Classic

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They Don't Know About Us - One Direction e Classic - MKTO

O sol nasceu mais quente hoje — e não é só a temperatura que mudou. Há algo em mim que parece ter virado do avesso e, ao mesmo tempo, voltado ao lugar certo. Acordo devagar, os lençóis ainda embolados ao redor do meu corpo nu, com o cheiro da Simone grudado na pele, e por um instante, eu não quero sair dali. Não por preguiça. Mas porque o mundo lá fora não parece tão urgente quanto o universo que criamos ontem à noite.

Meu corpo ainda vibra. Não pelo prazer — ou não só por isso. É por tudo. Pela entrega, pela verdade, pela forma como ela me olhou antes de tudo acontecer. Como se estivesse vendo mais do que o meu corpo. Como se estivesse me vendo, enfim, inteira.

Me sento na cama e passo as mãos no rosto. Não sei explicar o que é isso. Só sei que é leve. É como se eu tivesse deixado um peso enorme no chão ontem à noite, e agora pudesse andar sem medo de tropeçar em mim mesma.

O espelho do quarto reflete mais do que minha imagem. Reflete quem eu estou me tornando. E eu sorrio. Um sorriso real. Sem máscara, sem escudo, sem desculpas.

Minhas roupas estão espalhadas pelo chão, mas eu ignoro. Abro o armário dela e pego o primeiro blusão grande demais e um short que escorrega um pouco na cintura. Visto como se fosse minha segunda pele. No fundo, é isso que ela está se tornando: parte de mim.

Na mesa, encontro o bilhete. A caligrafia da Simone. Leio e sinto o peito aquecer.

"Te espero lá embaixo."

A caminho do café, respiro fundo. A brisa grega me abraça, e pela primeira vez eu sinto que estou vivendo de verdade. Sem medo de errar. Sem medo de ser.

No salão, as meninas conversam e riem. A Simone me vê e seu sorriso é imediato. Nossos olhos se encontram no meio da bagunça, e eu não preciso de mais nada. Me aproximo, cumprimento todas, e nos sentamos lado a lado. Meu corpo se molda ao dela como se já soubesse o caminho.

Mas eu queria mais. Queria um momento só nosso. Um momento em que eu mostrasse com ações o que minhas palavras ainda tremem ao tentar dizer.

Enquanto tomo meu café, pesquiso discretamente um mirante escondido. Um ponto isolado da ilha, não muito longe do hotel, mas longe o suficiente pra parecer que o mundo acabou ali. Vejo as imagens. O coração dispara.

Meu olhar passeia pela mesa, captando cada detalhe. As vozes ao redor se cruzam em conversas animadas, mas há uma frequência diferente vibrando num canto da mesa.

É ali. Entre Sunisa e Flávia.

Elas dividem um pedaço de mamão como quem já compartilha segredos antigos. As mãos se tocam sem querer — ou querendo demais pra parecer acidente. Um riso escapa da boca da Flávia, leve, bonito, e Sunisa desvia o olhar por um instante... mas não sem antes sorrir também, como quem foi pega no flagra de um pensamento que preferia esconder.

Elas não falam muito. Mas o silêncio entre as duas diz tudo.

Tem um brilho novo no jeito que a Suni olha pra Flá. Um cuidado. Uma vontade de ficar perto. De entender. De tocar mais uma vez.

E tem algo na Flávia... um medo, talvez. Mas também uma esperança. Como se estivesse vivendo uma coisa que nunca soube que queria, mas que agora não sabe como evitar.

Eu apenas observo, em silêncio, com o coração aquecido. Porque eu conheço aquele começo. Eu reconheço esse tipo de olhar. E posso jurar:

O amor começou a se infiltrar ali.

Mesmo que nenhuma das duas esteja pronta pra admitir — ainda.

Termino o café e me viro para Simone. Seguro sua mão com cuidado. Ela levanta uma sobrancelha, provocadora, como quem já espera que venha algo do tipo.

Between The LinesOù les histoires vivent. Découvrez maintenant