— Confia em mim?

Ela sorri. Aquele sorriso torto, confiante, que bagunça tudo em mim.

— Sempre.

E então eu sei.

Ela me perdoou. E agora... agora é minha vez de mostrar que eu também me escolhi. Que não vou mais fugir. Que vou ficar. Por mim. Por ela. Por nós.

O caminho até o mirante é ladeado por pedras claras e árvores retorcidas pelo tempo, como se a natureza quisesse proteger aquele lugar de olhares apressados. Simone caminha ao meu lado em silêncio, mas é aquele silêncio confortável, cheio de presença. De vez em quando ela aperta minha mão e eu a olho, só pra ter certeza de que ela é real. Que isso tudo é real.

Quando chegamos ao topo, o mundo parece parar. A vista é de tirar o fôlego — o mar embaixo, se encontrando com o céu numa linha quase imperceptível. As casas brancas de Santorini ao longe, os telhados azuis brilhando sob o sol forte. É bonito demais pra ser só paisagem.

Ela sorri, e eu não resisto — puxo-a pela cintura com firmeza, como quem quer dizer "eu te escolhi e faria isso mil vezes". Ela se encaixa em mim como se fosse o lugar de onde nunca deveria ter saído.

— Você planejou isso só pra me fazer chorar? — ela pergunta, a voz embargada.

— Planejei isso pra te mostrar que eu tô mudando, Simone. Que cada passo que eu der agora vai ser em direção a você.

Ela me olha de um jeito que me desmonta inteira. Como se enxergasse todas as minhas versões e ainda assim escolhesse ficar.

— Eu nunca fiz isso com ninguém — confesso.

— O que?

— Me entregar. Fazer planos. Querer que alguém veja o mundo pelos meus olhos.

Ela sorri mais ainda e me puxa para um abraço com gosto de lar.

E é exatamente isso que ela se tornou: lar. Um refúgio quente no meio do caos. Um abraço em forma de pessoa. E quando os braços dela me envolvem, tudo desacelera. Meu peito silencia, meus medos se calam, e eu me dou conta de que, por muito tempo, eu estive fugindo de algo que, na verdade, sempre desejei.

O vento sopra forte, e meu cabelo voa, se soltando como se até ele estivesse se rendendo ao momento. Mas não é o vento que me bagunça. É ela. Simone. Com aquele olhar que me atravessa e me lê por dentro. Firme, intenso mas com doçura suficiente pra curar cada parte de mim que já foi quebrada. Ela sorri com a alma, como quem já sobreviveu ao pior e ainda assim escolhe amar. Ela me bagunça, me desmonta, e, ironicamente, é nessa bagunça que eu me encontro. E eu amo cada segundo disso.

Nos sentamos na beira do mirante, os pés soltos, balançando no vazio. Mas mesmo com o precipício logo abaixo, eu nunca me senti tão segura. Simone está ao meu lado. E talvez pela primeira vez na vida, eu saiba que estou exatamente onde deveria estar.

Olho pra nossa sombra projetada na pedra — duas silhuetas tão próximas que parecem uma só. É quase simbólico. Porque foi isso que sempre fomos, mesmo quando tentamos fingir o contrário. Mesmo quando nos escondemos atrás de desculpas, orgulho ou medo.

Eu respiro fundo. Meu coração bate forte. Não de ansiedade. Mas de entrega.

— Eu pensei em tantas formas de te provar que mudei — começo, com a voz baixa, mas firme. Ela me olha. Atenta. Presente. Como sempre esteve, mesmo quando eu não soube merecer. — Mas acho que só vivendo é que se mostra isso, né? E eu quero viver com você, Simone. Com todas as minhas falhas, mas com a vontade absurda de acertar.

E é isso. Não tem roteiro, não tem frase perfeita. Só tem verdade.

Ela segura meu rosto com as duas mãos. E por um instante, tudo desacelera. O polegar dela acaricia minha bochecha com tanta delicadeza que eu sinto vontade de chorar. Porque é carinho. Mas também é aceitação. É perdão. É amor.

Between The LinesWhere stories live. Discover now