twenty three

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O canto dos pássaros ecoava entre os telhados de curvas elegantes, e a luz suave do amanhecer banhava os jardins internos do palácio. A brisa carregava o perfume fresco das flores de ameixeira, misturando-se ao som distante de sinos cerimoniais.

Era o último dia da regra que mantinha o rei e a rainha separados desde a coroação. A partir do cair da noite, não haveria mais barreiras formais entre eles.

Haneul estava sentada diante da penteadeira, enquanto So Mi penteava cuidadosamente seus cabelos longos e negros, deixando-os escorrer como seda pelas costas.

— Hoje, Vossa Majestade parece… diferente. — A criada falou com um leve sorriso refletido no espelho. — Está mais… luminosa.

Haneul não conseguiu esconder o pequeno sorriso que surgiu.

— É só o sol de hoje… — disse, mas sua voz traiu uma nota de expectativa.

Desde aquela noite na biblioteca, os pensamentos dela voltavam, vez após vez, para o toque e o olhar do rei. E a espera forçada só havia aumentado o peso daquela lembrança.

Enquanto isso, em outra ala do palácio, Jang Woon ouvia seu conselheiro relatar os compromissos do dia. Mas o rei não estava realmente prestando atenção. Seus dedos tamborilavam na mesa, e seu olhar vagava para além da janela, onde o vento brincava com as bandeiras coloridas.

Ele sabia que, à noite, não haveria mais desculpas protocolares. A distância imposta pelo palácio terminaria, e ele finalmente poderia ter sua rainha novamente — sem precisar de artifícios, fugas ou encontros às escondidas.

A notícia de que aquela seria a última noite de separação espalhava uma tensão silenciosa entre as paredes do palácio. Criadas cochichavam nos corredores, eunucos andavam mais apressados, e até a chefe das criadas, senhora Park, parecia manter uma vigilância ainda mais cerrada sobre os aposentos da rainha.

Mas Haneul, sentada junto à janela, olhava para o céu azul límpido e sentia seu coração acelerar, não de medo — mas de antecipação.

Haneul caminhava lentamente pelo salão, as mangas amplas de seu hanbok branco e azul se movendo em ondas suaves a cada passo. O sol entrava pelas janelas abertas, projetando desenhos delicados no chão de madeira polida.

Sobre uma mesa baixa, rolos de pergaminho e pincéis estavam dispostos para a sessão de caligrafia, mas sua mente não estava totalmente na tarefa. Seus traços saíam mais leves, quase distraídos, enquanto pensava no que a noite traria.

So Mi, sentada um pouco afastada, observava com aquele olhar sereno que escondia uma preocupação constante.
— Majestade, não é bom se distrair tanto. — Sua voz foi doce, mas firme.

— Eu sei… — respondeu Haneul, sem erguer a cabeça. — Só… o dia parece mais longo do que deveria.

Depois da caligrafia, vieram as obrigações de supervisão: inspeção das refeições preparadas para o rei, aprovação dos tecidos que seriam usados em futuras vestes reais, e até uma visita breve aos jardins para verificar o andamento da poda das ameixeiras.

A todo momento, a senhora Park parecia pairar por perto, o olhar afiado seguindo cada passo da rainha. Haneul fingia não notar, mas sentia a pressão.

Enquanto atravessava um dos pátios internos, cruzou com Woo Jin, que a cumprimentou com um sorriso respeitoso e uma leve inclinação da cabeça. Foi rápido, mas o suficiente para que Haneul percebesse que até ele parecia saber que algo mudaria naquela noite.

Ao voltar para seus aposentos, So Mi lhe trouxe um chá quente com pétalas de crisântemo.
— Vai precisar de energia para mais tarde, minha menina. — disse com um meio sorriso, como se soubesse mais do que deixava transparecer.

AMOR EM FOGOWhere stories live. Discover now