Capítulo 0,5. A Carta

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North Wessex, Inglaterra - 1902.


Por detrás da porta, pude ouvir as cruéis palavras do barão deLort.

-Nós já aceitamos outra proposta. -Essas palavras provavelmente foram a última gota para os meus pais.

Ha três anos eu era como qualquer outra garota. Engraçado como a vida tem um jeito próprio de te derrubar, só para ver como você vai se levantar depois. Eu era bonita, eu era desejada, eu tinha um dote bem baixo.

Hoje, meus pais estão praticamente entregando a casa para nos humilhar e apenas talvez atrair um marido que sequer terei chance de opinar ou conhecer até ser tarde demais. Ainda sou bonita, mas ninguém quer uma mulher arruinada.

Com meus dezenove, já deveria estar casada. Meus irmãos mais velhos, Logan de vinte e dois anos e Janessa de vinte anos já estão casados. Janessa já está grávida do segundo filho com menos de cinco anos de casada com o filho do duque de Villiers e a esposa de Logan, a filha do conde de Wellengbly acaba de ter o segundo par de gêmeos em cinco anos de casamento.

Por ser a mais nova, não herdarei nada e acima de tudo, arruinada, eu já não tinha mais esperanças de um bom noivado. Agora, até mesmo meus pais desistiram.

Sai de detrás da porta quando percebi que já estavam se despedindo e corri para a escadaria da casa, rumo ao andar de cima . De lá, observei enquanto meus pais cumprimentavam o barão deLort. Sequer havia pedido para me ver, quem sabe se tivesse estado lá, o resultado seria outro. Um pensamento tolo, eu sabia.

Minha mãe ergueu o rosto e sorriu tristemente para mim lá de fora enquanto meu pai acompanhava o visitante. Duas empregadas caminhavam pelo corredor em minha direção. Estavam rindo mas se calaram ao ver que eu estava ali.

-O que é tão engraçado? -Perguntei incisiva e elas abaixaram o olhar.

-Nada, senhorita. -Uma respondeu.

-Conversa da criadagem, senhorita. -A outra disse.

-Que tipo de conversa? -Cruzei os braços. -Conte-me.

-O leiteiro, senhorita, tropeçou ao cair da carruagem mais cedo. -A mais velha respondeu enquanto a outra corava.

-Ele se machucou? -Perguntei.

-Apenas sujou o uniforme, senhorita. -Eu não acreditei que estivessem rindo do leiteiro, mas as deixei passar.

Há anos sei o que o que falam de mim entre os criados, cochichando sobre quando meus pais me mandariam para um convento, se Logan me abrigaria por piedade ou se eu chocaria a todos indo morar sozinha. Cochichavam sobre o aumento absurdo do valor do meu dote; sobre como eu havia destruído meu futuro. Imersa em pensamentos, só percebi a comoção quando minha mãe gritou.

-NÃO! -Aquele grito me congelou por dentro. Não era de minha mãe gritar daquela forma. Olhei para baixo e a vi aos prantos no chão com meu pai a segurando. -Não! -Ela gritou novamente e desci correndo as escadas.

-Mamãe, papai, o que houve? -Perguntei exasperada e meu pai me olhou, haviam lágrimas em seus olhos, mas ele era um nobre, jamais se permitiria chorar na frente de outras pessoas, ele apenas consolava minha mãe.

-É Janessa. -Ele disse, mas não se atreveu a dizer mais nada, sua voz quebrando ao dizer o nome de minha irmã. Meu coração apertou.

-O que há com Jane? -Perguntei e minha mãe ergueu o olhar, soluçando e em meio a palavras grogues pelo choro, consegui entender a mensagem.

-O bebê veio antes da hora. -Ela dissera, a voz apertada, como se precisasse de todo o fôlego para falar. Jane estava grávida, não era segredo, sua barriga de oito meses era alvo de comentários maldosos por ser demasiado pequena para o tempo. -Ela não resistiu.

-Não. -Falei ecoando os gritos de minha mãe um pouco antes. -Não, ela está bem, Jane é forte. -Eu falei. -Papai.

-Aconteceu ontem pela manhã. -Ele disse. -Sandor... O duque nos enviou esta carta, acaba de chegar. -Ele me estendeu o papel amarelado e duro e o arranquei de suas mãos. Tinha de ser mentira.

"Caro Barão Allistair,

Com muito pesar informo que minha nora, sua filha, Janessa de Villiers, faleceu em decorrência de um parto prematuro às cinco e treze da manhã desta terça-feira. O bebê passa bem, porém trata-se de outra menina.

Temos um acordo e respeitarei nossa aliança enquanto conveniente a ambos, no entanto, a quantia que me deve ainda é alta. Proponho mantermos o falecimento em segredo e assim, solicito a filha mais nova, Lídia Allistair, para substituir a irmã como esposa de meu filho, Adrian de Villiers, e nos dê um herdeiro, quando o devido tempo de luto tiver se passado.

Lembre-se de que ninguém deve saber deste acordo, ou ambas nossas famílias caíram abaixo da linha da sarjeta.

Atenciosamente,

Duque de Woodenmart, Sandor de Villiers."

Oh, meu deus.

Arruinada ( #1 Duologia Arruinada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora