Sem título mesmo

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É madrugada. Você dormia tranqüilamente. Sua casa está debaixo do cobertor do sono. Tudo escuro. A cama nunca pareceu tão confortável, não é? Nunca esteve tão confortável. Você acordou há alguns minutos, o corpo ainda está embriagado pelo sono. Mas sua mente não.

Num instante, veio aquela inspiração. Aquela ideia. Aquilo que iria se encaixar perfeitamente em tudo o que você vinha escrevendo. Você salta da cama. Seu corpo já está a mil por hora procurando, no escuro, insistentemente uma caneta, um pedaço de papel, o celular, papel higiênico, qualquer coisa a qual você possa escrever para não perder aquela pérola.

Você liga a luz sem se importar com nada, absolutamente nada. Suas pupilas contraem-se e por alguns segundos, você só vê aquele brilho alvo. Enquanto em sua mente, você já repetiu trezentas mil vezes todo aquele parágrafo. Frase por frase. Parece até que já decorou. No entanto, você não acha nada para escrever. Nada! Seu cérebro xinga ou esbraveja a primeira palavra que vem à sua mente.

Você vai para o computador. Liga-o apressadamente, deixando cair um monte de coisa.

- Nada importa, só não posso perder isso. Vamos, vamos, computador!

Ele nunca pareceu tão lento, certo? Enquanto isso, você já trocou várias palavras de lugar para dar aquele sentido legal ou usar tal sonoridade. Você é capaz de enxergar as letras de formando, as palavras se encaixando. O computador ligou. Usuário. Senha. Word. Uffa.

As palavras vão sendo vomitadas pela sua mente e atravessam magicamente da sua cabeça para a tela. Não era a melhor hora para a inspiração vir. Não mesmo. Os dedos são ágeis. Ponto final. Parágrafo. Espaçamento. Negrito aqui, itálico lá. Uma citação, uma interrogação.

- Epa, um errinho ortográfico, deixa deixa, só tenho que terminar logo antes que eu esqueça - sim, você fala com sua mente - falta só mais um...

Alguém abre a porta do quarto.

- Que você faz acordada a essa hora?

- Tô... escrevendo.

- Ah. Faz menos barulho por favor.

- Tudo bem. Desculpa.

- Boa noite.

- Boa.

Você olha para a tela do computador. No que estava pensando, mesmo? Enfim, não consegue lembrar. Lê, relê o que escreveu. Não lembra. Revisa mil vezes, conserta aqui e ali. Não lembra. Fecha os olhos. Não lembra. Tenta pensar no que estava pensando. Inútil. Você até tenta emendar de um jeito novo. Não dá, não fica tão bom quanto antes.

Por fim, depois de uma hora tentando lembrar e não lembrando, você volta para a cama. Ela já não está mais tão confortável assim. E você tenta dormir ou lembrar. Ou sonhar com aquilo.

- Droga. 

Ordinary CofféOnde as histórias ganham vida. Descobre agora