Prólogo

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Você conhece uma garota sem identidade? Uma garota sem identidade que tem sonhos, planos e quer ter uma vida normal? Sou eu. Mas, eu não consigo. Porque eu não tenho um nome, uma identidade. E passei todos esses anos em busca de uma.

Quero saber quem eu sou.

Acordo de manhã, muito cedo. Escovo os dentes. E por longos minutos me olho no espelho, tentando me encontrar. Tentando descobrir quem eu sou.

Tentei fazer amizade com um, com outro, mas não consegui. Sempre me sentava quieta em meu canto na sala de aula. Até tentei participar das aulas, mas tinha vergonha de questionar meus professores. Vergonha do que iriam pensar.

Em uma noite, um pessoal do colégio me convidou para ir a uma festa. Como eu não tinha amigos além de Sara, pensei ser a oportunidade perfeita para novas amizades.

Quando chego, espio pelas janelas e vejo um grupo de pessoas da escola bebendo, dando uns amassos e fazendo tudo o que se espera de uma festa de adolescentes.

Por que ninguém nunca dava festas de leitura?

Eu adoraria esse tema.

Os cômodos da casa começaram a ficar mais cheios, lotando conforme a noite avançava. Eu odiava o cheiro, odiava a agarração; odiava tudo neste lugar. E era por isso que eu era a menina que vivia com a cara enfiada nos livros. As festas nos livros sempre pareciam mais divertidas.

Eu olho em volta e observo um grupo de meninas que estão sentadas em uma mesa jogando algum tipo de jogo de beber com alguns caras. O resto da sala está cheio de pessoas conversando e rindo em voz alta. Todos estão bebendo e se divertindo.

Eu encosto-me à parede do corredor e continuo a assistir as meninas bêbadas e como elas riem e agem de forma estúpida. Olhando para elas, eu estou começando a me sentir desconfortável. A maioria das meninas aqui estão vestindo pequenas saias ou vestidos curtos e salto alto. Eu me sinto um pouco estranha com minha camiseta preta, jeans rasgado desgastado e um par de all star preto.

— Quer uma cerveja? — O garoto que estuda comigo, Ryan, se aproxima e me oferece um copo. Sorrio e aceito, bebendo imediatamente. Pelo menos alguém que conheço apareceu para me fazer companhia.

Ryan se aproxima e coloca ambas as mãos na parede, me encurralando no canto da sala, fora da vista dos outros. Inclinando-se sobre mim, ele olha nos meus olhos e posso sentir um cheiro forte de álcool em sua respiração. Quando ele se inclina para me beijar, viro o rosto. Sinto um nó no estômago e me afasto da parede, empurrando seu peito.

— Que porra é essa? — Ele cospe e vejo o olhar irritado em seu rosto. — Qual é o problema?

Arregalo meus olhos. 

— Como assim, qual o problema? Eu nem sequer te conheço!

Ele ri da minha cara. 

— Você já pode parar com o teatro de boa moça, Gracie.

Ele diz meu nome com um tom que está gotejando em desdém. Ele agarra firmemente meus ombros, empurrando-me para trás. Eu tropeço um pouco quando bato na parede. Meu corpo se torna frio, eu sinto a pele do meu pescoço formigando. Estou ficando nervosa, e meu batimento cardíaco acelera. O que ele está fazendo?

Eu só quero sair daqui. Eu só quero ir para casa e fingir que essa noite nunca aconteceu. Tem sido estranho desde o início, e só está ficando pior.

Meus ombros estão tremendo sob suas mãos, eu sinto o nó na garganta crescendo, que é o que torna difícil para eu respirar. Ele empurra seu corpo contra o meu e enterra o rosto no meu pescoço, espalhando beijos ali.

Eu suspiro buscando o ar e solto um gemido. Eu não quero chorar, mas minhas emoções estão por todo o lugar agora. Fluxo de lágrimas rolam pelo meu rosto, e começo a empurrar o peito dele com força, mas ele não vai ceder.

— Ryan, pare! O que você está fazendo?

Começo a bater em seu peito, tentando tirá-lo de mim. Mal posso ver através das minhas lágrimas, mas consigo bater com a testa na boca dele. Ele dá um passo para trás e limpa a boca. Ele está sangrando. Ryan olha para mim sem acreditar. Viro-me para a porta e corro. Meu coração está batendo tão forte contra as minhas costelas enquanto me esforço para respirar e corro batendo nos ombros das pessoas na sala lotada e tropeçando sobre os meus pés trêmulos, até chegar à porta.

Quando finalmente saio, ando rápido e tento compreender o que aconteceu, mas eu não consigo limpar a minha mente o suficiente para me concentrar. Confusão nem sequer começa a descrever o meu estado de espírito atual.

— Grace! Espere! — Eu ouço a voz de Ryan atrás de mim.

Olho para trás e o temor arrasta-se sobre mim, e eu corro. Corro rápido.

Ouço seus pés batendo contra o chão, e sei que ele está correndo atrás de mim. Tento fazer minhas pernas se moverem mais rápido, mas elas não colaboram. Minha garganta está pegando fogo e eu não posso respirar. Não me viro para ver, mas eu sei que ele está perto.

Nos segundos iniciais que se seguiram, eu estava muito desorientada para compreender o que estava acontecendo. Em um momento eu estava cortando caminho atrás de um prédio e no seguinte, eu estava caída com o rosto contra o pavimento, sem fôlego e imóvel. Lutei para me levantar, mas não podia, porque o peso em cima de mim era muito grande.

— Ryan, sai de cima de mim! Me solta! — Minha voz tremeu, mas eu tentei dar a ordem com a maior autoridade possível. Eu podia sentir o cheiro de cerveja em seu hálito e algo mais forte em seu suor, e uma onda de náusea subiu e caiu no meu estômago.

Ouvi o som inconfundível de um zíper e ele riu no meu ouvido quando comecei a implorar.

— Ryan, pare! Por favor, você está bêbado e vai se arrepender disso amanhã. Por favor, não! Não, não, não! — Sob o seu peso, eu não conseguia respirar o suficiente e gritar ao mesmo tempo e minha boca estava amassada contra o chão, abafando qualquer protesto que fazia.

Ryan me vira e fico com as costas no asfalto. Meu rosto arde quando ele me dá um tapa.

— Cala a boca, putinha! — Ele pegou meu queixo e me forçou a encará-lo.

Mão direita livre.

Enquanto movia minha mão entre nós, agarrando e torcendo suas partes e puxando-as tão forte quanto eu podia, eu bati minha testa em seu nariz com força.

E então ele gritou, e seu nariz começou a jorrar muito sangue.

Mão esquerda livre.

Ele foi se inclinando para o lado. Levantei meu joelho esquerdo e virei para ele, empurrando seu ombro com a mão esquerda e tirando ele de cima de mim. A sensação voltou para as minhas pernas, tremores correram através de mim quando me levantei e me preparei para correr. Mas, no mesmo instante, sua mão direita disparou e agarrou meu pulso. Girei e bati o punho para baixo sobre o ponto sensível em seu antebraço superior, polegadas para baixo da curva de seu braço, e ele me soltou, berrando com raiva e tentando ficar em pé.

Eu não esperei para ver se ele conseguiu. Virei-me e fugi.

GraceWhere stories live. Discover now