O outro homem que afastou Ian, disse alguma coisa que eu não ouvi. Minha mente estava fechada. Ele quase matou o homem, só porque ele o provocou. Ele...

─ Kate... - Ian gritou, mas a voz estava longe demais e tudo ficou preto. 

Eu acordei no sofá da minha casa, com um par de oceano olhando para mim.
─ Princesa? - ele me chamou baixinho, pegou minha mão e a beijou.
O que eu estava fazendo ali, afinal? Ah, merda. Desmaiei. Lembrei do que Ian fez e puxei minha mão da dele.
─ O que foi? - ele perguntou, confuso.
─ Por que você fez aquilo? - perguntei com a voz rouca.
─ Eu não sei. - ele falou me olhando apreensivo, e coçou a nuca. ─ Eu agi por impulso. - admitiu.
─ Você quase o matou. - falei e estremeci, ao lembrar a cena.
─ Quase. - ele falou. Abaixou a cabeça e passou as mãos suadas pelo cabelo, bagunçando.

Ele estava terrivelmente lindo. Mas eu não conseguia tirar a cena dele esmurrando o homem, parecia ridículo eu estar orando por uma pessoa como ele, totalmente sem limites, que agia por impulso e que mal conhecia Deus.

É claro que ele não conhecia Deus, ele não teria feito aquilo se conhecesse! Eu estava com muita raiva dele, mas em apenas pensar em ficar longe dele, meu coração doía como se fosse quebrar em pedacinhos.

Eu só percebi que estava chorando quando ele me puxou para um abraço. Eu queria resistir, queria mostrar que estava com raiva pelo que ele tinha feito, mas não consegui.

─ Tá tudo bem agora. - ele falou baixinho. Estar nos braços dele era seguro e reconfortante, mesmo depois do que ele fez. Ele segurou meu queixo, fazendo-me olhar para ele.  ─ Eu não tenho sangue de barata, e estou tentando melhorar. - disse e enxugou uma lágrima que caiu. Aquilo não explicaria bater no homem daquele jeito.

Eu sai do seu abraço e me levantei, fui até a porta e a abri. Eu não teria coragem de expulsá-lo com palavras e muito menos de ignorar o que ele fez.

Ele se levantou e ficou no meio da porta, me encarando. Aquele olhar intenso, que fazia meu coração saltitar, agora estava fazendo ele doer. Estava sentindo meus olhos arderem, prestes a derramar um mar de lágrimas. Eu teria que fazer ele sair dali antes que eu não tivesse mais coragem, e me entregasse a dor. 

─ Vá embora Ian. - falei com a voz embargada. Eu não queria ele ali, não depois daquilo, queria apenas poder chorar em paz. Ele passou as mãos pelos cabelos e saiu.

Eu fechei a porta atrás dele e escorreguei até o chão, sentindo meu coração apertado e doído, enquanto me derramava em lágrimas. 

Enxuguei as lágrimas com o pulso e corri para o banheiro.
A água quente fez meu corpo relaxar, mas não meu coração. Eu ainda podia sentir a água salgada em minha boca.

Por que ele tinha feito aquilo?

Eu tinha tantas perguntas, e nenhuma resposta.
Obriguei-me a sair da água, e parar o choro. Esperei um pouco mais até a vermelhidão dos meus olhos saírem.

Fui para meu closet, coloquei uma roupa bem leve e cai na cama. Já já estava na hora de ir para a igreja.

Vic entrou no quarto eufórica, cantando igual uma louca, eu gargalhei.

─ Onde você estava?
─ Eu que pergunto. - falei ainda sorrindo.
─ Na casa dos seus avós, fui com a sua mãe. Você tem a melhor avó do mundo, sério. - ela falou e eu ri de novo, eu entendia perfeitamente bem o que ela estava falando. ─ Seu avô é o máximo, eu quero ter um marido igual a ele, carinhoso, atencioso, calmo. - falou suspirando. ─ Mas acho que ele não gosta de Ian, porque quando sua avó perguntou por ele, seu avô ficou carrancudo. Sua mãe e avó começou a rir, mas eu não entendi nada. - ela falou pensativa. Eu teria gargalhado e chamado ela de "loira" se não tivesse falado o nome de Ian, trazendo a tona aqueles sentimentos.
─ Ele não gosta de nenhum homem que se aproxima das mulheres da sua vida. - falei e desviei o olhar.
─ Que cara é essa? - perguntou e sentou ao meu lado na cama. Eu não queria falar sobre isso, mas ela não me deixaria em paz se não falasse.

No Tempo de DeusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora