Preço a pagar

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Katarzyna

Três dias tinham se  passado desde o baile, e eu tinha-me tornado outra pessoa.
O meu silêncio não era o luto que eu sentia ao deixar a julia apodrecer num gueto malcheiroso, nem a fria resignação dos primeiros dias de casamento.

Este silêncio era uma fortaleza, um lugar onde Aleksander não podia entrar, onde Ritter não podia tocar. A minha rebeldia ruidosa tinha sido esmagada na valsa; esta nova quietude era a minha derradeira arma.

No dia a seguir ao baile, eu tinha tomado uma decisão fria e essencial. Se eu era para ser o seu "produto", o seu "ativo político", então seria o produto mais impecável jamais concebido. Eu iria cumprir a minha rotina com a precisão de um relógio, sem falhas, sem emoção.

O meu corpo movia-se pela mansão como um fantasma elegante. O pequeno-almoço era consumido metodicamente; o livro polaco era lido sem que uma única linha me chegasse à mente; as ordens aos criados eram dadas com uma cortesia perfeita. Eu era a esposa exemplar que Aleksander exigia, e cada passo, cada palavra controlada era um soco silencioso na sua autoridade.

Eu sentia o incómodo dele a crescer, a espessar o ar à nossa volta. A minha fúria era para ele um desafio; a minha perfeição, uma anulação.

Numa manhã, enquanto ele fingia ler jornais alemães na sala de refeições, o silêncio esticou-se até rebentar.

— Não tens tido a tua... veemência habitual. — A voz dele era baixa.

Eu levantei o olhar do meu livro. O meu sorriso era breve e falso, uma máscara de porcelana.

— O Kommandant Ritter foi muito claro sobre as suas intenções na gala, Aleksander. E tu foste igualmente claro sobre o meu valor. — A minha voz era desprovida de qualquer emoção. — Eu aprendi a lição. O meu papel é manter a compostura. Por isso, estou a fazê-lo.

Ele franziu o sobrolho. Ele preferia a minha raiva. Preferia a luta. A minha aceitação silenciosa tirava-lhe o prazer do domínio.

— Não me agrada quando ficas demasiado calada, Katarzyna.

— E a mim não me agrada quando tenho de chorar na cama para não ser ouvida. — O meu sussurro era venenoso, mas os meus olhos não vacilavam. — O desespero não é produtivo. Estou perfeitamente controlada, Aleksander.

Eu tinha-o silenciado. Mas a vitória era oca. Eu tinha-me tornado o meu próprio carcereiro para lhe ganhar a guerra.
E este era o estado em que eu estava quando ele me atirou a ameaça da inspeção de Ritter e partiu para Berlim.

Na manhã seguinte à sua partida, senti um alívio momentâneo, rapidamente engolido pela ansiedade. A mansão tornou-se uma gaiola luxuosa, mas sem o predador principal, o ar estava livre para o cheiro de um novo perigo.

Ao final do terceiro dia sem Aleksander, o terror materializou-se.

— Senhora — a voz da Sra. Wictoria, a governanta, era um fio de pânico. Ela estava à entrada do hall, as mãos apertadas à frente do avental.

— O carro. O carro do Kommandant Ritter acabou de parar no portão.

Senti o pânico subir-me à garganta. Ritter e cinco oficiais. Seis predadores que vinham testar a fraqueza da esposa do seu rival.

Forcei o ar gelado para os meus pulmões e o meu corpo obedeceu. Eu tinha que ser perfeita. Seis pares de olhos fixaram-se em mim no momento em que entravam no hall, e a sua intenção era inconfundível: olhavam para mim como um naco de carne. Ritter parou a três passos de mim.

— Senhora Kowalski. Que prazer inesperado a sua presença. O Kommandant Aleksander informou-me que a mansão estava vazia.- eu sorri, um sorriso frio e breve, ensaiado.

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