O essencial é invisível aos olhos

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Kan tentou analisar suas ações. Havia sido covarde em atacá-la dentro da charrete?

--- Você está falando das esferas de bronze... --- Concluiu.

--- Sim.

--- Nenhum mago do Conselho aprovou a ideia. Na verdade ninguém teve opção.

A segunda-em-comando sorriu de boca fechada.

--- Me toma por tola?

--- O mago-rei decidiu sozinho. Ninguém sabia, e quando souberam ficaram contra ele.

--- Então Desmodes foi deposto?

--- Não. Ele dominou os outros magos.

Quando a boca forçada se abriu, deu lugar à gargalhada de quem vê graça em nada.

--- Não pode esperar que eu acredite nisso!

Ele levantou as mãos, desistindo da luta.

--- É a verdade.

***

Quando terminou de contar a história, não a deixou boquiaberta; ainda assim, viu em sinais diversos a inquietação esperada. Heelum tinha um novo governor --- ou teria, muito em breve, quando o sol resolvesse não nascer por um dia e tornar o assunto inquestionável.

--- É curioso... --- Disse ela, tão séria quanto quando entrou na charrete. --- A que tradição você disse que ele pertence?

--- É um espólico.

--- Hm. Isso não é bom...

--- Por que não?

--- O último governor foi um espólico. Imaginava-se que o próximo seria um preculgo ou um bomin de novo... Para reiniciar uma espécie de ciclo.

--- Mas quem disse que haveria um novo?

Começou a falar depois de um muxoxo de vitória.

--- Entre nós há sempre uns mais altos que outros, uns mais fortes, alguns mais inteligentes... Enquanto houver magia sempre haverá aquele que nasceu com alguma habilidade extrema para ela. Alguém cujo poder será impossível de conter a não ser que muito cedo, ou com uma força contrária muito grande.

--- O ciclo pode ter começado de novo com um espólico.

--- Não é tão simples. --- Ela descruzou os braços para se ajeitar no banco; alçou-se mais para frente, quase como se fosse contar um segredo. --- Os espólicos foram inventados...

--- E os preculgos e os bomins não?

--- ... Não da mesma forma. --- Enfatizou ela. --- Nós e os bomins já estávamos bem consolidados quando os espólicos apareceram. São uns brutos que até mesmo o direito a vagas no Conselho conquistaram por meio da força.

Ao perceber que Kan comprimia os olhos, por menor que fosse o movimento, a segunda-em-comando voltou a se recostar.

--- Sei o que está pensando.

--- Os preculgos podem ler mentes agora? --- Foi a vez da guerreira achar aquilo estranho, e Kan remendou a frase. --- Sei que eu não posso!

--- Está pensando como logo eu posso falar o que for da brutalidade. --- Disse ela, correta. --- Para mim, a magia é uma arte. Tanto quanto a guerra. Sim, pessoas morrem assim como há perdedores em qualquer jogo, mas a guerra é o grande jogo do nosso destino. Espólicos não têm sutileza. Veem a magia como só mais um meio para um fim. Pensando melhor... --- Continuou, passando a olhar para a paisagem. --- Só poderia ser um espólico que teve a ideia de atacar um exército inteiro com esferas de bronze...

A Guerra da UniãoWhere stories live. Discover now