𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐓𝐞𝐧

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Estados Unidos
2022





Connor K.:

Ela roda no meio do quarto e a saia do vestido sobe num balanço lento, desnuda a curva macia da popa, que faz meus instintos urrarem por controle. Quase posso sentir o arrepio da pele dela sob meus dedos, a textura aveludada que implora para eu agarrar e espalmar até brotar um rubor vermelho intenso em cada banda. Meus músculos enrijecem só de pensar naquele instante proibido: ela ali, vulnerável, entregue.

O último acorde morre junto com a respiração dela, ofegante, ecoando nas paredes silenciosas. O coração martela no peito, preciso ir, embora cada fibra do meu corpo queira ficar.

Dobro o tronco, quase roçando o joelho na beirada da janela, a mesma por onde entrei, e apoio a mão no parapeito frio. O ar úmido da noite entre pela fresta, trazendo o cheiro de grama molhada e terra. Empurro o corpo pra fora, o jeans arranhando levemente a pele, e desço pela escadinha de madeira. O baque na grama encharcada ressoa suave, quase abafado, mas o suficiente para acelerar meu sangue.

Nos fundos, do outro lado do muro, minha moto preta. Sento no banco gelado, giro a chave, o motor ronca num rugido grave que reverbera no peito do meu casaco.

Acelero pela rua deserta; cada troca de marcha cospe faíscas de escape e faz o asfalto cantar sob as rodas. O vento me linga, e o frio gelado corta meu rosto, doce sensação de liberdade e tensão.

Dois quarteirões depois, um gemido rouco perfura o silêncio, dor bruta, quase primal. Tranco o guidão, faço uma curva fechada e acendo o farol. Lá, embaixo da luz mortiça do poste, Thomas está em transe sanguinolento, empunhando uma barra de ferro. O corpo da vítima estremece, a perna esquerda exibe o osso reluzente, carne rasgada em carnificina. Gotejos de sangue ricocheteiam no concreto com um tlim cadenciado.

— THOMAS! — grito, a voz vibrando.

Ele ergue o olhar e sacode a barra como quem exibisse um troféu, respingos rubros espalhando-se na calça rasgada. Não espero mais. Arranco a moto num ronco estrondoso; a roda patina, solta fumaça, e Thomas vem correndo e sobe na garupa, se agarra ao meu corpo, as unhas fincando no meu ombro.

Sumimos na curva num turbilhão de metal e adrenalina. As lâmpadas dos postes dançam em flashes, muros bem estruturados, poças de água refletindo o farol, o vulto da minha silhueta bailando no retrovisor.

Em poucos minutos, o portão de ferro do galpão surge adiante, iluminado por lâmpadas trêmulas. Martin está lá, imóvel como estátua, a jaqueta de couro refletindo a meia luz. Freio bruscamente, a moto chia, e eu salto no asfalto com o coração em erupção.

Thomas desce, ainda ofegante, o cheiro de sangue e suor se misturando ao escapamento quente.

Martin ergue apenas uma sobrancelha, convite silencioso para o que vem a seguir.

Eu engulo em seco, o pulso latejando.


Eu aperto o punho contra o aço frio do batente da porta principal, sentindo cada veia do meu braço latejar com a tensão do momento. No escuro, a silhueta dela surge pela garagem, iluminada apenas pelo lampejo trêmulo do poste lá fora. Vejo o celular brilhar na mão dela, a mensagem da “mãe” estampada na tela: “Lola, abre a garagem, preciso de ajuda urgente.” O impulso de culpa me atravessa por um segundo: doleço esse engano que vai testá-la até o limite.

Ela hesita, o vestido rosa desenhando o corpo perfeitamente, ela aperta o botão que fica na parede. A porta metálica range, arrastando um som agoniante que faz meu estômago se contorcer de excitação. A respiração dela soa alta demais, cada inalação um sussurro de medo. Martin se encolhe atrás de um carro, sombras desdobrando seu corpo como facas prontas para o ataque.

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⏰ Last updated: Sep 28 ⏰

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