"Arrependimento"

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Cerrei os punhos sob a mesa.
— Não fale dela assim.

Theo arqueou a sobrancelha, divertido.
— Ah, então você ainda se importa. Que surpresa. Pensei que ela fosse só mais uma na sua lista.

— Não é. — A palavra saiu rápida, cortante, antes que eu pudesse pensar.

Ele riu, satisfeito por ter arrancado isso de mim.
— Interessante. Então me explica: se ela não é "só mais uma", por que diabos você fez exatamente o que faria com qualquer outra?

Não respondi. O silêncio pesou.

Theo se inclinou na minha direção, o olhar frio e provocador.
— Sabe o que eu acho? Acho que você tem medo. Medo de sentir alguma coisa de verdade. Porque, se admitir isso, deixa de ser o Riddle que todo mundo teme. Vira só um garoto fraco, correndo atrás de uma garota que não quer mais saber de você.

Meu maxilar travou. Engoli a raiva e voltei os olhos para Brianna, como se me prender a ela fosse a única forma de não explodir.

Theo riu outra vez, mordendo a maçã com gosto.
— Continue assim, Mattheo. Logo logo ela vai rir de você também.

...

As aulas terminaram e o fluxo de alunos enchia os corredores. Eu andava em silêncio, as mãos nos bolsos, ignorando as vozes e risadas ao meu redor. Mas então a vi.

Brianna caminhava com os livros contra o peito, os passos leves, o olhar atento a alguma conversa com uma colega. Quando nossos olhos se encontraram por acaso, o tempo pareceu prender a respiração.

Ela parou. Eu também. A colega dela percebeu a tensão e, sem dizer nada, se afastou, deixando-nos sozinhos no meio da passagem.

— Brianna... — falei primeiro, a voz baixa, arranhando.

Ela ergueu o queixo, me encarando. Seu olhar era doce, mas firme, como mel endurecido em vidro.

— O que você quer, Mattheo?

Cruzei os braços, tentando soar indiferente.

— Talvez conversar.

Ela deu um sorriso curto, amargo.

— Você não conversa, Mattheo. Você joga palavras como quem joga facas.

— E mesmo assim você ainda está aqui.— Engoli seco, mas não deixei transparecer.

— Não por escolha — retrucou, apertando os livros contra o peito. — Hogwarts é grande, mas não o bastante pra eu conseguir evitar você sempre.

— Você não precisa agir como se eu fosse um monstro.— Dei um passo à frente, e ela recuou. Isso me irritou mais do que deveria.

Os olhos dela se estreitaram.

— Você me tratou como se eu não valesse nada. Isso é o que dói.

— Talvez você devesse ter aprendido antes que confiar em alguém como eu nunca termina bem.—Meu peito se contraiu, mas mantive o rosto frio.

— E talvez você devesse ter aprendido que nem todo mundo é feito de escuridão, Mattheo. —Ela respirou fundo, os olhos marejados, mas a voz firme.

Fiquei em silêncio. Por dentro, eu queria quebrar aquela distância, dizer tudo que me sufocava. Mas meu orgulho não me deixou.

Ela passou por mim, o perfume doce se misturando ao ar frio do corredor. Não olhou para trás.

E eu fiquei ali, parado, com a mesma máscara insensível de sempre... mesmo enquanto cada palavra dela ainda me corroía por dentro.

Fiquei ali, imóvel, mesmo depois que ela desapareceu pelo corredor. O silêncio que se seguiu não era apenas o vazio do lugar, mas o vazio que ela deixou dentro de mim. Cada passo dela ecoava na minha mente, cada sorriso que não me fora dirigido era uma lâmina atravessando o peito.

Por fora, continuava o mesmo Mattheo Riddle — frio, insensível, inatingível. Por dentro, no entanto, havia um incêndio que não conseguia apagar. Eu a machuquei, e a cada palavra que ela disse, a cada gesto de afastamento, percebia o quanto meu orgulho idiota me custava caro.

Não sou feito para suavidade, nem para ternura. Filho do Lorde das Trevas, cresci aprendendo que sentimentos são fraquezas a serem exploradas. Mas Brianna... Brianna era diferente. Mesmo magoada, mesmo ferida, ela carregava uma doçura que me queimava por dentro, e que eu nunca consegui engolir.

Droga. Queria poder dizer a ela que não sou apenas a escuridão que carrego. Que, por trás do ódio, da frieza, existe algo que ainda se importa. Mas orgulho e medo me impedem. Medo de mostrar que sentir alguma coisa de verdade não é ser fraco — é ser humano.

E assim permaneço, parado, olhando para onde ela esteve, incapaz de me mover, incapaz de respirar, incapaz de pedir perdão. Filho da escuridão, sim. Mas também filho de uma culpa que me consome mais do que qualquer feitiço proibido.

O que eu faria para tê-la de volta? Eu não sei. Talvez nada. Talvez tudo. Talvez seja tarde demais.






















Oii gente!

Espero que gostem, e lembrando que a fic nova já está postada e com capítulos novos!

Beijossss

I lie for two - Mattheo Riddle Onde histórias criam vida. Descubra agora