o buquê de flores no assento ao meu lado. Ver a Rebeca indo embora, entrando naquela sala, com sua mala vermelha e as passagens na mão partiu meu coração e milhares de pequenos caquinhos.

E agora, aqui estou, tentando juntar todos eles sozinho.

Eu realmente estava decido a lhe pedir desculpas. Desculpas por ter sido um completo idiota desde o momento que lhe conheci. Desculpas por ter machucado seu coração. Desculpas por ter sido medroso. Desculpas por ter lhe dado tantas vezes esperanças e esmagando com todas elas. Desculpas por ser quem eu sou.

Mas quando vi seu sorriso no rosto e uma expressão que fazia meses que não enxergava nela pude perceber que não podia fazer isso. Eu não tinha o menor direito de pedir uma nova chance. E muito menos perdão. Não tinha o direito de lhe amarrar a uma tortura. De pedir que abrisse mão do seu futuro, carreira, sonhos, por mim. Não. De forma alguma.

E até agora estou me segurando para não correr até lá e pedir que, por tudo que há de mais sagrado, que ela fique. Que me dê uma nova chance. Sou capaz de esquecer todo meu orgulho, todo meu medo, tudo que me impede de fazê-la feliz. Mas não posso.

Ela está cansada. Repetiu isso inúmeras vezes. E eu também estou.

Estou cansado de tentar mudar, prometer, pedir perdão, e, no fim, fazer tudo de novo. Agir como um imbecil. Correr. Ter medo. Eu sequer sei se daqui a algumas semanas eu não vou novamente cair. No fundo do meu coração, eu sei que quero mudar. Mas não sei onde e como encontro força e coragem o bastante para isso.

Mas a Rebeca parece ter encontrado. E seria completamente injusto desestabilizá-la agora.

O que mais me dói não é o fato de ela ter escondido de mim a falsa gravidez da Ceci. O que mais dói é saber que aquela menina, que passou por aquela porta, que está entrando nesse exato momento dentro de um avião para o outro lado do mundo, foi a única capaz de me dar um pouco de coragem, sonhos e a vontade de mudar. O problema nunca esteve com a Rebeca, mas sim com a minha fraqueza.

Ela merece ser feliz. Ela merece todo o sucesso do mundo. Que todos a olhe com admiração. Que queiram ser ela. Ela merece alguém que a ame de tal maneira que ela seja colocada como primeiro lugar em qualquer decisão que essa pessoa venha a tomar. Que esse alguém prove que merece seu amor. Que esse alguém ao menos consiga dizer o quanto a ama antes que seja tarde de mais e ela saia de sua vida para sempre sem ao menos dizer um adeus.

Just a Year - (COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora