CAP 2

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Adrian Marcelo:

“Eu sempre quis poder enxergar a alma das pessoas”...

Ser analista, não é simplesmente viver sentado em uma poltrona confortável, ouvindo as pessoas desabafarem os seus problemas! É acima de tudo, tentar achar meios de ajudar tal pessoa á solucionar os seus problemas de forma lúcida,a ajudando também,á fortalecer o seu psicológico.

Depois que perdi a minha esposa e o meu filho em um acidente de carro causado por mim mesmo, eu perdi a fé que  tinha em Deus,mesmo antes chegar á ter fé nele.
Como Deus é tão bom, e permitiu que eu matasse a minha família naquele acidente?

E desde então, a minha vida tornou -se um mar de culpa! Sim,eu me culpo, mesmo sabendo que foi um acidente, e eu não tive a intenção de destruir a minha vida daquela forma.

Seguir em frente não foi nada fácil! E foi aí, que eu resolvi ocupar a minha mente com os estudos. Como eu já era psicólogo, fiz uma especialização para poder realizar análises com as pessoas,abri o meu próprio consultório, e sou renomado na área da psicologia, e da psicanálise também.

Mas na verdade, eu me escondo atrás dos problemas dos outros, para tentar neutralizar as minhas dores. Depois que a Irma se foi, eu passei á acreditar mais nesse lado espírita das coisas, pois ela era espírita, e deixei de lado a hipótese de que possa existir um Deus superior á todas as coisas.

O meu semblante sério, quase nunca esboça um sorriso, e eu já estava acostumado com tal coisa. Pra quê andar esbanjando uma felicidade que não me pertence?

Morando sozinho em um apartamento, onde o cheiro da minha esposa,e os brinquedos do meu filho ainda estavam por todas as partes, eu me torturava á cada novo amanhecer, e anoitecer.

Por quê as cenas daquele acidente não saem da minha cabeça?! Por quê? Por quê? Por quê essa tortura nunca acaba?! Eu me perguntava,e ás vezes chegava á pensar que estivesse ficando completamente louco.

09:00 horas da manhã..

---- Silvia, peça pro próximo cliente entrar! – Falei com a minha secretária pelo telefone.

Vejo a maçaneta da porta girar vagarosamente, e vejo a minha amiga Malu que foi minha colega de trabalho durante algum tempo, quando eu ainda estava na faculdade,mas trabalhava em um banco.

----- Malu! Você por aqui?! Quanto tempo! Algum problema? – Dei um sorriso forçado (sou péssimo em esboçar sorrisos).

----- Meu amigo,Adrian! Muito tempo mesmo! – Me abraçou, me deixando tímido.

----- E aí? O que fazes da vida? – Perguntei.

----- Eu sou a gerente do banco agora, acredita? Fui promovida á gerente depois que você pediu demissão,e estou lá até hoje! Amando o que faço! – Sorriu.

----- Que ótimo! Mas, algum problema,ou você só veio fazer uma visita? – Perguntei, pois haviam mais clientes á minha espera.

----- Não! É que eu trouxe uma amiga que está passando por uns problemas, e queria que você a ajudasse! – Fiz sinal positivo com a cabeça,e a moça entrou.

Malu retirou-se da sala, me deixando a sós com a tal amiga dela.

---- Então, o que se passa? – Perguntei.

---- Eu quero morrer! A minha vida acabou! O meu noivo me traiu com a secretária gostosona dele, e eu quero me mataaarr! – Nossa! Que louca! Ela começou á chorar, se bater, puxar os cabelos..

----- Tó! – Lhe entreguei uma faca.

----- O que isso? – Ela ficou paralisada.

----- Se mata! Você vai mesmo ter coragem de tirar a sua vida, por causa de um homem desleal, infiel? Se você morrer, a vida dele vai continuar da mesma forma! – Fui franco.

----- Não me provoque! Eu posso me matar, e você ser o culpado de tudo! – Ameaçou.

----- Pode fazer! Estou á espera! – Falei tranquilamente.

Ela pensou em passar a faca nos pulsos, mas depois largou a faca, pôs em cima do meu birô, e levantou-se brava.

----- Você é louco, isso sim! Eu tenho uma vida para viver viva! – Gritou, e eu não contive a risada.

----- Pára de rir agora! Analista maluco de uma figa! – A moça que eu nem sabia o nome pegou a bolsa dela, e saiu da minha sala brava.

Claro que eu não daria uma faca para todos os meus clientes! Mas dei para aquela em especial, pois o que faltava nela, era se valorizar mais! Ela não iria morrer por um cara que não lhe deu o devido valor, e ela sabia disso! Isso estava guardado no seu subconsciente.

Como uma ruiva linda daquela,vai sofrer por um imbecil qualquer? Com a beleza que possui, ela é capaz de fazer o contrário,e deixar muitos homens pagando pau pra ela.




Katherine:

Entrei em casa irritada, e Malu estava vendo tv tranquilamente.

---- E aí amiga? Como foi a consulta? Você está melhor? – Perguntou animada.

---- Aquele dali é mais louco que eu! Ele me deu uma faca para mim me matar, pode um negócio desses? Quanta ousadia.. Idiotice.. – Bufei.

----- E você está viva! Vendo? O Adrian é ótimo! Com ele, a depressão nem vai chegar perto de você! – Malu falou.

----- E quem disse que eu vou voltar lá? – Virei o rosto.

----- Aah vai! Vai sim! Ô se vai! Eu deixei algumas sessões pagas para você! Você não pode me fazer gastar á toa! Você vai! – Desta vez, foi ela quem bufou.

----- Te odeio. – Fiz bico.

----- Mas,quer bem dizer, que ele não é um gato? – Cochichou.

----- Eu gosto de homens barbudos, e você sabe disso! Aquele cara lisa não me atrai! Agora dá licença, que eu preciso ir para o meu quarto tomar um banho, e chorar pelo meu ex- noivo/ barba perfeita.

Tomei um banho demorado, e como eu havia dito, realmente fui chorar pelo Dimitri.

Já fazia 1 semana que eu não chegava perto do meu celular. Então, quando liguei o aparelho... Nossa! Aquilo parecia está possuído por uma coisa sobrenatural! Não parava de vibrar um tempo sequer, e adivinha? Muitas mensagens de texto do Dimitri,ligações,e recados deixados por ele em todas as minhas redes sociais.

---- Cretino! – Falei desligando o celular novamente, e o jogando em cima da minha cama.

Depois me joguei na cama, e acordei só as 15:00 horas da tarde, com uma cara de bull dog amassada (nada contra,bull dogs).

----- Amém! Ressuscitou! – Malu disse.

----- Pra onde você vai assim, toda arrumada? – Perguntei coçando os olhos.

----- Aah, vou sair com um gato aí! – Respondeu sorrindo. – Estou bonita? – Deu uma rodadinha.

----- Está linda, mas cuidado com esse “gato”. – Me joguei no sofá.

----- Não se preocupe! Eu sei me cuidar! Ah, tem almoço pronto na cozinha! Esquenta no microondas, e não fique sem comer! Tchau,me deseje sorte. – Saiu correndo ao ouvir um carro chegar lá embaixo.

----- Tchau, mamãe! – Ironizei com desânimo.

Como Malu já havia dito, as férias estavam sendo a minha salvação! Eu não aguentaria trabalhar olhando todos os dias para a cara do Dimitri, com essa maldita deprê. Sim, eu e Dimitri trabalhamos na mesma empresa!

Assim como eu, ele também é arquiteto. Nos conhecemos ainda na faculdade, e foi aí que começamos á, namorar, noivar, até acontecer o “ocorrido”.

E o pior de tudo, é que a empresa em que eu trabalho,tem como proprietário, o pai do Dimitri! Mas, Quando eu voltar das férias,vou tentar agir naturalmente como uma funcionária qualquer,tratar o safado do Dimitri com todo o meu profissionalismo,e nada mais.

Adrian Marcelo:

Para a minha surpresa, quando chamei o próximo paciente a ruivinha do início da semana estava de volta.

----- Boa tarde! – A cumprimento.

----- Boa tarde. – Respondeu seca.

----- Em que posso ajudar? Desculpas pela primeira consulta.. Acho que não foi como imaginava.

----- Tudo bem. Eu quero dar o troco no meu ex, e fazer ele pagar tudo o que me fez passar! – Respondeu com lágrimas passeando pelo seu rosto.

Somente após ela me contar toda a sua história calmamente, eu pude entender o que a afligia.

----- Eu fui criada dentro dos princípios desde criança, se é que me entende, e eu nunca.. É... nunca... – Estava tímida.

----- Fez sexo? – Tentei completar a frase.

----- É! Durante o meu namoro, e noivado com o Dimitri,eu nunca permiti que ele me tocasse antes do casamento. – Baixou a cabeça.

----- E agora você entende, por quê ele te traiu? – Arqueei a sobrancelha.

----- Que cretino! Eu não havia parado para pensar nisso! Tudo por sexo?! Ele resolveu jogar os novos planos fora,por causa de sexo?Que nojo eu estou dele! – Pôs as mãos sobre o rosto.

----- É,infelizmente existem homens que não suportam essa espera. É um pouco constrangedor eu estar te falando tal coisa, mas é a realidade! Mas, te aconselho á continuar seguindo os seus princípios, pois nem todos os homens são iguais.

