Ela analisa o celular por um segundo, depois me olha com aquela expressão entre ceticismo e vontade reprimida de dizer "sim" pra qualquer coisa vinda de mim.

— Me parece o tipo de aventura que você apronta e depois finge que foi sem querer.

Dou um meio sorriso, quase desafiando:

— E você ama todas elas.

Ela revira os olhos como sempre, mas dessa vez, o sorriso é mais demorado.

— Tá. Mas só porque ninguém me chamou pra nada melhor — diz, tentando soar indiferente, mesmo com os olhos denunciando a animação.

— Bora, então. A gente se perde e depois culpa o mapa.

— Se eu me perder contigo, tudo bem.

E por um momento, o mundo para. Não sei se ela tem ideia do que acabou de dizer, mas meu peito se contrai de um jeito que me dá vontade de segurar sua mão ali mesmo.

Ela vira de costas, ajustando a alça da mochila com calma, como se não tivesse acabado de deixar meu coração em frangalhos. Só consigo respirar fundo e acompanhar seus passos, com uma certeza nascida entre o medo e a esperança:

Se eu tiver a chance... hoje eu dou um passo. Um só. Mas dou.

Já estávamos de biquíni por baixo das roupas leves, então não demorou muito até seguirmos em direção ao ponto marcado no mapa. A trilha começava entre árvores altas, o chão levemente úmido, e o som distante da água correndo criava uma trilha sonora perfeita para o silêncio entre nós. Mas não era um silêncio desconfortável — era aquele tipo que embala pensamentos que ninguém tem coragem de dizer em voz alta.

Os olhos dela brilhavam com cada nova paisagem que surgia à frente. Flávia caminhava com os braços soltos, o cabelo preso de qualquer jeito, o rosto iluminado pela luz filtrada entre as árvores. Ela parecia em casa. Ou talvez eu é que me sentisse assim, só por estar ao lado dela.

Se ela soubesse qual é a melhor vista pra mim...

— Vai demorar muito? — ela pergunta, com uma careta que mistura curiosidade e leve impaciência.

Sorrio. Uma daquelas risadas espontâneas que escapam antes mesmo de pensar.

— Um pouco — respondo, e uma ideia me atravessa de repente.

Paro no meio da trilha e me viro pra ela, abaixando levemente o tronco.

— Sobe aqui nas minhas costas.

— Oi? — ela franze o cenho, confusa.

— Bora, Flávia. Eu te levo. Vai ser divertido.

Ela me encara por alguns segundos, como se buscasse alguma explicação escondida nas minhas intenções. E então ri — uma risada verdadeira, que ecoa pela mata — e se aproxima, colocando os braços ao redor do meu pescoço e subindo devagar.

— Você é maluca — diz, ainda rindo.

— É, por você — respondo baixinho, quase num sussurro que se perde no ar mas que, no fundo, eu torço pra ela ter escutado.

Seus braços ao redor de mim, as pernas firmes contra meu corpo, o perfume da pele dela misturado com o frescor da floresta — tudo isso cria um universo só nosso. E enquanto sigo carregando-a pelos próximos metros da trilha, sinto que, por mais curto que seja o caminho até a tal cascata, ela já está me levando pra bem mais longe do que eu imaginava.

Quando chegamos, meus olhos se perdem na imensidão do cenário. É tudo tão azul, tão cristalino, que por um momento esqueço de respirar. O som da água caindo preenche o ar, e a luz do sol dança sobre a superfície como se o lugar tivesse sido pintado à mão. Parece o paraíso. Mas o que me tira o fôlego mesmo é ela.

Flávia.

Ao meu lado.

Ela tira a camiseta devagar, depois o short, revelando o biquíni preto que contrasta com a pele dourada pelo sol. O cabelo solto balança com o vento. O piercing no umbigo brilha. Os braços definidos, o andar confiante... Eu tô reparando demais. Mas não consigo parar. Como se meu corpo soubesse antes de mim que é dela que eu gosto.

Sem cerimônia, ela corre e mergulha na água, fazendo tudo ao redor parecer ainda mais bonito.

— Vem não? — ela pergunta, sorrindo.

— Daqui a pouco — respondo, tentando parecer tranquila, mesmo com o coração martelando no peito.

— Ah não — ela diz rindo, saindo da água com as gotículas escorrendo por cada curva do corpo.

Vem correndo até mim, determinada, mas pisa em falso numa pedra molhada e escorrega. Em um reflexo rápido, estendo os braços e a seguro antes que caia.

E, de repente, está tudo... perto demais.

Nossos corpos colados. Seu peito ofegante pressionando o meu. Minha mão espalmada em sua cintura nua. O cabelo dela molhado escorrendo sobre meu braço. As respirações entrelaçadas, quentes, quase em choque. Eu poderia dizer algo. Qualquer coisa. Mas meu olhar já foi. Caiu direto na sua boca.

E ficou.

— Você tá bem? — pergunto num sussurro, a voz rouca, como se engolisse as palavras antes de soltá-las.

— Tô... — ela responde, baixa, ainda sem se afastar. O peito dela sobe e desce rápido, como o meu. O olhar perdido no meu. Fica.

Tudo ao redor some. A água, as pedras, o vento. É só ela e eu. Esse momento entre o desespero e o desejo. Entre o medo e a entrega.

A tensão entre nós poderia incendiar a água inteira se caíssemos nela juntas. E talvez, só talvez... seja exatamente isso que vai acontecer. 

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Eii, meus amoreees! 💙

Ontem tirei o dia pra cuidar de mim e me organizar mentalmente, tudo pra conseguir entregar o melhor a vocês — e aqui estamos com mais um capítulo no ar!

O que acharam do capítulo de hoje, ein? Só posso dizer que eu tô completamente apaixonada pelos nossos casais. Mas, como nem tudo são flores... aproveitem muito os próximos capítulos, porque talvez vocês sintam falta desses momentos mais leves. 👀💔

Com amor e caos,
Analu ✨

Between The LinesWhere stories live. Discover now