— Você já tá provando, Rebeca — ela responde, com a voz baixa, cheia de emoção. — E tá fazendo isso tão bonito.

Encosto minha testa na dela. Meus olhos fecham. O mundo desaparece.

Só fica o som do mar, o calor suave da pele dela contra a minha, e a certeza imensa, absoluta, de que ali, naquele instante, a gente está certa.

Por dentro, algo em mim se aquieta.

A menina que tinha medo de se entregar, de perder o controle, de não ser suficiente... ela ainda existe. Mas agora, ela não está mais sozinha.

Agora ela tem alguém que segura sua mão. Que olha nos olhos dela e diz: "vai ficar tudo bem". Que beija devagar, com paciência, como se dissesse com os lábios o que a alma já grita.

E quando a Simone se aproxima e encosta sua boca na minha, eu entendo. Não é o fim de uma história.

O beijo começa lento.

Calmo.

Sem nenhuma urgência, sem pressa alguma — como se ela estivesse me cuidando com a boca. Como se conhecesse cada canto meu que já foi ferido, cada parte da minha alma que ainda sangra em silêncio. É um beijo que não só toca minha pele. Toca minha história. Meu passado. Meus traumas. Meus medos.

Ela me beija como quem diz: "eu sei onde dói e vou ficar aqui até sarar."

E eu deixo. Deixo porque o toque dela não assusta — consola. Não invade — acolhe.

Me sinto como uma adolescente de 17 anos descobrindo o que é o amor de verdade. Com as pernas meio bambas, o peito apertado de ansiedade boa, o frio na barriga que não vem do medo, mas da intensidade.

Um beijo com gosto de primeiro amor. Mas também de único.

Porque o que eu sinto quando os lábios dela tocam os meus... é resistência. É destino. É alma gêmea. É aquele tipo de amor que a gente só lê em livro, ou escuta em música triste e acha que nunca vai viver.

Mas eu tô vivendo. E tá acontecendo agora.

Meus dedos se agarram à barra da blusa dela com uma urgência silenciosa, como se só aquele toque pudesse manter o mundo no lugar. Como se meu corpo inteiro gritasse, sem voz: "fica." E ela fica. Firme. Presente. Como sempre esteve, mesmo quando eu fugi.

Ela segura meu rosto com as duas mãos e aprofunda o beijo com uma doçura que quase rasga. Não tem pressa, não tem dúvida. Apenas o toque certo, no tempo certo, como se os lábios dela soubessem exatamente onde eu quebrei — e agora estivessem colando cada pedaço com amor.

Minhas mãos percorrem suas costas devagar, deslizando com reverência. Como quem toca algo sagrado. Porque talvez seja isso mesmo... tocar Simone é tocar um milagre. E o jeito que ela me beija não é só desejo. É muito mais.

É fé no que somos.

É promessa do que podemos ser.

É casa. A mais segura, a mais bonita, a que eu pensei que nunca teria.

Encosto minha testa na dela assim que nossas bocas se afastam, mas não nos soltamos. As respirações seguem em ritmo de furacão. Os olhos fechados. E, por um instante, o mundo inteiro silencia, como se reconhecesse o que está acontecendo aqui.

E nesse silêncio que só o amor verdadeiro consegue fazer, eu entendo:

Simone Biles é meu ponto de partida. Meu lar. Meu refúgio e tempestade.

E se há algo mais profundo do que isso... então, talvez, seja o nome de Deus.

— É... a Grécia vai se tornar meu país favorito — ela diz, e mesmo que a frase pareça simples, o jeito como ela me olha quando diz isso me faz entender que não é o país que a marcou, sou eu, somos nós, e por isso sorrio, baixo, pequeno, quase tímido, como quem ainda está tentando acreditar que tudo isso é real, mas já sentindo a certeza pulsar dentro do peito.

Between The LinesWhere stories live. Discover now