13 • Umbrae Veritatis •

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lat. "sombras da verdade"; expressão usada para indicar o outro lado de uma história — aquilo que se move no escuro enquanto o olhar do mundo se volta para a luz.

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Wednesday P.O.V

Ela apareceu em um sonho — o que, para Wednesday, já havia se tornado quase uma rotina.

Essas aparições oníricas sempre vinham com o mesmo ar de teatralidade; ela amava surgir quando bem entendia, moldando-se à forma que desejasse. Ainda assim, quase sempre escolhia a mesma — mais jovem, mais viva, o reflexo de um tempo em que fora, de fato, feliz.

Wednesday não se assustava mais com isso. Em um instante, estava imersa em um belo pesadelo, e, no instante seguinte, ali estava ela — naquele lugar indefinido, que parecia ser todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo.

Tentou imaginar o motivo da visita.

Não se lembrava de ter feito nada que justificasse um sermão ou um puxão de orelha.

Nas últimas semanas, limitara-se a ler, a escrever e a preparar-se para o início das aulas em Nevermore. Mas ela nunca aparecia sem razão. Havia sempre algo — uma premonição, um aviso, um fardo.

— O que foi agora? — perguntou sem se virar, sabendo exatamente quem estava ali.

— Que menina desprovida de boas maneiras — respondeu a voz, doce e sarcástica. — Ao menos me olhe quando se dirige a mim, e cumprimente-me como deve.

— Não me venha com essas cortesias — Wednesday retrucou, voltando-se por fim. — Até parece que se importa com isso.

Ela estava com a mesma aparência de sempre: a de uma jovem mulher adulta, serena, de um encanto antigo e inquietante.

— Eu preciso falar contigo — disse, e havia gravidade em seu tom. — Algo grande se aproxima, e tu estarás no centro disso.

Wednesday arqueou uma sobrancelha.

— Deixe-me adivinhar: sabe que algo está para acontecer, sabe que envolve a mim, mas não sabe o quê, nem como, nem quando, tampouco a gravidade da situação?

— Oh, minha pequena, conheces-me bem demais. Chego a comover-me — ela levou a mão ao peito num gesto dramático e suspirou.

Wednesday revirou os olhos.

— Pare de encenação e diga o que quer que eu faça.

— Eu própria ignoro o que deva ser feito. Ele apenas me advertiu que algo grandioso virá, que tua vida mudará, e que convém nos prepararmos. Devo falar com tua mãe em breve.

— Por que o Tempo te dá esses recados? Ele não deveria interferir desse modo.

Ela sorriu, com um brilho travesso nos olhos.

— Sou a favorita dele. Privilegium est quod merui. Tenho certos... benefícios por isso.

— Ótimo. Mas minhas aulas começam em breve. Vocês me prometeram que eu poderia viver minha vida, contanto que cumprisse minha parte nesse... arranjo familiar. E eu cumpri.

— E nós também cumpriremos. — A voz dela suavizou, quase maternal. — Não pedirei nada que te impeça de estudar. Isto será bom para ti. Mas este caso é exceção, força maior, e espero que compreendas.

Wednesday manteve o olhar firme.

— Não faltarei às aulas por mais de dois dias seguidos, não deixarei de entregar meus trabalhos e não abandonarei meu romance. Contudo, farei o que me couber.

Aeternum • WenclairWhere stories live. Discover now