Capítulo 1.

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"É de falar baixinho, gosta de calor, carinho."

Thaylla

São onze horas da manhã e estou procurando um emprego ao invés de me arrumar para a escola. Onde meus pais, aqueles que deveriam me manter na linha estão? Minha mãe fugiu com meu tio, e meu pai migra de bar em bar, fazendo dívidas cada vez maiores.
Minha irmã, Molly, tem seis anos e ainda deve estar dormindo. Depois de ontem, eu queria mesmo estar em casa sonhando com unicórnios, porém a única alternativa para manter minha família sob um teto é arrumar um emprego. Tudo pela Molly.

Me chamo Thaylla Cummings e tenho dezesseis anos. Sou mais baixa do que gostaria e tenho cabelos castanhos longos e anormalmente escuros para a cor. Meus olhos são grandes com longos cílios. Minha cintura é fina e minhas pernas grossas.

Estava andando fazia tanto tempo que nem percebi que já se passavam de meio dia. Cansada, frustrada e ainda sem emprego. Cheguei ao ponto de pedir para limpar o chão e livros de uma biblioteca pública, mas negaram afirmando que eu não tinha o "perfil", o que era patético.

"Qual raios o perfil para limpar o chão?", Perguntei para mim mesma enquanto trombava com alguns desconhecidos, sem um pingo de esperança. Parecia que nada bom iria acontecer, até que vi uma placa escrito "procura-se garota". Não entendi para o quê, mas eu sou uma garota e o que vir é lucro.

Ao entrar no lugar, engoli em seco ao ver uma loira com seios enormes e roupas minúsculas enquanto mascava seu chiclete de uma tão repulsiva que me fez ter nojo da goma, e como se não pudesse piorar, ela cerrava as unhas, sinal claro de que nem um pouco da sua atenção seria direcionada à mim. Andei até ela sentindo minhas pernas bambearem, apenas seu olhar me intimidava, e quando já estava perto o suficiente do balcão, ela me olha de cima a baixo e põe um sorriso cínico no rosto.

– O que deseja, querida? – perguntou com uma voz fina e enjoada, que eu tinha certeza de que foi forçada.

Tentei responder sua pergunta mas nada parecia bom, ou melhor, profissional o suficiente, e por não conseguir formar sequer uma frase, acabei gaguejando diversas vezes.

– Pare de gaguejar e fale logo! O que deseja? – insistiu mais uma vez, soando ignorante o bastante para me fazer a odiar por breves segundos.

– Bem... – comecei, parando logo depois e respirando fundo. – Vi a placa dizendo que precisavam de uma garota, e como estou precisando de emprego... Achei que... Talvez... Eu... – tentei prosseguir e antes que terminasse, ouvi a mulher gargalhar de uma forma debochada.

– Você? Jura? – sua risada saiu mais alta que segundos antes, e me senti intimidada quando a olhei colocar a mão sobre a boca. – O que te faz achar que tem o suficiente para trabalhar numa das casas de massagem mais famosas do mundo?

Franzi meu cenho ao ter certeza de onde estava e comprimi os lábios, não fazia a mínima ideia do que era aquilo, e muito menos que era famosa.

– E o dono disso tudo não tolera morenas. Precisei pintar o cabelo por conta do tapado. – a mulher confessou, dessa vez olhando para mim de uma maneira amigável, me fazendo mudar meus pensamentos sobre ela.

– Preciso muito desse emprego. – minha voz saiu como em um sussurro e um suspiro saiu ao lembrar que me restava pouco tempo, e que ainda precisaria levar Molly para a creche.

Ouvi mais uma pergunta vinda da mulher atrás do balcão, era sobre o quanto eu precisava do emprego, e tudo que consegui responder foi: mais do que imagina.

Seu olhar veio em minha direção pela milésima vez e notei que ela saiu do lugar, vindo ao meu encontro, quando pude notar o short curto e sua blusa brilhante.

– Meu nome é Lorrane. Pode me chamar de... Lorrane, afinal, é meu nome. – ela se esforçou para sorrir e retribuí o sorriso até que ela começasse a me analisar. – Seios fartos, coxas grossas, cintura fina... Boca carnuda, olhos grandes, cabelos sedosos... Garota você tem sorte.

Não entendi ao certo o que vinha acontecendo e parte de mim achou legal, era bom saber que tinha um pouco de sorte, mas ainda assim não me contive em perguntar o porquê.

– Você é o sonho de qualquer homem... E de qualquer mulher também, sinceramente. – explicou, me olhando nos olhos e mordendo os lábios. – Vou falar com a chefe.

Franzi o cenho em confusão com sua última palavra, tudo estava confuso, achei que o estabelecimento tinha um dono e não uma dona. Lorrane pareceu perceber minha confusão e se apressou em explicar, deixando claro que ele tinha uma irmã.

– Não sei se você leu antes de entrar, mas o nome daqui é Hot Paradise.

Assenti gravando o nome mentalmente enquanto a loira falava ao telefone, talvez com sua chefe. Ela falava variadas coisas sobre mim, principalmente sobre minha aparência, o que só me deixava na esperança de conseguir o trabalho.

– Ela vai te receber, fica sentada que daqui a pouco ela te chama. – Lorrane falou depois de notar meu desespero e abri um sorriso em agradecimento e me sentei onde ela tinha dito.

Meu coração batia forte com o nervosismo, era bom saber que depois de uma manhã inteira recebendo "não" eu teria a chance de ser contratada. Nem notei quanto tempo havia passado, e só percebi que cochilava quando a balconista loira voltou a me chamar dizendo que a chefe queria me ver.

Engoli em seco ao me levantar rapidamente e andei até a porta, mas antes de fazer qualquer coisa, retornei meu olhar para a possível amiga e sorri, logo batendo na porta branca a qual fui direcionada e ouvindo uma voz me mandando entrar.

– Pode sentar, querida. – ouvi depois de entrar de cabeça abaixa e quando fiz o que a voz mandava, levantei o olhar podendo encarar a mulher. – Vou dizer as regras e espero que entenda, não vou repetir. – afirmou autoritariamente e balancei a cabeça. – Levante-se.

Me levantei pouco antes da mulher e engoli em seco enquanto ela me analisava. Ela fazia as mesmas coisas que Lorrane, porém tocando em partes do meu corpo como a cintura, coxas e cabelo.

– Você trabalhará das duas às sete, usará uniforme como as outras e lembre: aqui é uma casa de massagem, não se envergonhe caso veja alguém pelado ou coisa do tipo. Preciso que escute, se lhe pedirem algo, não precisa necessariamente fazer, aqui não é um prostíbulo, algumas aceitam mas ninguém é obrigada. Só terá de fazer massagens e conversar com os clientes, alguma pergunta?

– Porque olhou meu corpo se só preciso fazer massagens?

– Beleza ajuda, na maioria das vezes quem vem aqui são homens querendo sair da rotina e esposas... Querem ver alguém diferente, entende? Prezamos o exterior acima de tudo. Qual o seu nome, anjo? – ela explicou tudo me deixando menos preocupada e sorri fraco ao notar que ela sequer perguntou meu nome antes.

– Thaylla Cummings. – murmurei esperando que ela ouvisse e escutei sua outra pergunta, que era sobre minha idade. – Dezesseis.

O olhar da mais velha mudou por breves segundos como se ela quisesse falar algo a mais, porém nada saiu. Ela me deu as chaves do armário e me passou o restante das regras, logo saindo e se virando antes de cruzar a porta e falando:

– Meu nome é Gemma, Gemma Styles. – afirmou com um sorriso e finalmente saiu, me deixando extremamente feliz e ao mesmo tempo com medo.

Eu havia conseguido um emprego.

Editado pela: stringslipa

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