(6) Outro sonho e um convite

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— Não é possível... — Sussurrei para mim mesma.

Atrás da porta havia um imenso campo de lírios, de todos os tipos e cores, iam do branco angelical ao vermelho sangue. O perfume do local era inebriante. O céu era um enorme manto de nuvens tão brancas que pareciam ser feitas de algodão. Olhei ao redor, havia também um lago raso, cuja água era extremamente límpida, seu fundo continha pequenas flores amarelas. Fiquei completamente hipnotizada com a beleza do lugar. Desci os três degraus da escada de pedra que me levaria até aquele manto de cores. Caminhei de encontro às flores, mas o gatinho miou, interrompendo-me. Olhei para trás, o bichinho estava ao lado de uma mesa, que parecia ser feita de vidro. Havia também duas cadeiras.

— Para quem é a outra? — Perguntei a ele enquanto me sentava.

Ele pulou na cadeira.

Claro.

Olhei os objetos acima da mesa. Havia uma tigela -também de vidro- que continha biscoitos com gotas de chocolate, e uma chaleira com uma xícara ao lado. Acreditei ser para mim.

— É muita bondade sua, mas... — sim, eu estava falando com um gato. — Eu não tomo chá.

Ele miou, como se estivesse resmungando, e a chaleira se quebrou em mil pedaços, estes começaram a se juntar logo em seguida, transformando-se numa jarra com suco de uva.

— Uau... — Murmurei, colocando um pouco de suco na xícara.

Tomei um pequeno gole, estava deliciosamente bom. Bebi todo o restante. O gatinho me encarava com um olhar curioso. Fitei o lago. Estava calor, um pequeno mergulho não faria mal a ninguém, faria? Levantei-me e corri em direção àquelas águas cristalinas. Ao entrar, percebi que a água não era fria, estava quase morna, na verdade. Decidi nadar um pouco. Quando todo aquele véu diáfano cobriu meu corpo, senti-me estranhamente... renovada.

Esse lugar tem uma pureza encantadora.

Permaneci no lago por alguns minutos. Ao sair, notei que o gatinho me olhava atentamente, como se não desejasse perder nenhum movimento que eu fizesse. Observei-me, minha regata estava extremamente colada em meu corpo, assim como o shorts, mas este ainda ficara transparente. Um constrangimento perturbador me invadiu.

É só um gato, Susana. E você está sonhando, não seja idiota.

Contemplei novamente a bolinha peluda à minha frente. Seus olhos eram tão negros... Onde eu tinha visto olhos assim?

Luca.

Os olhos do felino eram como os de Luca. Negros e enigmáticos, como se guardassem algum segredo.

Bloqueei esse pensamento em minha mente.

Fui até o bichano e o peguei no colo, levei-o até a mesa de vidro e me sentei em uma das cadeiras. Acariciei atrás de suas orelhinhas pontudas, seu pelo era tão macio. Ele fechou os olhinhos enquanto eu o afagava.

— Queria poder ficar com você. É claro que Scarlett não se agradaria com a ideia.. — Sorri.

Coloquei-o no chão e caminhei em direção às flores. O perfume delas se tornava bem mais intenso conforme eu me infiltrava entre elas.

— Obrigada... — Sussurrei para o animalzinho. — Não sei se foi você quem criou tudo isso... —Olhei à minha volta. — Mas é o lugar mais lindo que já vi — sorri outra vez—, mesmo que em sonho.

O gatinho me observou por um momento, depois começou a se desfazer como fumaça, assim como tudo ao redor. Primeiro as flores, depois o lago, e a pequena casa de madeira...

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora