(2) A surpresa

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— Droga! — Eu corria em direção à minha sala de aula.

Estava atrasada apenas cinco minutos, mas não gostava de perder um minuto sequer da aula de Literatura, minha matéria favorita. Bati na porta.

— Entre. — Alguém disse do outro lado.

Não era a voz do Sr. Miranda, meu professor, era uma voz mais calma... meio rouca também. Entrei na sala.

— Com licença, desculpa, eu...

Calei-me assim que vi Luca em pé na frente dos outros alunos. Ele me olhou atentamente.

— Não precisa se desculpar, Susana. — Ele olhou para o restante dos alunos. — Acredito que todos nós já tenhamos nos atrasado para a escola, ninguém gosta de acordar cedo... E ninguém gosta da escola.

Os outros alunos riram. Mas percebi que alguns estavam confusos, sem compreenderem como ele sabia o meu nome.

Apenas sorri, ainda estava pasma por vê-lo ali. Mais que depressa sentei-me em meu lugar, na segunda carteira da fileira do meio.

— Como ele sabe seu nome? — Perguntou-me Lúcia, boquiaberta.

— Depois eu conto.

Peguei meu caderno na mochila e rasguei um pedaço de papel enquanto Luca fazia alguma anotação, provavelmente falando de meu atraso. Escrevi:



O que ele está fazendo aqui? Onde está o Sr. Miranda? Ele vai ficar permanentemente com a gente?



Amassei o papel até formar uma bola estranha e o joguei na mesa de Lúcia. Quando ela começou a escrever, Luca se levantou e começou a falar.

— Bem, como eu estava dizendo antes da nossa pequena interrupção, meu nome é Luca Scopelli. O Sr. Miranda foi transferido para outro colégio, e eu ficarei em seu lugar... permanentemente.

Lúcia me olhou como se dissesse "Ele te respondeu". E nesse momento, os alunos assobiavam e batiam nas carteiras, comemorando a saída do Sr. Miranda.

— Isso é ridículo... — Sussurrei para Lúcia.

— Querida, sério mesmo que você prefere aquele velho babão ao invés dele? — Ela apontou para Luca. — Fique tranquila, sua notas não vão cair só porque ele é bonitinho, se é com isso que está preocupada, conheço você... Só não posso dizer o mesmo dos nossos queridos robôs da classe.

Não consegui conter o riso. Lúcia estava se referindo às garotas mais "populares", nós as chamávamos de robôs porque tudo o que elas faziam parecia ser falso, não eram naturais, parecia tudo muito bem ensaiado.

— Bem, como hoje é meu primeiro dia, vou deixar essa aula livre para vocês. — Luca anunciou para a classe.

E mais uma onda de assobios e gritos inundaram a sala. O que se seguiu foram todos juntando carteiras para formarem suas "panelinhas", vários grupos diferentes: os descolados, aquelas que ficavam com os descolados, os nerd's e os "eu não queria estar aqui e odeio todos vocês". Bem, no meu caso, eu tinha Lúcia e Filipe- ele havia faltado nesse dia- e eles tinham a mim. Isso já era o bastante pra nós. Não éramos amigos, mas irmãos, e eu os amava e não me importava de não ter muitos amigos, eles eram meu muitos amigos, e eu sabia que pensavam o mesmo de mim.

Alice Blanc, a garota mais cobiçada da sala, bem, talvez até mesmo da escola -eu não entendia bem o motivo, pois só o que lhe favorecia era sua beleza, pois eu nunca havia encontrado nela algum sinal de que possuísse um cérebro-, levantou-se de seu lugar -entre os caras descolados- e foi em direção à mesa de Luca.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora