Homem Dos Sonhos

P.O.V Ellie

A pior parte do meu dia não foi ter tido um sonho ruim com um homem estranho, foi ter perdido a hora para ir ao trabalho. Eu acordei cerca das 10:24 naquela manhã, já estava quase três horas atrasada. Acabei decidindo não ir mais, liguei para o meu chefe e inventei que estava passando mal, mas que iria ao médico e amanhã estaria indo trabalhar novamente. Me senti mal por ter que mentir, mas por sorte ele acreditou, provavelmente por causa da minha voz de sono.

Ainda era cedo, o relógio marcava 10:42, já fazia um bom tempo que eu não dormia bem, pensei bem e resolvi voltar a dormir. Deitei na cama, virava meu corpo de um lado pro outro, até que quando bocejei e fechei os olhos tudo ficou preto.

Eu estava em um parque, sentada em algum banco, tomando sorvete rodeada por algumas amigas, umas rindo, ouras sorrindo ou conversando. Avistei do outro lado da praça a figura de um homem, ele estava ali parado, simplesmente sem se mexer, olhando em nossa direção. Fiquei curiosa, pedi licença as meninas, entreguei o sorvete para alguma delas, peguei minha bolsa e comecei a andar na direção do rapaz. Conforme eu me aproximava a imagem dele ia ficando mais nítida. Seus olhos verdes já eram perceptíveis, o cabelo loiro escuro, o seu porte físico nem muito forte nem muito magro. Vários passos depois eu me arrependi de ter desejado me aproximar. Pensei em correr, mas ele foi mais rápido, e em poucos segundos estava frente a frente comigo. Várias pessoas estavam ao nosso redor, será possível que nenhuma delas tenha percebido que um homem tinha acabado de se teletransportar naquele lugar? Olhei ao redor mas todos pareciam não se importar, como se não tivessem visto ou não estivessem nem aí, talvez se teletransportar seja uma coisa normal por aqui.

Dei alguns passos pra trás na intenção de voltar e ir embora, mas ele segurou o meu braço e me pediu para não ter medo.

- Ei, não vou te machucar. -O homem disse com a maior calma do mundo. Franzi a testa. - Quer dar uma volta comigo? Podemos ir visitar o lago se você quiser, Ellie.

- Não é todo dia que um homem que desaparece e se teletransporta pode me chamar pra dar uma volta no parque, não é mesmo? - Ele sorriu como resposta, virou as costas e saiu andando.

Apressei o passo para conseguir o alcançar, que tipo de rapaz te chama para ir a algum lugar e te deixa pra trás?
Eu já caminhava ao lado dele, estávamos quase chegando ao lago, já era praticamente a terceira vez que eu o via em dois dias, e não sabia nem sequer o seu nome, quantos anos tinha, como conseguia fazer aquelas loucuras.

Chegamos ao lago e no sentamos há alguns metros dele, na grama inclinada que dava acesso ao mesmo. Ficamos em silêncio por alguns minutos, mas eu queria tirar minhas dúvidas, não queria mais me assustar toda hora que o visse.

- Me conte sobre você. - Perguntei o encarando, ele apreciava o lago em nossa frente.

- O quê? - Ele respondeu voltando o olhar para mim.

-Me conte sobre você. - Abracei os joelhos e apoei a cabeça no topo deles. - Qual o seu nome? Quantos anos tem? - Procurei olhar nos olhos dele. - Como consegue fazer essas coisas? - Semicerrei os olhos quando o sol começou a refletir no meu rosto.

-Eu já disse. - Ele voltou ao olhar pro lago. - Esse é o seu sonho, Ellie.

Por um momento imaginei que ele fosse desaparecer de novo, mas não, ele continuou ali, olhando para o lago.

-Se esse é o meu sonho, então por que ainda não sei o seu nome?

Sempre que eu sonho com alguém normalmente eu sei o nome dela, ou senão ela se apresenta. - Me desgrudei dos joelhos e estiquei as pernas. - Porque você tem que ser o diferente? O misterioso? Isso não faz o menor sentido.

- Você devia parar de me fazer perguntas e correr atrás das respostas.

- E é o que estou fazendo agora, isso já não basta homem dos sonhos? -Ele sorriu de lado pelo jeito que eu o chamei.

- Não, Ellie. Você quer a resposta de mão beijada, na palma da sua mão. - Ele abriu mais o sorriso.

- Mas o mundo não é assim. O mundo nunca vai te entregar nada de mão beijada. - Ele se levantou e saiu andando.

Eu continuei sentada, pensando que ele fosse voltar. Me levantei quando vi que ele já estava quase no final, corri um pouco, olhei pros lados mas ele não estava mais ali. Nem no fim da rua ou na esquina. Ele havia desaparecido, de novo.