De Lua, com amor

Where Did We Go Wrong

Só olhei para Dylan uma vez, mas mesmo assim consigo sentir os olhos dele em mim. Ao invés de encará-lo me concentro na voz e na expressão de Mantello que está fazendo as correções rotineiras. Sempre antes de uma apresentação ele reunia o elenco inteiro para apontar alguma coisa que ele acha que precisa de mais atenção. Dessa vez, além de fazer isso, ele aproveitou o momento para falar um pouco da recepção da crítica especializada. Nem dá tempo das pessoas ficarem preocupadas, porque ele já vai dizendo como a grande maioria são positivas.

Enquanto os meus colegas respiram aliviados e comentam um com os outros eu só escuto. Sei que comigo o buraco é mais fundo.

Claro que a primeira coisa que todo mundo ali havia feito era procurar nos jornais, internet e afins o que os críticos de teatro tinham falado a respeito da peça. Eu também estava entre essas pessoas, apesar de que minha vontade de ler dividia espaço com o medo de ler algo que envolvesse o Liam e eu acabei deixando pra lá.

Mas, não tinha como deixar para lá por muito tempo e quando Mantello me chama para conversar em separado depois de terminar de falar com o grupo, eu já sei qual é o assunto.

— Lua, Lua, Lua — ele repete meu nome como se fosse algum tipo de palavra mágica. — Parece que realmente escolher você foi uma decisão acertada. Eles gostam de você. — Mantello sorri pra mim e eu entendo que ele está se referindo aos críticos. — Acham que você é a luz da peça. Claro que um ou outro continua ligando você ao seu namorado... — Meus olhos caem para o assoalho em um movimento involuntário por que ele está falando de Liam, claro. — Mas você está conseguindo.

Fico em silêncio sem saber o que falar e Mantello me observa. Quero parecer forte e indiferente, até porque segundo ele a maioria gostou de mim e aquilo é bom, certo? Não é a minha família ou meus amigos que sempre vão amar tudo o que eu faço. São profissionais que não têm pena nenhuma de acabar com uma pessoa em um texto de poucas linhas. Mas, eles gostaram de mim.

— Qualquer ramo artístico não é fácil — ele volta a falar, chamando a minha atenção. — Você vai ter que lidar com coisas ruins o tempo todo, mas o pior não é isso. — Vejo o olhar dele mudar para algo mais sério. — Vai ter que tomar decisões difíceis e deixar algumas coisas que você considera importante para trás.

Concordo ainda calada, mas sem saber ao certo porque ele tinha dito aquilo pra mim. De qualquer forma faz sentido e eu já imaginava que coisas do tipo aconteciam, mas não consigo ver acontecendo comigo, pelo menos não por agora. Minha vida é muito simples profissionalmente falando. Mas, ele continua me olhando por mais um tempo como se pudesse ver em mim algo que eu não tenha notado.

***

Estou no corredor do CdA ao lado de Juan, praticamente me arrastando para a próxima aula, quando o meu celular apita duas vezes para me avisar que mensagens novas foram recebidas. Pego o aparelho tendo a certeza que era um dos meus pais que agora deram pra verificar meu estado a cada uma hora, provavelmente devido ao estado que eu estava quando eles foram embora da Inglaterra, mas para minha surpresa as mensagens são da última pessoa que eu poderia ter imaginado. Na realidade, eu nunca imaginaria porque achei que ele estava brincando.

"VOCÊ FALOU COM ELE?"

"É o Zayn caso você não tenha percebido."

Fico tão chocada que paro de andar, fazendo Juan me lançar um olhar confuso.

"Eu falei que não vou."

Eu digito rápido assim que me recupero do choque.

"Porra, você é teimosa mesmo, né?"