Prólogo

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A penumbra dava ao local um ar mais sensual em conjunto com as cortinas vermelhas, as mesas de madeira envernizadas e os bancos estofados. Em cada porta-copo a ilustração de uma posição, em cada vaso de flor uma máscara deslumbrante, e em cada flor um significado de poder.

Milena tomou mais um gole de sua bebida de nome exótico que já havia virado à favorita. Não era mais preciso sentar-se próximo ao pequeno bar e pedir pelo nome, assim que viam-na entrar, simplesmente traziam até sua mesa, com um sorriso malicioso e uma olhada de segunda intenção.

Lá dentro ela era Butterfly. A linda e perigosa Butterfly! Os olhos enviesados e os lábios pintados sempre de um tom forte de vermelho, além do cigarro manchado faziam dela quase o sex symbol. Sua delicadeza e os dizeres de como tratava aqueles que tinham o prazer de passar a noite consigo no quarto 26 eram adorados.

Lá dentro ninguém sabe o nome de ninguém, e ninguém vê o rosto de ninguém. Apenas os homens que servem o local andam de rosto livre, as mulheres usam máscaras e codinomes. Butterfly usava uma máscara preta de adornos em vermelho e algumas plumas do lado direito. A máscara cobria um pouco de sua bochecha marcada, e isso fazia com que cada vez que sorrisse, aparenta-se maturidade, sexualidade e perfeição.

Milena. Butterfly. A madame perfeita que eles precisavam, mas poucos podiam ter.

Sempre sentada sozinha enquanto as outras despojavam os rapazes, gracejando e acariciando partes intimas do corpo sem o menor pudor, libertando a imaginação dentro dos quartos de luz baixa e cortinas grossas. As mãos deles penetrando os vestidos e risinhos contidos sendo descaradamente soltos para eriçar os pelos da nuca.

Milena ria internamente, por que já foi uma dessas moças que a cada dia queria provar um rapaz diferente, a cada dia queria criar uma nova fantasia. Mas há alguns dias havia esgotado as surpresas que podia ter dos mesmos rapazes de sempre. Talvez tivesse um diferencial se chamasse o barmen para o quarto 26. Talvez as mãos dele soubessem fazer um trabalho melhor do que apenas agitar copos e girar garrafas.

Então passou despercebidamente o polegar sobre os lábios, imaginando, borrando o dedo e deixando-se divagar. As mãos ágeis tocando-a, os dedos arrastando-se sobre sua intimidade enquanto a outra mão segurava-a pela nuca, aqueles lábios finos pelo vale de seus seios, enquanto seus próprios pés contorciam-se no lençol e segurava o gemido para não dá-lo todo o prazer de ter conseguido despojá-la totalmente. Faria ele querer uma segunda vez, querer tocá-la de novo e de novo.

Foi em meio a essa divagação que os olhos de Butterfly quase perderam a visão de um rapaz vindo pelo corredor. Ele estava com a cabeça baixa, fechando a braguilha da calça. Butterfly sentiu nele um ar frio, de arrogância, uma áurea de quem sempre sabe o que fazer. Notou os braços fortes e com algumas tatuagens, a camisa estava meio aberta, mas pela curvatura das costas dele ela não conseguia ver direito. Ele tinha cabelos castanhos levemente cacheados, estavam jogados para trás e um tanto arrastados para o lado. Quando ele levantou o olhar e a fitou, ela viu os olhos maduros e verdes como esmeraldas. Pareciam cintilar diretamente para ela. Ele vestia preto, a camisa de seda agora ainda mais aberta.

O rapaz levou as mãos até os botões, desfazendo-os apenas para fechar corretamente, foi quando Butterfly quase suspirou, excitada, tentou conter-se com a visão, mas não conseguiu se impedir de morder o lábio inferior, os olhos vidrados na barriga malhada, nos gomos que ele tinha ali. Ela sentiu-se totalmente desinibida, tendo os pensamentos que tinha quando começara a frequentar aquele local.

Ele era a personificação da diversão que ela estava esperando. Tinha um quê de quem precisa ser conquistado, e, uh, por aquela tatuagem de borboleta que ele tinha bem abaixo do peitoral, sabia que valia a pena.

Enquanto ainda encaravam-se reciprocamente, Milena notou a loura que vinha atrás, e como ela passou a mão de unhas bem pintadas em licor pelo trapézio dele, escorregando pela clavícula e adentrando a camisa de seda. Olhou séria, como se avaliasse algo muito importante, até ver a loura deixar um beijo molhado no pescoço do rapaz e se distanciar. Aquilo só avivou ainda mais o desejo dentro de Butterfly, o fogo de tirá-lo de quem quer que fosse, de tê-lo totalmente seu.

Milena iria fazer com que ele se entregasse ao seu charme, que ele adorasse-a como todos os outros, com a submisividade que somente a redenção completa poderia trazer.

Surrender | H.S fanfictionWhere stories live. Discover now