Ninguém, com a exceção da cabeça de Frederico, tinha vindo interagir com o povo de Prima-u-jir. Nenhum parlamentar; sequer um assistente.

Boom, fez o tronco nas portas. Leonardo berrou que ela era muito forte, e talvez estivesse segurada por algo a mais do lado de dentro.

O plano com o qual todos preferiam contar era a simples pressão.

Boom.

Juntar uma quantidade de pessoas grande demais para ser ignorada e exigir, muito rapidamente, algo dos magos. Façam o que queremos ou tomaremos a cidade.

Eles, contudo, estavam sendo ignorados.

Boom.

Já não parecia mais estar usando os braços como deveria, mas suava. A porta não cedeu. Automática, pensou em continuar mais uma vez --- virou-se atrasada, quando os outros já percebiam o que havia começado, largando o tronco um a um.

Ela foi uma das últimas. Deu alguns passos pra trás sem saber para onde virar o pescoço, e logo acompanhou quem vinha correndo da praça com fome de fuga. Viu de relance os amigos seguirem seus caminhos e lembrou do próprio, descendo uma rua à lateral do Parlamento. Conhecia a cidade e sabia que faltava muito até os limites do centro. Tinha que manter a multidão que ia para a mesma direção que ela unida --- não importava muito o que estivesse os dispersando em primeiro lugar.

--- COMIGO! --- Gritou ela, parando por um instante.

Viu as dezenas, talvez centenas de pessoas na extensão da rua voltarem-se para ela, reordenando-se na corrida. Alguém com um longo bastão em uma mão e uma tocha na outra passou a chama para ela, com um simples "aqui!".

--- Ei! --- Chamou Caterina, antes que ele fosse embora. --- Você vai lutar? Quem vai lutar?

--- Eu sei quem vai --- Falou a voz rouca na quase completa escuridão. --- Vou reunir todo mundo que eu sei, você tira eles daqui que a gente aguenta!

--- Não, não agora! Vá reunindo, mas venha junto, temos que defender uma área menor!

--- ... Está bem!

--- Ei! Venham! --- Chamou Caterina. --- VENHAM COMIGO!

Não precisava, mas carregou a tocha com o braço erguido, às vezes muito acima da própria cabeça; corria por entre ruas cada vez mais vazias, sentindo-se forte como se puxasse um monstro marinho pelos bigodes. Atrás de si ouvia, por debaixo dos berros, dos sussurros e dos medos, o bater frenético dos sapatos.

Ela não tomou a decisão de fazê-los lutar tanto quanto eles não a haviam feito guiá-los mas, com o fogo da esperança nas mãos, sentia-se absolutamente responsável por aquela luta.

***

Byron, Alice, Marco, Luca e Ângela, de pé mas em frente a seus lugares na mesa, começaram a sair da sala de reuniões do Parlamento assim que ouviram as instruções de Frederico. Tornero era um dos muitos que esperavam do lado de fora, entre discípulos, policiais e soldados. Apertou-se para conquistar na fila o lugar atrás de Byron, cortando Ângela sem cerimônia.

--- Tornero? --- Chamou um policial, uniformizado em preto, de uma porta num trecho do corredor pelo qual eles já haviam passado. --- Quem é Tornero, por favor?

--- Eu sou. --- Respondeu ele, virando-se para trás e parando a fila.

--- Tem equipamento seu aqui, você tem que vir pegar.

--- Não é meu. --- Respondeu, de costas.

--- Você precisa vir pegar!

--- Vá logo, criança! --- Ralhou Ângela, provocando-o para fora da fila.

A Guerra da UniãoWhere stories live. Discover now