3: MAREEN, A ENTIDADE DA COMPAIXÃO

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Crisma se mostrou assustada após a declaração de Mareen, repreendendo-a com uma ordem de silêncio.

- Você está deixando se envolver pela raiva, querida. Sabemos bem o porquê... Já deveria ter se acostumado - disse calmamente, mas sua voz serena não acalmou os ânimos da Compaixão, que fervia.

- Quanto à perversidade de Órion; ele sabe que será castigado. Em algum momento. Por alguém... - o caráter sombrio revestiu a entidade, que olhava ineterruptamente para Órion. - Mas seu trabalho era salvar os humanos da morte. - Continuou Crisma. - Onde estava que não o pode fazer?

- Eu não... Órion se equivocou ao concretizar seu plano sem que eu me envolvesse... Poderia ter... N-Não importa onde eu estava. Ele está errado. Não vê isso, Crisma? - O aguardo de Crisma pela resposta permaneceu invicto. - Ele vem matando pessoas por sua própria convicção. Contra as regras do meu Código particular. Teríamos que revisar as leis para sabermos que o que ele faz é errado? Vou convocar as outras entidades para um Conselho. - Começou a andar de volta a porta que abrira havia alguns minutos. - Iremos julgar a conduta errônea deste sacerdote sem escrúpulos. - Abriu a porta. Mas com um gesto da mão e um comando telepático Crisma a fechou novamente.

- Volte aqui Mareen! - seu tom de voz estava alterado, mas não chegava à fúria. - Não é você quem decide isso.

- Uhh... - Órion suspirou surpreso. Não se lembrava da última vez que viu a entidade mais tranquila se exceder daquela forma.

- Se Órion está errado, recorreremos ao Conselho. Mas antes disso, terá de provar a sua má conduta. Não pode simplesmente chegar à frente do Conselho e denunciá-lo sem provas. Perderá seu tempo.

- Está acobertando este homem, Crisma? - Crisma se manteve estática. - Pois eu vou encontrar estas provas. Eu vou provar para todos o homem ruim que Órion é - abriu a porta e saiu bufando da grande sala. Crisma não demorou a seguí-la, deixando um Juiz sozinho e irradiando vitória por todos os poros de seu corpo personificado. Órion puxou a manga de sua túnica e ficou admirando o grande anel que tinha em seu dedo maior.

- Quanto está o placar?

E a risada maléfica ecoou por todo o recinto, alcançando as mais puras entranhas e estremecendo a todos por inteiro.

‡‡‡‡

― MAREEN! - chamou Crisma, tentando parar a Compaixão que ao invés de andar flutuava ao atravessar o salão extenso e meio escuro que antecedia a sala do Juiz. - Espere, por favor.

- Não tente mudar minhas ideias, Crisma. Você, mais que ninguém, me conhece e sabe que nada vai me fazer declinar - continuou a flutuar. - E agora, a ouvirei muito menos. Acoberta um homem que faz algo tão natural se tornar pervesidades para seu bel prazer... sendo assim você é cúmplice dele.

Não gostando do que ouvia Crisma a derrubou no chão com um singelo movimentar de dedos. Caminhou calmamente até Mareen, sempre com os olhos frios vidrados nela, ergueu a mão e se ofereceu para levantá-la. - Não estou a favor ou contra ele. Estou do lado da justiça. Não posso simplesmente acusá-lo de algum crime que não tenho certeza se ele fez. E se ele fez, sabemos que será julgado. Por mais que dure séculos...

- Então por séculos terei de me conformar com as formas de morte que Órion comanda? Ou por mais centenas de anos os humanos terão de sofrer pela ira de um Juiz inescrupuloso?

Não houve uma resposta imediata. Crisma era quem mais temia com o prolongamento das maldades do Juiz. Não havia nada mais doloroso para o amor do que uma distância infindável, como a morte.

- Isso não é sobre se conformar e sim perseverar. Infelizmente nossa política de acusações é deficiente e muito rica em confiança... O Líder acredita na honestidade de todos nós, inclusive a de Órion.

- Está me dizendo para fazer Samiel perder a confiança no Juiz?

- Não, Compaixão. Estou dizendo que você precisa induzir Samiel à uma revolução.

Mareen tinha poder para isso. Era muito próxima do Líder por causa de seu cargo. Tinha encontros constantes com o Líder. Tinha influência considerável sobre o juizo do anjo.

- E junto com isso, recolher provas, depoimentos, vestígios dos erros de Órion. - Seu sorriso e tom de confiança enfim deram paz aos nervos caóticos de Mareen. - E quanto à sua falta de hoje... - avistou o rosto da entidade enrusbecer - Não farei questão de saber o motivo dela. A perdôo.

Sem mais, o corpo da entidade do amor se elevou e no intervalo de um piscar de olhos, não estava mais lá. Evaporou silenciosamente, deixando no ar rastros de sua áurea pura e melancólica.

Durante sua conversa, Mareen não havia percebido a presença de Marcel, a Morte, escondido entre as trevas num canto afastado da sala. Suas feições exalavam a preocupação que sentia pela Compaixão. Aproximou-se dela e tocou seu rosto corado e abatido.

- Você não é o tipo de pessoa que eu gostaria de falar agora. Você quem faz o trabalho sujo. - Resmungou a entidade, afastando as mão gélidas da Morte.

- Nós temos nossos deveres, querida.

- Deveres... - divagou. - O Juiz deveria ser expulso da cúpula do Lumina. E você também. O Ocaso é o lugar perfeito para entidades podres como vocês.

- Fala isso por estar enraivada, Mareen. Sabe muito bem da importância que eu ou o Juiz temos sobre os humanos. - A Morte insistiu em tocar a pele da mulher, vencendo sua teimosia. Ficando tão próximo que podia sentir as curvas complexas de sua áurea. - Somos aqueles que castigam os merecedores. Somos aqueles que dão à vida um sentido. Acha mesmo que humanos dariam tanto valor a vida se não houvesse a morte?

- Precisa ser de um modo tão doentio? - Não esperou pela resposta da Morte. Só queria voltar aos seus aposentos, organizar tudo o que fosse preciso para acusar Órion. - Preciso ir... está na hora de escrever meu relatório diário.

Marcel segurou seu braço, suspendendo a mão carinhosamente até seu rosto. Levantou o queixo gentilmente com os dois dedos e olhou profundamente nos olhos avermelhados de Mareen, dando-lhe um beijo curto e tenro nos lábios.

- Tome cuidado, Mareen. Não é apenas você quem enxerga as maldades de Órion, assim como não é ilusão de nossas cabeças o que ele faz. É real e se quer mesmo continuar com isso, tome todo o cuidado.

Um calafrio correu seu corpo e como um aperto violento de mão, seu coração diminuiu dentro do peito. Era difícil segurar o temor diante de Órion. O histórico do Juiz merecia cada estímulo à partícula do medo posta em sua personificação.

- Não irei sozinha para essa batalha.

Marcel mostrou um sorriso que era metade preocupação e metade esperança. Mareen reprimiu a vontade de avançar e ser coberta pelos braços da Morte. Era tudo o que queria, ser abraçada pelo lado que amava em Marcel, aquele que não se afetava pelo seu cargo que julgava infeliz. Mas não podiam. Era sua alma e vida que estava em jogo... E a dele também.

Marcel não disse mais nada. Deixou que ela fosse à sala do Conselho para escrever o relatório diário. A sensibilidade da Compaixão alertava para uma mudança dos sentimentos da Morte. Sentiu que algo estava mudando, mas a confusão dos acontecimentos não a permitia decidir se ficava feliz ou se entregava de vez à aflição...

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Bjs da Morg ;*

OBSCURO: Entre amor e morteWhere stories live. Discover now