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III.

(Na mesma noite Ramiro confessou que deu a desculpa das plantas porque foi a primeira coisa que passou pela cabeça dele, e na verdade ele só queria que Kelvin tivesse a chave porque gostava de saber que ele podia ir e vir quando quisesse.)

De vez em quando Kelvin regava as plantas mesmo, porque mesmo que havia sido uma desculpa boba, a história o fazia feliz, e o fazia rir.

"O amor está em todo lugar
No aperto de mão, numa declaração
No fundo do coração
A gente morre e fica tudo aí
E desse mundo não se leva nada
Tem que sorrir, com dinheiro ou sem
A maior riqueza 'cê já tem"

Kelvin se empolgou para cantar enquanto ia de um canto pro outro do apartamento molhando as plantas, os pés descalços dançando pelo piso liso, tomando cuidado para não derrubar nenhuma água e deslizar pelo apartamento. Embalou tanto que nem percebeu quando a porta se abriu e Ramiro entrou, um sorriso grande e brilhante no rosto assim que ouviu Kelvin cantando.

Ramiro parou e se escorou no batente da porta da cozinha, assistindo Kelvin molhando as maiores plantas do apartamento, que ficavam na área de serviço do outro lado da cozinha.

"A gente morre e fica tudo aí
E desse mundo não se leva nada
Quem planta amor, vai colher o bem
Diga "eu te amo" pra alguém
Diga "eu te amo" pra alguém
Diga "eu te amo" pra alguém"

— Ei. — Ramiro chamou depois de um momento, o sorriso ainda no rosto.

— Oi, meu pretinho! Chegou faz tempo?

Kelvin perguntou, colocando o regador para o lado e se virando para o namorado.

- Não, acabei de chegar. – Ramiro negou com a cabeça, antes de esticar a mão para o outro. – Vem cá, vem?

Kelvin não precisou de mais estímulo antes de assentir, imediatemente se juntando a Ramiro e se aconchegando no peito dele.

- Te amo. – Kelvin disse baixinho, esfregando o nariz contra o de Ramiro.

- Te amo mais.

Antes que Kelvin pudesse discordar, Ramiro o beijou delicadamente para o distrair, rindo contra os lábios dele.

Ramiro nunca havia rido tanto antes com outra pessoa. E ele não imaginava um dia conhecer alguém que o fizesse mais feliz que Kelvin.

——/——

5 meses depois do primeiro encontro.

A primeira vez que Ramiro conheceu os amigos de Kelvin pessoalmente foi numa noite de karaokê no bar preferido deles. Ele já havia conversado com eles indiretamente por Kelvin, tinham conectado nas redes sociais tambem (ele até apresentou Luana, a melhor amiga de Kelvin, para Rodrigo, um dos advogados na empresa que era amigo dele), mas finalmente os calendários se alinharam para que todos pudessem se encontrar.

Ramiro tinha esperado que a noite fosse um pouco constrangedora, já que todos os outros eram amigos e ele era o único desconhecido, mas qualquer momento desconfortável passou em um piscar de olhos. Ramiro se deu bem com todos de cara, e passou a noite se divertindo com as cantorias, ora rindo das duplas completamente desafinadas, ora lutando para não babar quando Kelvin subiu ao palco.

Mas julgando pelo jeito Berenice riu e tirou fotos dele sem nem esconder, Ramiro não conseguiu disfarçar nem um pouco.

Já pro final da noite, quando o grupo deles era um dos últimos ainda no bar, Ramiro finalmente cedeu aos pedidos e resolveu arriscar uma música.

Ele conhecia muito mais de música agora, desde que comecou a sair com Kelvin, mas havia uma que sempre o fazia pensar no namorado, então qual música melhor pra cantar no momento?