Invisible String [PARTE I]

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Seu pai ajoelhou-se para ficar do seu tamanho. Havia sempre aquele olhar em seus olhos, como se ele conhecesse seu coração.

— Aqui é nossa casa agora.

— Não parece casa. — Ela olhou para o teto branco gelo.

Seu pai segurou sua mão. Suas unhas estavam pintadas de amarelo canário, ela percebeu, assim como as paredes do quarto. — Aqui é nossa casa agora, mas podemos pintar o teto de sol novamente e adicionar nuvens, se você quiser. Pode plantar flores de novo, e fará novos amigos. Será como começar de novo, do zero.

Ela balançou as pernas, mirando os tênis brancos, pensando no que o pai havia dito. De repente, uma ideia se passou pela sua mente. — Podemos adicionar nuvens junto com o sol, quando pintarmos o teto dessa vez?

— Podemos adicionar o que você quiser. — Ele estalou um beijo em sua bochecha. — Agora vamos nos ajudar a desembalar tudo.

E, simples assim, Boston foi a casa de Eveline pelos próximos dez anos da sua vida.

(...)

Eveline mascou o chiclete de canela que tinha roubado do Ethan. Fazia quase cinco meses que ela tinha se mudado para Boston, e ela tinha chegado à conclusão de que gostava da cidade, mesmo sendo sempre inverno. Não era tão boa quanto sua antiga. As ruas eram muito grandes, tinham muitos carros, e as pessoas eram meio nariz empinado, mas ela gostava dos doces de canela que vendiam nas padarias e de pular nas poças de lama da calçada sempre que chovia. Era um começo.

Ela odiava a escola, no entanto. Seus colegas eram, em sua maior parte, garotas ricas que tinham nojo de poças de lama e de plantar flores na terra. Deus abençoe suas mãos intocadas, ela zombava. 

Para tentar compensar o desastre na escola, o pai havia a matriculado numa pequena escola de ballet próxima de casa, e ela havia feito dois novos amigos, Clark e Marina. Ela os adorava: Clark porque era viciado em chocolate e Marina porque lhe havia emprestado um pompom de cabelo quando ela esqueceu o seu em casa.

— Estamos indo buscar a mamãe? — Ela olhou para o pai, quando o carro parou no grande hospital de Boston. Aquele que, orgulhosamente, sua mãe fazia parte.

— Sim, ela vai jantar conosco hoje. — Seu pai sorriu. Mamãe trabalhava demais. Tinha sido quase impossível vê-la nesses dias, mas papai sempre foi compreensivo quanto a isso.

Eve apertou seu casaco e pulou do carro. Pequenas gotas de chuva molharam seus cabelos, mas estavam tão firmes no coque de ballet que ela duvidava que faria alguma diferença. Apertou a mão de seu pai e subiu as escadas em direção ao grande hospital.

Ela não tinha medo deles. Quer dizer, era meio amedrontador, mas sua mãe estava sempre lá, então ela encarava bem suas visitas ao prédio enorme no centro da cidade sempre que precisavam ir. Ela acenou para a recepcionista mais velha que sempre apertava suas bochechas como se ela tivesse seis e não nove anos e caminhou junto com o pai pelos corredores até a segunda recepção.

— Sente-se aqui, como sempre. — Ele beijou seus cabelos. — Vou procurá-la.

Ela assentiu, sem medo de ficar sozinha. A recepção era grande, mas estava quase vazia. Ela gostava de olhar as revistas de médico quando estava ali, mas, quando olhou a mesa de centro, viu que eram as mesmas da semana passada; então cruzou os braços esperando o pai chegar.

Algo chamou sua atenção. Uma mulher estava sentada no canto, na janela, sozinha, com um lenço branco sem graça no topo da cabeça. Seus ombros estavam curvados para frente, e ela estava com as mãos apertadas no colo, como se não se sentisse muito bem. Eveline esperou e, vendo que ela estava sozinha, caminhou até lá com suas sapatilhas fazendo barulho no piso.

— Você pode desenhar sóis. — Ela sentou ao lado da mulher.

A desconhecida piscou, parecendo extremamente surpresa pela interrupção de seus pensamentos. Ela encarou a garota com coque de bailarina, tutu e meia-calça, que olhava curiosa para o lenço branco em seus cabelos. — Onde?

— No lenço, é claro. — Disse Eve, como se fosse óbvio. — O teto do meu quarto também era branco, mas meu pai e eu desenhamos muitos sóis nele.

— Parece bonito. — A desconhecida sorriu. — E qual é seu nome, garota dos sóis?

— Eveline. — Ela sorriu, havia um dente tortinho bem na frente dos seus lábios. Ela era absurdamente fofa. — Eveline Susannah Carter.

— Susannah? — A mulher deu um grande sorriso agora. — Eu também sou Susannah.

— Susannah o quê? — A garota perguntou.

— Apenas Susannah. — Ela encostou-se na cadeira, observando a garota com mais atenção.

— É uma pena que você não tenha um segundo nome. — Eveline deu de ombros. — Você veio para ver a mamãe? Ela trabalha aqui, uma enfermeira.

— Mais ou menos. — Tristeza passou pelo rosto de Susannah, a mais velha, então Eveline não perguntou, apenas assentiu. — Aliás, gostei da ideia de desenhar sóis. Vou fazer isso. Vou pedir ajuda dos meus filhos.

— Você tem filhos?

— Dois filhos da sua idade, mais ou menos, Conrad e Jeremiah. — Ela sorriu, lembrando das crianças.

Eveline ia perguntar mais se os filhos dela gostavam de desenhar, mas logo avistou a mãe e o pai dobrando o corredor. Ela se levantou subitamente; a mãe odiava que falasse com estranhos. Seus olhos se voltaram para Susannah novamente. Eveline puxou a bolsa e abriu rapidamente, então rabiscou algo no papel com uma lapiseira amarelo-canário e entregou para Susannah. Depois deu um pequeno sorriso e correu para os pais, sem olhar para trás.

Os dedos de Susannah apertaram a folha, que tinha um sol estranho e desestruturado desenhado no centro, e bem embaixo dizia: Para a outra Susannah, porque chove muito em Boston, então é melhor desenhar o próprio sol quando você precisar ter coragem.




Invisible String [Conrad Fisher]Where stories live. Discover now