6: ENFRENTANDO TURBULÊNCIAS

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"Preferia uma dor de dente.

Tropeçar e torcer o pé.
Um soco na boca do estômago.
Um tiro doeria menos."

Pelejava para alcançar o livro, que estava a duas prateleiras mais altas do que conseguia chegar, mesmo sobre as pontas dos pés.

Depois do teste surpresa de Cálculo, os alunos, de alguma forma bem suspeita, também descobriram que Kennedy aplicaria um teste oral de Física em sua próxima aula. Acertaram uma vez, poderia dar certo novamente.

- Sabia que existe uma escada que te ajuda a alcançar as prateleiras mais altas?

A voz grave se alastrou pelo ambiente e entranhou-se dentro dela. O susto foi tão grande que tornou impossível disfarçar seu quase tombo.

- Há quanto tempo está aí? - Encostou-se à estante de livros, ficando então de frente para o rapaz, que tinha alguma coisa parecida com um sorriso nos lábios.

Não o viu chegar e tampouco ouviu. Eram tantos pensamentos e esforços para alcançar o livro na prateleira, que talvez tenha se distanciado da realidade.

- Não faz muito tempo. - Cruzou os braços. - Tem uma dessas escadas duas estantes atrás de você.

- Ou... Você pode mostrar sua gentileza e pegar o livro pra mim. É para isso que serve. Ela e sua altura - Tentou não sorrir, mas diante da reação dele foi inevitável.

Assim que Nicholas se aproximou o ar pareceu perder leveza, sua presença era intimidadora por diversos motivos, e dentre eles, um era responsável por aquela repentina aceleração de seus batimentos ou a respiração entrecortada.

Estava exatamente de frente para Shanon, a poucos centimetros de distância. O calor emitido pelo contato chegava a ser incômodo. E ele parecia fazer aquilo de propósito...

- Fisica Eletrostática... - Ele leu. - Precisando de companhia para os estudos?

Finalmente olhou para ele, naquele ângulo desconfortável, que precisava inclinar a sua cabeça para trás.

- Mesmo que eu precisasse... Não seria você. - Só queria pegar o livro e sair dali o mais rápido possível. Tudo nele indicava grande perigo. No início parecia uma boa ideia encará-lo e perguntá-lo o porquê daquele olhar no auditório, porém essa ideia perdeu razão quando acordou naquela manhã e recebeu uma mensagem de Benjamin: Nicholas era primo de Dulce. Sinônimo de "fique o mais longe possível".

- Por que? - Não era impressão, Nicholas estava diminuindo o espaço que os mantinham distantes.

- Porque sempre faço isso sozinha. - Tocou no livro para tomar de sua mão, mas ele segurava firme o objeto. Qual era a intenção dele com isso tudo? Shanon tinha suspeitas, e essas mesmas suspeitas a desesperavam.

- Será que é por isso mesmo? - O tom da voz diminuiu, e suas feições perderam a descontração. Nicholas queria intimidá-la e conseguia com sucesso.

- Além disso... - Não conseguia parar de olhar para ele, nem se quisesse o faria. Possuíam um magnetismo tentador. Desafiavam-se. Apostavam alto em quem perderia primeiro. As palavras ditas jamais chegariam perto da batalha que travavam com olhares. - Pelo seu Discurso de Apresentação não me pareceu ser um bom... parceiro... de estudos.

OBSCURO: Entre amor e morteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora