— O meu também — respondo, e não é só uma resposta, é quase uma entrega, uma confissão sussurrada entre os espaços de ar que dividimos.

Nos deitamos sobre a canga que estendi sem que ela percebesse, e meu corpo encontra o dela com naturalidade absurda, como se esse encaixe já existisse antes mesmo de nós duas termos nos permitido, como se estivéssemos esperando por esse momento desde sempre, só sem saber. Meu rosto repousa em seu peito, e o som do coração dela batendo me envolve por completo, como se cada batida dissesse "fica", como se dissesse "agora é seguro".

A brisa quente passa por nós, mas nada que o calor do corpo dela já não tenha superado. Ainda assim, não é a temperatura que me inquieta — é esse silêncio entre nós que grita dentro de mim, esse silêncio que me obriga a finalmente falar o que meu peito guardou por medo de não ser o suficiente.

— Eu tenho medo, sabia? — confesso de olhos fechados, com a respiração presa, como quem espera que o mundo pare de girar por um segundo só pra eu conseguir dizer tudo. — Medo de não saber cuidar disso... da gente.

Não há pausa entre meu medo e a resposta dela, porque quando ela me beija no topo da cabeça, não é só um gesto — é um pacto. E quando a voz dela vem, baixa, grave, firme e doce ao mesmo tempo, é como se ela me envolvesse por dentro e por fora.

— A gente aprende juntas — ela diz, e essas três palavras têm mais força do que promessas inteiras que já ouvi na vida.

Minha mão se fecha no tecido da camisa que ela veste, e só aí percebo que tremo um pouco. É difícil admitir, mas ela me dá espaço pra ser frágil, e isso me fortalece de um jeito estranho, bonito, quase milagroso. Quando respiro fundo de novo, sinto o cheiro dela — a mistura do seu perfume com o sal do mar, com a pele quente da noite passada, com tudo o que ela é. Tudo o que eu amo.

— Obrigada por não ter desistido de mim — sussurro contra sua pele, sem levantar o rosto, sem abrir os olhos, porque eu preciso que ela saiba disso antes de qualquer outra coisa.

Ela se mexe suavemente, só o bastante pra me abraçar mais forte, e sua boca encosta na minha têmpora num beijo demorado, tão cheio de cuidado que eu quase choro.

— Obrigada por voltar inteira — ela responde, e quando diz isso, percebo que não foi só ela que esperou por mim. Eu também me esperei.

Ficamos ali, deitadas no meio do mundo, com o mar à frente, o céu aberto acima e o tipo de silêncio que não pesa — o tipo de silêncio que acolhe, que embala. Pela primeira vez, não há nenhuma parte de mim querendo fugir. Pela primeira vez, eu entendo que amar alguém é ficar mesmo com medo, é segurar a mão mesmo tremendo, é dizer "eu tô aqui" mesmo quando tudo dentro de você quer correr.

E eu estou.

Ali. Inteira. Por ela. Por mim. Por tudo o que a gente ainda vai ser.

Pelo menos eu espero.

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Sunisa

Como é possível meu coração acelerar só por ver seu olhar cruzar o meu?

É quase imperceptível, mas acontece. Sempre acontece. Como se, toda vez, algo em mim despertasse. Sua risada me invade antes mesmo de chegar aos meus ouvidos. E me atravessa. Me tira do chão, me desarma, me faz desviar o olhar com medo que ela perceba. Medo... ou esperança.

Porque se eu não desviasse, ela veria.

Veria que meu coração já a escolheu há muito tempo. Que meu corpo inteiro responde à presença dela como se ela fosse casa. Que, mesmo sem saber, ela tem em mãos tudo aquilo que me sustenta.

Between The LinesWhere stories live. Discover now