CAPÍTULO 05

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ARTHUR

Estive prestes a beijar Cristiane. Foi por um triz e aí tudo estaria perdido. Tudo.

Quando me perguntaram sobre o motivo pelo qual voltei, preferi omitir Thalita. Não era um assunto que eu queria conversar e ter Cristiane tão perto depois de todos esses anos me fazia bem.

Meu celular tem várias chamadas perdidas, tanto da minha noiva quanto do meu pai. Ele ligou até para a casa da minha avó e não pense que foi para saber como estávamos e sim para saber o que fui fazer em Ilha grande. Sim ele não sabia. Deixei apenas um bilhete, não queria ficar dando satisfação da minha vida. Eu já fazia demais.

Não sei como meu pai se transformou na pessoa que é hoje. Ele sempre foi bom, atencioso, amoroso, compreensivo. Meu pai de dez anos atrás jamais me faria casar com alguém que eu não quisesse.

Existe um ditado que diz "dê poder a um homem e descobrirás que ele realmente é." E foi o poder que o transformou em quem ele é hoje. O dinheiro, a ganância, mudam as pessoas, fazem seu pior lado surgir de uma forma monstruosa.

A noite mais uma vez estava linda. A lua cheia brilhava no ponto mais alto do céu e as estrelas minúsculas que mais pareciam pontinhos brilhantes, criavam um clima perfeito para uma noite a dois, porém eu estava sozinho. Fico imaginando como estaria o Saco do Céu, uma praia belíssima onde as estrelas refletem nas águas calmas que mais parecem um lago. Era difícil uma noite nublada por aqui. O vento que vem do oceano era um refresco para meu corpo tenso e quente deitado na rede.

No Saco do Céu havia uma casinha, quase caindo aos pedaços. Eu e Cris dizíamos que compraríamos a casa para morarmos depois que nos casássemos. Como éramos inocentes. Nem sequer imaginávamos que um dia a gente iria se separar. Será que essa casa ainda existe?

- Arthur. – Ouço vovó me chamar. – Não vem jantar?

- Claro. Acha que perderia comidinha da minha vozinha? Nunca!

- Então venha filho. – Dei um abraço na minha vó e beijei sua bochecha enrugada.

Nos sentamos a mesa e eu já ia começar a me servir quando vovô deu um tapa em minha mão, me fazendo lembrar de que em todas as refeições dessa casa, ele fazia uma oração de agradecimento. Ele e vó esticaram as mãos para mim e eu as peguei.

- Deus, - vovô começou. – Quero te agradecer por essa noite e por esse alimento que nos destes. Quero também agradecer pela visita do meu neto Arthur, que o Senhor possa iluminar todos os seus passos e dar direção para as decisões que ele precisa tomar. Abençoa o nosso neto, Senhor. Amém. – Eu e vovó seguimos seu amém e soltamos as mãos. – Agora sim, senhor esfomeado, pode comer.

Fiz meu prato em silêncio, absorvendo as palavras de meu avô. Eu realmente precisava tomar decisões. Me casar com Thalita e deixar meu pai feliz ou jogar tudo para o alto e sofrer as consequências. Quer dizer, tudo terá uma consequência. Se eu me casar a consequência será minha infelicidade, se não me casar terei meu pai me perturbando e talvez até me deserdando. Não duvido de que isso aconteça.

Nossa refeição foi no mais absoluto silencio. Acho que todos estávamos absorvendo a oração do meu avô. Quando terminamos, fui ajudar a vovó com a louça. Eu lavava e ela secava e vovô guardava.

- Vô, que horas vai sair amanhã? Quero ir pescar com o senhor.

- Vou sair às quatro.

- Tudo bem, vou com o senhor, posso?

- Claro Arthur, será um prazer. Mas me conte, como foi seu dia hoje? Está com a pele bastante bronzeada.

- Eu, Clicia, André e Cris fomos à Lagoa Azul matar a saudade de quando fugíamos para lá com o senhor. – Meu avô sorriu.

Recanto do Amor - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now