Ela deu um sorriso leve, me agradeceu, e foi embora, na promessa de voltar para uma terceira sessão.

O psicológico dela estava bem abalado, mas nada que mais sessões de análise não resolvessem.

Ela ficou bem tímida ao falar que ainda era virgem, mas eu respeito,e admiro a decisão dela,pois mediante á um mundo tão banalizado como o de hoje,esta é uma decisão muito nobre.

Katherine:

Burra! Burra! Como eu não percebi antes, que o Dimitri me traiu, por causa de sexo? Se antes eu não queria saber dele, imagine agora! Se não suporta esperar o meu tempo, não merece o meu amor!

Mas o pior de tudo, é que as boas lembranças que eu tenho de nós dois juntos, insiste em ficar rodeando os meus pensamentos, e aumentando a saudade.

Ás vezes penso em esquecer a tal Tamara, perdoá-lo, e seguir em frente como se nada tivesse acontecido, mas eu não posso me maltratar dessa maneira! Eu nunca mais confiaria nele, e o ciúmes iria destruir tudo novamente.

Quando lembro daquela barba enorme, aquele corpo másculo, aqueles olhos azuis, e aquele cheiro amadeirado do perfume que ele usa, me dar uma vontade de ligar para ele, dizer que eu o amo mais que tudo, e que perdoar é um ato nobre.

Mas, eu não posso ser hipócrita! Eu não perdôo! E nunca vou esquecer da cena que presenciei. Nunca!

----- Pode uma coisa dessas?- Falei indignada ao contar para Malu o que o analista me ajudou á entender.

----- Ai amiga, mais também né? Com a idade que você tem, ainda é virgem? Isso é tão antigo! Você errou! Devia ter “se jogado”,curtido o seu noivado “com benefícios”,e ponto! Talvez essa Tamara nem tivesse existido na vida do Dimitri. – Resmungou.

----- Que coisa feia, Malu! Não curti nada esse seu conselho depravado! Pensei que respeitasse a minha decisão. – Bufei chateada.

----- Respeitar.. Eu respeito! Agora entender, e apoiar é outra coisa! Amiga, você não tem medo de ficar pra titia não? – Sorriu.

----- Estou decepcionada com você,Maria Luisa! – Me irritei, e saí de casa.

----- Me chamou pelo meu nome? Peraí Kath, você está realmente chateada comigo? – Fez uma cara estranha.

----- Depois nos falamos Maria Luisa. Até mais! – Saí sem direção.

Fui passear no parque tentando espairecer um pouco, sentei-me na grama verde, fiquei olhando para o nada,sentindo o ar puro, e pensando na vida.

Tirei um pequeno espelho da minha bolsa, e quando vi o meu rosto refletido, tomei um susto! Eu estava com olheiras, com um semblante triste,meus cabelos pareciam mais com uma vassoura,e com uma magreza que não pertencia.

---- Chuta, que é macumba! – Gritei olhando para o céu, me levantando rapidamente.

Quando dei por mim, algumas pessoas me olhavam com uma cara estranha. Certamente,estavam se perguntando se eu estava louca.
Dei um sorriso amarelo, e saí correndo de volta para casa.

Vamos sofrer, mais vamos sofrer ao menos bonita né? Marquei uma “horinha” no salão para dar um jeito nos meus cabelos, fiz uma limpeza de pele, e até comprei algumas roupas.

Quando voltei para casa novamente..

---- Agora sim! Se é pra chorar, eu choro! – Me joguei na cama,chorando,ouvindo músicas melodramáticas, e devorando um hambúrguer grandão,delicioso, e gorduroso.

Adrian Marcelo:

E assim, eram as minhas noites! Trancado em um apartamento,tomando conhaque sozinho, e lembrando do quanto eu,e Irma éramos felizes ali, cuidando do nosso filho. Acho que essas lembranças não me fazem nada bem,mas é disso que eu vivo! De lembranças!

Depois do que aconteceu,eu não consegui me envolver com nenhuma outra mulher, e acho que mesmo se eu tentasse,não conseguiria.

Esta culpa que insiste em me fazer perder noites de sono,e á ter pesadelos intermináveis, só tornava a minha vida um verdadeiro inferno! Tudo o que eu quero,é paz! Existe realmente, a paz?

Procuro,e espero feito um louco pelo dia em que vou dormir tranquilamente,sem acordar no meio da noite tendo pesadelos,ou chorando lembrando daquele acidente terrível.

Eu me escondo atrás da minha profissão! Ouvir os problemas, e os anseios das pessoas, de certa forma, me ajudava á esconder os meus. Sendo assim, eu tentava seguir a minha vida normalmente.

O Analista Perfeito (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora