Capítulo 01

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Tudo o que eu escutava era a minha própria respiração. Meus olhos focados no chão abaixo de mim. Eu segui minha presa por vários dias e esse era um caminho que ela fazia todas as madrugadas para ir para a cidade.

Já podia sentir o sabor, a textura de sua doce alma, envenenando meus lábios, com esse ardor intenso de seu desespero.

Eu me divertia com o pavor que os animais sentiam de mim. Era só chegar a uma distância razoável e eles corriam de medo. Criaturas espertas. Um barulho ao longe. Apurei meus ouvidos. Passos nas folhas secas... é ele.

Um homem caminhava tranquilamente na estrada, no meio da floresta. Assim que ele passou pela minha árvore, pulei no chão. Ele se virou assustado.

— Quem é você?

— Por que perder tempo com introduções? Nós dois sabemos o que eu quero. — Abri completamente minhas asas, negras como a necrose dessa raça imunda. Os guardiões, criaturas fracas e cheias de orgulho.

Seus olhos se arregalaram, e sua primeira reação foi correr para dentro da floresta.

— Você só está deixando as coisas mais divertidas. — Gritei, contei até dez mentalmente e deslizei atrás dele.

Estava escuro, mas eu não precisava de nenhuma luz para vê-lo. Ele brilhava como um farol em uma tempestade. Desviei das árvores com facilidade, e me aproximei dele.

Uma parede de gelo surgiu na minha frente, e quase trombei com ela. Dei a volta, mas perdi velocidade. Continuei na perseguição.

Um pouco mais à frente, ele parou e se virou na minha direção. Estranhei sua ação, mas ele não tinha como me vencer em um corpo a corpo, então continuei correndo. Comecei a salivar ao estar poucos metros dele, quando o chão se tornou escorregadio e eu cai abruptamente, mordendo meu lábio.

Fiquei de quatro, tentando entender o que havia acontecido, quando senti o frio em contato com as minhas mãos. O piso estava escorregadio. Encarei o guardião com ódio.

Havia um sorriso confiante estampado no seu rosto. Antes que eu pudesse reagir, ele me prendeu em um bloco de gelo.

Maldito.

Minha pele suada grudou nas paredes, e me mover um centímetro que fosse me lacerava. Presa como um animal, naquela posição humilhante. Ele vai pagar caro por isso!

O gelo foi derretendo aos poucos com o calor que eu emanava. Aumentei a potência, e logo terminei molhada, com frio, mas livre. E muita raiva.

Abri as asas e alcei voo. Sobrevoei a floresta em busca de um ponto brilhante na imensidão escura. Achei-o quase na saída da floresta. Pousei na sua frente.

— Sai daqui, seu demônio.

Levantei minha mão em sua direção, e ela se tornou laranja como brasas. O guardião lançou estacas de gelo em mim, mas desviei com agilidade, e devolvi chamas.

Ele tentou desviar, mas tropeçou e foi acertado. Gritou em agonia enquanto partes do seu corpo eram queimados. Frágil como era, assisti sua morte longa e dolorosa com prazer.

Assim que parou de se contorcer, agachei-me ao lado dessa figura disforme, consumida pelo fogo, aproximei meus lábios dos dele e dei-lhe um beijo.

O gosto da sua alma era delicioso, e preencheu meu corpo com um calor agradável.

Levantei, não mais sentindo o frio causado pela água gelada, bocejei preguiçosamente e andei em direção à cidade. Agora era hora de descansar um pouco antes de escolher a próxima caça.


Vinte e Uma PenasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora