🖱️ " ponto de vista: Giorgian de Arrascaeta" ( Rio de Janeiro)
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O apartamento de Lara estava silencioso, exceto pelo som leve da respiração dela sobre o meu ombro. Eu estava sentado no sofá, imóvel, tentando não fazer nenhum movimento brusco. O sol entrava pelas janelas, queimando a parede oposta, mas não conseguia aquecer a sensação de frio que vinha dela. Era estranho: o corpo dela reclamava, mas ela fingia que estava tudo bem, como sempre fazia.
— Dios mío... — murmurei baixinho em espanhol, para ninguém ouvir além de nós. — Sempre igual... nunca cuida de nada... incluso de sí misma.
Ela se remexeu levemente e eu congelei. Cada mínimo gesto dela era registrado por mim, como se cada segundo pudesse mudar o rumo do dia. Ajustei meu braço, tentando que ficasse mais confortável, mas sem acordá-la. Cada movimento precisava ser calculado.
— Tá doendo, né? — falei em português, devagar, mais para ela sentir que alguém estava ali do que para realmente esperar uma resposta. — Eu sei... mas não posso deixar você assim, fraca.
Ela soltou um suspiro quase inaudível, e meu peito se apertou. O calor do Rio parecia atravessar a cidade inteira, mas o corpo dela estava gelado, como se a febre queimasse por dentro e congelasse por fora. Senti raiva dela por não se cuidar, mas também uma espécie de impotência, porque nada do que eu fizesse poderia mudar sua teimosia.
— Siempre conmigo... — sussurrei em espanhol, misturando palavras em português. — Teimosa, mas minha hermana de alma... Precisa ficar bien, por favor...
Olhei para o cabelo dela caído sobre o meu peito, e uma onda de preocupação me atravessou. Não era só preocupação de irmão; era medo genuíno. Medo de que aquele corpo frágil desabasse, medo de que ela estivesse ignorando sinais que eu não podia corrigir.
— Não quero nem pensar no que pode acontecer se você continuar assim... — falei baixinho, em português, como se fosse um desabafo que não precisava de resposta. — Você sabe dos riscos... e mesmo assim continua brincando com tudo.
Ela se remexeu de novo, e eu ajustei a posição, tentando distribuir melhor o peso, mantendo o corpo dela colado ao meu sem machucá-la. O silêncio do apartamento era quebrado apenas pelo som distante da rua e o zumbido do ar-condicionado, que lutava para vencer o calor.
— No entiendo cómo puede ser tan fuerte y tan frágil al mismo tiempo... — disse em espanhol, quase murmurando, mais para mim do que para ela. — Necesita cuidarse... pero nunca escucha.
Olhei para suas mãos, finas e geladas, apoiadas no meu braço. Cada detalhe me lembrava de quantas vezes eu já tinha tentado avisá-la, cuidar dela, fazer com que entendesse que não podia ignorar o corpo, que ignorar a própria saúde era perigoso demais. E aqui estávamos: eu, vigilante, e ela, inconsciente do quanto precisava de cuidado.