Até debaixo de pedras

59 6 9
                                    


Omar segue acompanhado pela senhora Senna e seu segurança, em direção ao seu destino. Ele fez questão de leva-los em seu carro. Já dentro do carro, ainda estava espantado com a frieza da mulher diante da situação. Ela não derramou tantas lágrimas pelo marido. Era forte como um touro, ou não tinha grande motivo para isso. Sua única tristeza era a filha desaparecida.

Omar pegou seu celular no porta luvas e discou um número.

— Queiroz, mande seus homens revirarem o país, se preciso for, mas quero Platão e Sombra na minha frente.

— E se eles não forem encontrados?

— Diga a esses incompetentes para procurarem até debaixo de pedras se necessário for! Quero informações e as quero logo! — seu tom era impaciente.

— Tudo bem. — Queiroz disse rispidamente e desligou sem despedidas.

Omar acelerou em direção ao IML. Pelo espelho observou Régis abraçado à Tatiana, confortando-a de algo que só eles compreendiam. Mas lembrou-se que se não ligasse para a esposa o quanto antes e avisasse que iria atrasar, perderia uma noite de sono, sendo obrigado a refletir no sofá. Ela não era assim, mas a fase na qual se encontrava a deixou muito emotiva e cheia de marra.

O carro parou diante do instituto médico e a mulher parecia se recolher a cada minuto mais desde que saiu de casa. Por onde eles passaram, ela olhava para fora meio que admirando e ao mesmo tempo tentando não ver o mundo fora dos muros que a guardaram sabe lá por quantos anos.

Tatiana arregalou os olhos, diante do IML, com espanto e estacou. Omar não compreendia, mas ela observava o rapaz de cabelos compridos e escuros, um cigarro no canto esquerdo da boca.

— Mãe, a senhora não deveria ter saído de casa e sabe disso. Deveria se recolher em casa como sempre fez e não danificar a imagem da família no mercado. — o garoto era ríspido e agressivo. O dedo em riste direcionado à mulher. — Já basta o velho morto, não precisamos de mais a senhora dando chiliques em público!

Régis jamais permitiria aquilo diante dele. O dedo do rapaz foi torcido e ele gritou.

— William, recolha-se você à sua insignificância e respeite a sua mãe. Estou cansado de tudo isso e você só buscando deixa-la pior. Seu moleque desgraçado do inferno! Se ainda ousar ao menos pensar em falar com a senhora Tatiana assim, quebro os seus dedos, sorrindo!

Omar então entendeu que o garoto repulsivo diante dele era o filho da viúva. E viu mais ainda que fosse com razão, que ela vivia depressiva daquela forma.

— Seu empregado metido! Deveria se colocar em seu lugar, seu desprezível.

— William, se desculpe com Régis! Agora! — ela exigiu. Omar apenas assistia a cena.

— Não! — ele recusou-se.

Tatiana teve uma atitude inesperada diante da grosseria do filho, lhe desferindo uma tapa no rosto. Os dedos estalados na face dele com tamanha força, marcando a bochecha. Em seguida, ainda com ira, retirou a grossa aliança que carregou por tanto tempo no anelar esquerdo e jogou-a no filho.

— Tome! A venda, irá lhe servir por uns dias até conseguir um meio de vida. Na minha casa você não entra mais! Cansei. Para mim chega! — olhou para Omar. — Leve-me logo ao corpo. Quero enterrar e me livrar o quanto antes. Este homem só desgraçou minha vida.

O que era verdade. Tatiana retirou um peso enorme de si naquele momento ao lançar fora a aliança que lhe trouxe tanto tormento.

XXX

Na Calada da Noite - DegustaçãoTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon