Grace

Capítulo 4

— Está pronta? — Harry pergunta. Estou na porta de um avião, prestes a saltar de paraquedas, enquanto Harry segura meus braços para me manter em pé.

— Isso não parece nada seguro — observo.

— Vai ser ótimo — ele diz. — E eu vou estar bem atrás de você, prometo. E o que de pior que pode acontecer?

— Não sei, cair e então quebrar cada osso do meu corpo? — digo.

— Não vai quebrar nada. Você está segura. — Ele ri.

Eu abro um sorriso lentamente.

— Então? — Harry pergunta de novo.

— Bom, o que você está esperando?

Harry sorri, me dá um beijo na bochecha e um grande empurrão. Começo a cair, gritando como uma louca. Noto que estou caindo rápido demais, minha visão tornou-se um borrão.

— Harry? — grito.

— Uhuuu! — Ouço ele gritar, enquanto surge, disparando atrás de mim.

Ele parece estar prestes a me ultrapassar, mas, em vez disso, estende um braço, puxando a minha mão na sua direção e só a solta para abrir o paraquedas. Mas logo não sinto mais sua mão na minha e não o vejo em lugar algum. Estou no campo verde, olhando para todos os lados. Ele foi embora.

— Harry? Harry! — grito, desesperada. Então sinto seus braços me envolvendo.

— Calma, amor. Eu estou aqui. Estou sempre aqui.

Acordo com uma voz bem alta nos alto falantes do corredor dizendo que temos que nos preparar para o café da manhã porque em trinta minutos o instrutor irá chegar.

Faço o que tenho que fazer, lavo meu rosto, que está inchado de tanto chorar, amarro o cabelo em um rabo alto, visto uma calça preta e uma camiseta preta com um símbolo laranja estranho na lateral. Calço um coturno preto e saio para o corredor.

Quando abro a minha porta, a porta em frente também se abre, e Harry sai, com o cabelo escondido em um boné, vestindo roupa preta igual à que estou usando. Ele me dá um meio sorriso e respondo com outro. Andamos lado a lado no corredor e logo vemos todos na mesa prontos para o café da manhã.

Neste momento, o homem dos meus sonhos está pegando um prato e se direcionando para a fila do café da manhã, e minha tarefa hoje é ver o que ele come. Porque, se eu descobrir que ele tem as mesmas preferências do Harry dos sonhos - odeia azeitonas, ama pizza e tem uma queda por doces - vou saber se estou mesmo sonhando com uma pessoa real...

Fico atrás dele na fila. Bato os dedos em meu prato com nervosismo, sentindo alívio ao chegar aos pedaços de banana. Isso!

Uma vez, em um dos sonhos, reclamei para Harry que era ruim quando minha mãe colocava canela na banana para eu comer.

— Na verdade, eu gosto da banana normal — ele dizia, enquanto nos sentávamos no campo de tulipas na Holanda, fazendo um piquenique, assistindo a um pôr do sol maravilhoso. — Mas você já provou com açúcar mascavo? Aqui. — Ele colocou um pedaço na minha boca, sorrindo enquanto eu mastigava.

— Você já comeu isso com açúcar mascavo? — pergunto, apontando para os pedaços de banana e olhando para Harry com o canto dos meus olhos.

Por favor, diga que sim.

— Não — ele responde casualmente.

Mas ele nem sequer espera pela minha resposta e segue para a fila do café, enquanto meu coração afunda.