Parte 6

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Não quero que as pessoas sejam muito gentis;
pois tal poupa-me o trabalho de gostar muito delas.
Jane Austen

Narração: Carina

Se você passa anos de sua vida estudando a melhor forma de aconselhar pessoas, o mínimo que se espera de você é que seja bom em dar conselhos. Foi levando isso em consideração que eu acabei dando ouvidos ao que o Dr. Spinelli propusera. Mas não tenho certeza se o resultado de sua pequena experiência foi exatamente o que o conselheiro da escola tinha em mente. Quero dizer, a não ser que ele imaginasse que eu acabaria com um bando de loucos no meio do mato.

Nesse caso, posso dizer que foi exatamente o que ele tinha em mente.

Tudo começou no Domingo, quando Doug passou no campus para nos fazer uma breve visita.

Na realidade, isso é mentira, mas Douglas ficaria arrasado caso eu omitisse a sua participação - ainda que totalmente não atrelada ao acontecimento principal aqui narrado - nessa história.

- Eu sempre desconfiei que você acabaria uma solteirona cheia de gatos. - Douglas falou assim que entrou em nosso quarto - Só imaginava que isso ocorreria alguns anos depois da faculdade. - foi o seu comentário ao avistar o gato que dormia nos pés da minha cama.

Suspirei, suprimindo um meio sorriso.

- Também estava com saudades, Doug. Apesar de sua referência machista e inacurada ter diminuído um pouco da intensidade do sentimento. - respondi enquanto fechava a porta por detrás dele - É revoltante essa mania de concluir que uma mulher sozinha é, automaticamente, triste e amarga.

Ignorando minha reclamação, Doug me prendeu em um abraço apertado.

- Você não espera realmente que eu comece a agir politicamente correto a essa altura da vida, não é mesmo? - perguntou, plantando um beijo na minha bochecha.

- Isso não seria nada divertido. - Lena saiu do banheiro, o cabelo molhado enrolado em uma toalha, e correu para saudar Doug.

Douglas desviou de uma pilha particularmente traiçoeira de livros no chão - viver com Lena significava estar sempre a beira de um desabamento - para abraçá-la.

- Ao menos alguém aqui ainda aprecia meu chame natural. - reclamou ele para então se focar em um assunto totalmente diferente - Onde está o bonitão do seu namorado? - perguntou para Lena e, em seguida, virou-se para mim - Ou aquela gracinha que você finge odiar?

Expirei com força o ar em meus pulmões, uma expressão clássica da minha impaciência e sentei na minha cama, alcançando o controle para acessar o Netflix em nossa TV.

Esse era o nosso ritual particular sempre que Doug nos visitava: assistir um filme e, em seguida, sair para uma lanchonete ou barzinho.

- Eu não finjo odiar o Petrus. - respondi, acessando a categoria de filmes de terror em homenagem a aproximação do Halloween.

Pude ver um daqueles irritantes risinhos silenciosos surgir no rosto de Lena enquanto ela afastava alguns livros caídos pelo chão abrindo caminho para, em seguida, arrastar sua cama até a minha. Douglas se jogou em nosso sofá improvisado de forma a ficar no meio de nós duas enquanto olhava para mim de forma sarcástica.

- Eu estava falando da sua irmã. Soube que ela veio para um visita. - ele respondeu, com uma das sobrancelhas erguidas - Além disso, Petrus é a gracinha que você ama odiar. - ele completou, rindo - Um total desperdício de tempo e beleza, na minha humilde opinião.

- Como se qualquer coisa em você pudesse ser humilde. - eu resmunguei antes de responder a sua pergunta - Minha irmã foi comprar pipoca e chocolate.

100 Coisas Que Eu Odeio Em VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora