3: MAREEN, A ENTIDADE DA COMPAIXÃO

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"Antes de acusar verifique se sua moral é exemplar. Antes de acusar certifique-se de suas provas"

Sobre as nuvens e além do céu visível pelos mortais erguia-se um grande prédio minuciosamente construído em forma de um quadrado. Em centenas de janelas em todos os lados luzes de vela tremeluziam sombreando irregularmente silhuetas supostamente humanas.

Dentro do salão, um ser olhava através do grande círculo, o auxiliar fazer seu trabalho. Longos cabelos negros presos em uma trança caíam sedosos pelas suas costas. A criatura trajava o negro, espelho fiel de sua alma deturpada. Com os braços cruzados sobre o peito, ele sorria maliciosamente.

Atrás da imagem levemente encurvada uma porta foi aberta e o estrondo ecoou pelo grande salão.

- Órion! - chamou uma voz feminina e potente. Estava enfurecida e seus olhos queimavam como chamas. - Tem noção do que fez dessa vez? - ela parou repentinamente e seu longo e esvoaçante vestido rodou.

- Não... digo: nada fora do usual. - sorriu o ser que tinha como nome Órion. Cargo celestial: Juiz da morte. - Do que vai me acusar desta vez, entidade da compaixão? - Colocou seu dedo esquelético sobre a clavícula da mulher, e a pele sob a sua ferveu.

- Eu não perdoarei jamais seu ato! Passou por cima da minha função para realizar seu desejo perverso.

- Foi um jovenzinho. Bem que mereceu. Era mesquinho, hipócrita, desobediente e herege.
- Não importa! - vociferou. - Até quando você vai sentenciar a morte de pessoas aparentemente sem motivo?

- Sabes muito bem que não depende somente de mim essas... sentenças. Além disso, lhe foi dado duas chances para se redimir, mas ele insistiu no erro. Duas vezes em que você foi muito útil em seu livramento, mas ele esolheu um caminho bem triste para trilhar.

- Fico só imaginando os absurdos que disse ao Líder para que ele permitisse a morte desse jovem sem a minha permissão. E claro, para completar o faz da forna mais podre que poderia realizar. Aposto que escondeu seu feito do líder.

- Prove o que diz e eu te darei razão.

Fitaram-se por um longo tempo, como se seus olhares travassem uma guerra bélica e destruidora. Mareen só precisava de uma prova e Órion teria seu lugar cativo na escuridão eterna. Mas onde encontraria tal prova? E por quanto tempo mais o Juiz se satisfaria com as mortes até que encontrasse a arma que o pararia?

- Órion, o Juiz da morte - disse uma voz doce vinda do alto. Era Crisma, a entidade do amor. Pairava perfeitamente acima das cabeças dos dois que discutiam. Voava, mas sem asas, simplesmente sua mente a erguia. E após um giro em seu próprio eixo ela pousou sobre o piso branco e preto do salão. Órion aplaudiu.

- Magnífico! Pouso perfeito. Oh Crisma está ainda mais bela do que a última vez que a vi - ele tocou em sua mão e a beijou.

- Mareen - ela tocou no ombro da outra mulher que se controlava para não explodir e despejar a repulsa que sentia pelo ser ao seu lado.

- Chegou em ótima hora, minha querida - ironizou o Juiz.

- O que está acontecendo? Estive com alguns membros do Conselho toda essa tarde. O que perdi? - olhou para Órion, para Mareen e depois para Órion novamente. Suas feições pediam explicações. De todas as entidades poderosas do Lumina - o prédio quadrado onde se reuniam -, Crisma era a mais influente. Sua aparência era de uma mulher de quarenta anos embora sua idade não pudesse ser medida já que vivia há séculos.

- Órion e seu fetiche novamente. Por mais que eu saiba que as pessoas devam morrer, não é justo que ele o faça de forma tão perversa... E ainda assiste com prazer... Eu não aceito. E não aceito que o Líder ou o Grande não façam absolutamente nada à respeito.

OBSCURO: Entre amor e morteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora