Capítulo 1

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E, naquele momento, Catherine se viu sozinha na frente do túmulo de Alfred. O vento fazia as árvores sibilarem, ele levava embora as folhas, indicando que o outono estava se aproximando. Ela se ajoelhou e colocou uma única rosa vermelha onde estava escrito "Filho e marido amado, para sempre lembrado em nossos corações", mesmo seis anos após a morte de seu marido, Catherine continuava a se sentir culpada por ter sentimentos por outro homem. Mas porque estava dessa maneira? Mesmo amando Clark, não pôde se satisfazer nesse amor, ele não havia aparecido no local marcado, isso significava que o sentimento não era recíproco. Então, de certa forma, ela ainda continuava fiel ao cônjuge falecido. Isso a entristecia mais do que a tranquilizava. Catherine ainda estava confusa com essa bagunça em seus pensamentos.

 Ela suspirou pesarosamente, não havia dúvidas, iria retomar sua vida, a monotonia e solidão voltaria a lhe fazer companhia. Seu antiquário voltaria a ser o destino de todos os dias. Do que adiantava ter um espírito livre se vivia presa em sua rotina? A idade também não lhe ajudava, seu tempo de meninês já havia passado há uns bons anos, não seria vista com olhos agradáveis pelos da sua volta caso seguisse seu coração. Ela tinha o nome do marido para zelar, não o mancharia nem mesmo em sua morte. Catherine se levantou vagarosamente e colocou seu chapéu, não perderia mais tempo com ideias e sonhos ridículos, pertencentes somente aos que ainda tem uma vida inteira pela frente. Tinha que manter os negócios da família, ainda mais com o mundo sofrendo as consequências da horrível Grande Guerra, não se daria ao luxo de fazer suas próprias vontades.

Andava cabisbaixa até a saída do cemitério, não notando que um senhor, que ela tão bem conhecia, a  esperava embaixo de uma árvore antiga. Ele fez um barulho, imitando um pássaro, e Catherine olhou, de primeira não percebeu o homem ali, mas logo voltou sua atenção e reparou nele. Imediatamente congelou, não acreditava que ele estava ali. Estaria Clark brincando com os sentimentos daquela viúva? Sua feição enrugou e ela se pôs de volta a caminhar, Clark respirou fundo e notou que precisaria mais do que uma simples imitação para ter a chance de se explicar para sua amada, por isso andou com passos largos até ela

— Espere, Catherine, você não deu espaço para que eu me explicasse! - O homem pegou no braço dela, impedindo-a de andar.

Catherine franziu o cenho e tentou livrar-se das mãos de Clark

— Explicar o que? Entendi muito bem, senhor Cavanaugh, entendo que se relacionar com uma mulher exatamente da sua idade nesse ponto de nossas vidas pode significar uma decadência de escolha, ainda mais sendo ela uma viúva. Estou te dando a oportunidade de procurar um bom partido ainda na flor da idade e inocente do mundo - ela conseguiu fazer com que ele a soltasse e voltou para seu caminho até o portão do cemitério.

— Não fui ao nosso encontro porque o navio de mercadorias ficou preso no porto. Tive que viajar imediatamente até o local. Voltei hoje pela manhã, fui até sua casa e sua empregada disse que estava aqui. Eu não desisti de nós, Catherine. Nunca faria algo parecido com isso.

Ela parou ao escutar essas palavras, porém, não olhou para trás. Clark percebeu que ela sentia sua sinceridade nas palavras, então retirou seu chapéu e o segurou na altura do tórax, deu alguns passos para se aproximar dela

—  Não me importo com nada, o amor chegou novamente em nossas idades, devemos aproveitá-lo, não deixar que o possível falatório atinja nossas vontades.

Catherine fechou os olhos e engoliu seco, as palavras e a voz de Clark fazia com que seu corpo vibrasse, ela queria acreditar nele. Apoiou suas mãos, cruzadas, na cintura de sua saia e se virou para encará-lo

—  Preciso de mais do que apenas palavras para confiar em você, Clark - sua voz era pesarosa, sentia-se mesmo o cansaço e desilusão na maneira em que Catherine falava. Clark sentiu.

Ele balançou a cabeça e colocou a mão no bolso e, pela hesitação que Cavanaugh demonstrou, Catherine comprimiu os lábios, pensando que ela estava certa de início. Mas algo a surpreendeu, Clark retirou de seu bolso uma caixa de anel, o homem havia por muitos dias pensado no que isso representaria e, naquele instante, percebeu que era o momento perfeito para dizer, através de um gesto, o quando ela era importante para ele

—  Eu quero mesmo ficar com você, Catherine, não imagina o quanto. Suas conversas me animam, sua presença acalenta meu coração, sua beleza, virtudes e índole são admiráveis. Não há outra palavra do que amor para descrever o que sinto por você.

O vento parou, parecia que até mesmo ele estava envolvido na declaração de Clark, o mundo, de repente, pertencia somente a ela e ele. Uma pequena e discreta lágrima escorreu de um dos olhos de Catherine, ela limpou, sem se preocupar com a luva que sujou com o pó de rosto. Aquela senhora, que até pouco tempo pensava que voltaria a ser sozinha, se viu com as esperanças renovadas, pegou na mão livre de Clark e a apertou levemente entre seus dedos

—  Clark, sua coragem e seu discurso me fascinam, mas não posso falar sobre isso em frente ao cemitério em que meu marido está. A grande guerra tirou ele de mim, então pode entender minha dor ao conversar nesse local. Amanhã ao entardecer, se encontrar um lenço branco na porta de sua casa, saiba que estou disposta a deixar meu medo e decepção para trás. Caso não, teremos que aprender a viver sem esse amor tardio.

Finalizando sua fala, Catherine foi até o automóvel, onde o motorista a aguardava, ignorou os chamados de Clark, seu coração estava pesado, mas é que ainda se encontrava demasiadamente sensível, e aquele desencontro de dias atrás com Cavanaugh a fez repensar em sua vida. E agora ela teria que reavaliar o que já havia reavaliado. Enquanto isso, Clark colocava seu chapéu e observava sua amada ir embora, seu semblante estava triste. Decidiu ir para casa e apenas sair quando o tal lenço branco aparecesse em sua porta.

Fim do último ato.

Quando as Luzes se Apagam - (Pausado)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora