Me pego observando os casais ao redor e sorrio com um certo gosto doce-amargo. Rebeca e Simone estão como se vivessem uma lua de mel secreta. Mal se olhavam nos olhos dois dias atrás, e agora não conseguem se desgrudar. Lorrane e Jordan são aquele caos que combina. Melanie e Julia? Duas crianças descobrindo como é amar com pureza. Kaylia e Shilese... bom, estão sendo elas mesmas — e por incrível que pareça, isso tem mais poesia do que parece.

E eu?

Eu, que dei a ideia dessa viagem.

Eu, que organizei cada detalhe pra ver todo mundo feliz.

Eu estou aqui.

Sozinha.

Ou talvez... não exatamente sozinha. Porque Flávia está ali. E ela sorri pra mim como quem não sabe que muda meu dia só com esse gesto. Ela me toca o braço quando fala alguma coisa aleatória. E cada toque dela é como um raio gentil atravessando minha pele.

Ela brinca, me chama de "romântica frustrada", cutuca minha cintura pra me fazer rir — e consegue. Sempre consegue. Porque rir com ela é como respirar melhor.

E ainda assim, eu não sei o que fazer.

Não quero atropelar nada. Não quero assustar. Não quero perder.

Mas meu Deus... como eu quero.

Como eu quero dar um passo e descobrir se, do outro lado, ela também tá esperando por mim.

Flávia se aproxima com um copo na mão, os cabelos presos num coque despretensioso que, de alguma forma, só a deixava mais bonita. Ela me encara por um instante, olhos semicerrados, e a voz vem como uma corrente leve me puxando de volta à realidade:

— Tá pensando o que, ein?

Meu coração aperta um pouco antes de responder. Ela me pega desprevenida às vezes, do jeito mais bonito que existe.

— No quão linda você tá hoje — deixo escapar, a voz mais baixa do que eu pretendia, como se confessasse algo.

Flávia desvia o olhar, mas não consegue esconder o leve rubor nas bochechas. É rápido, mas suficiente pra me fazer sorrir. Ela tenta disfarçar com deboche:

— Não vou cair no seu papinho, Suni. Boa tentativa.

— Não é só um papinho, Saraiva — rebato, firme, e percebo o exato momento em que ela para de sorrir. A resposta parece atingir algum lugar nela. Ela engole em seco, mas não rebate. Só respira fundo e olha em outra direção, como se fugir do meu olhar fosse mais seguro.

A manhã já tinha virado tarde, e com o sol baixando, o grupo começava a se espalhar. Rebeca e Simone haviam desaparecido como de costume, Melanie e Júlia estavam no canto trocando risinhos e olhares doces, Jordan e Lorrane tinham ido caminhar pela praia. Shilese e Kaylia estavam em mais uma das conversas que pareciam flertes disfarçados. E eu, ironicamente, me sentia sozinha no meio de tanta conexão.

Tomo coragem.

— Bom... acho que todo mundo tá ocupado hoje. Quer sair um pouco?

Flávia me encara de novo, surpresa.

— Sair pra onde? — pergunta, como se precisasse de mais razões pra dizer sim.

Tiro o celular do bolso, deslizo até o mapa do hotel e mostro a ela um ponto marcado com uma estrela discreta.

— Achei isso aqui. Uma trilha pequena que leva até uma cascata escondida. Quase ninguém vai. Dizem que o pôr do sol de lá é surreal. A água é limpa, dá pra nadar, e... sei lá. Achei a sua cara.

Between The LinesWhere stories live. Discover now