That Way - Tate McRae
O alarme toca às 5 da manhã. Meu braço sai da coberta com dificuldade, tateando o celular na mesa de cabeceira até conseguir silenciar aquele som agudo. Eu respiro fundo. O colchão do hotel definitivamente não foi feito pra atletas — ou talvez só não tenha sido feito pra mim.
Meu corpo dói. Não uma dor de lesão, mas aquele peso acumulado de noites mal dormidas, rotina puxada e uma cama que mais parece uma tábua.
Levanto devagar, me espreguiçando com um som abafado de ossos estalando. A luz do banheiro é fria, mas me desperta. Prendo o cabelo num rabo de cavalo, deixando as pontas soltas, levemente onduladas do jeito que gosto. Lavo o rosto, passo o hidratante, escovo os dentes.
Opto pelo conjunto de treino cinza e coloco por cima meu moletom favorito — velho, macio, com cheiro de lavanda e treino. Tranco a porta do quarto, ainda ajeitando a manga, quando bato de leve em alguém no corredor.
Dou um passo pra trás e levanto o olhar.
— Opa, foi mal! — digo, já rindo com aquele susto suave da manhã.
— Ai! — diz Melanie, rindo também. Está com cara de quem acabou de sair da cama, camiseta oversized da seleção França e um coque feito com uma pressa quase artística.
— Oi, Mel. Bom dia! Indo pro café?
— Oi, Si. Sim, sim. Quer companhia?
— Claro — respondo com um sorriso genuíno.
Descemos pelo elevador meio em silêncio, mas não é um silêncio desconfortável. Ela mexe no celular, eu observo os números do painel mudarem. Meus ombros ainda pesam, mas minha cabeça está leve. Um café quente e alguma conversa boba — é disso que eu preciso.
O refeitório do hotel parece uma torre de Babel com cheiro de café forte. Línguas se misturam em um ruído abafado de vozes, risos, passos apressados, pratos sendo empilhados, bandejas metálicas escorregando no balcão. É aquele tipo de caos reconfortante de competições internacionais — todo mundo no mesmo estado: sonolento, faminto e ansioso.
Entro com Melanie ao meu lado. Ela fala alguma coisa sobre sonhar com churros recheados ou algo aleatório, mas minha atenção se prende de imediato a um ponto fixo no salão.
Rebeca.
Ela já está sentada. Sozinha. A mesa parece maior do que deveria.
Está com uma xícara de café meio cheia entre as mãos, o vapor subindo devagar. Mexe o líquido sem açúcar com a colherzinha, absorta. O cabelo solto, recém-lavado, escorre pelas costas do agasalho da seleção brasileira. Os olhos estão fixos na janela, como se buscassem alguma coisa lá fora.
É estranho. Normalmente, ela me espera. Normalmente, ela ri assim que me vê. Mas hoje...
— A Rebeca já chegou — digo baixo, puxando uma bandeja.
— Vem, vamos com ela — responde Melanie, já pegando frutas cortadas e um muffin.
Me aproximo. Rebeca levanta o olhar. Por um segundo — só um — parece que ela hesita. Mas então sorri, discreta. Não o sorriso completo de sempre. Um fragmento.
Me sento ao seu lado. Melanie se acomoda do outro lado da mesa, jogando a jaqueta nas costas da cadeira como se estivesse na sala de casa.
— Tava contando pra Si meu sonho de ontem — ela diz, já mastigando uma fatia de maçã. — Você vai rir.
— Hm? — Rebeca murmura, educada, mas distante.
— Sonhei que a Júlia caía da trave — Melanie começa, os olhos brilhando com o absurdo da própria memória — mas foi uma queda linda. Ela caiu tipo... coreografada, como uma fada embriagada pela própria perfeição.
KAMU SEDANG MEMBACA
Between The Lines
Fiksi PenggemarNo mundo da ginástica de alto nível, tudo é medido - tempo, controle, desempenho. Mas nem tudo. Nem o jeito como o olhar dela demora um segundo a mais. Nem o toque sutil das mãos que se encontram e não se afastam. Nem o silêncio que pulsa mais alto...
