Capítulo 60

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Dantas

As rodas do carro ainda nem tinham parado direito quando eu abri a porta e saltei com ela no colo.

— ALGUÉM AJUDA AQUI! — Gritei, o som rasgando minha garganta. — Caralho, ela tá grávida e sangrando

As luzes da recepção me segou por um segundo e logo uma mulher de jaleco branco correu até nós com os olhos arregalados.

— Doutora Helena! — Reconheci na hora. Ela quem tava cuidando da gravidez da jade antes, mas dessa vez não era apenas trabalho. Era a minha vida que eu trazia nos braços.

Ela nem hesitou.

— Sala de emergência, agora! — Gritou pras enfermeiras, abrindo caminho. — Vamos! Sangramento ativo, possível hemorragia obstétrica!

Eu corri junto, quase tropeçando. Mas quando tentei entrar com ela na sala, uma enfermeira bloqueou minha passagem com o corpo.

— O senhor precisa esperar do lado de fora!

— Eu não vou sair! Ela é minha mulher! Ela tá esperando meu filho! — Gritei, a voz tremendo mais do que eu.

— Vai, Dantas — O Terror segurou meu braço. — Deixa elas fazerem o que tem que fazer. Tu fez tua parte.

Fiquei parado ali, na porta, sem saber o que fazer com as mãos, com a raiva, com a culpa, com o medo.

O sangue dela ainda quente na minha camisa. A porra da minha camisa preta, agora vermelha.

Andava de um lado pro outro, o coração disparado, a cabeça um caos.

Pensei no bebê. Pensei nela me chamando de madrugada porque o neném tinha mexido. Pensei no sofá com ela rindo de um filme idiota, na mão dela na minha nuca, nos planos que a gente nem teve tempo de fazer.

Era pra gente estar escolhendo nome. Roupinha. Não... isso.

— Caralho... — Murmurei, encostando a testa na parede fria. — Não faz isso comigo, amor. Tu me prometeu.

Terror se aproximou, a cara tensa.

— Já liguei pra Juliana. Ela tá vindo, mas falei pra vir na moral. Sem alarde. Tu quer que ela veja tu nesse estado?

Eu não respondi.

Minutos se arrastaram como horas até a porta se abrir.

Dra. Helena apareceu a expressão cansada.

— Ela tá viva. Estável por enquanto. Perdeu muito sangue. O bebê... tá bem. Os batimentos tão bons, mas a gente ainda vai observar ela teve um Dpp, descolamento prematuro da placenta. Foi por pouco e de agora em diante ela precisa de repouso absoluto 

Por pouco.

Essas duas palavras me quase fizeram desabar.

— Posso ver ela?

Ela assentiu, com um gesto breve.

— Ela tá sedada... mas já tá fora de risco imediato e você precisa tomar banho e trocar de roupa antes de entrar para que não haja risco de nenhuma contaminação — Eu assenti, pois não queria arriscar ainda mais a saúde da minha mulher e do meu neném 

— Filho, tem uma troca de roupa no carro, vou buscar enquanto você toma banho — Eu agradeci e a doutora me indicou um quarto com um banheiro, tomei um banho rápido porém o suficiente para tirar toda a sujeira, logo meu pai entrou no quarto com a roupa e eu fui me trocar, depois a doutora voltou e me levou ao quarto da minha pretinha 

Entrei no quarto sem pensar duas vezes.

Ela tava lá, conectada a uns fios, pálida, os lábios ressecados, mas respirando. Viva. Minha mulher tava viva.

Conexão PerfeitaWhere stories live. Discover now