- É meu gênero preferido, mas leio de tudo um pouco. Desde que me chame a atenção e eu sinta muito interesse. - Dou de ombros e então volto a arrumar a "cama" improvisada do Brian. Que é a mesma que a Babi dormiu quando veio aqui.

Ele volta a ficar em silencio e eu continuo arrumando a minha cama. É estranho estar de costas para ele, é como se ele fosse me abraçar a qualquer momento e beijar meu pescoço. Ou enfiar uma faca em mim. Apesar de ter certeza que ele não vai fazer nada disso. Já teve todas as chances do mundo nos últimos dias, e não fez.

- Tudo pronto, será que você pode desligar a luz por favor? - Digo e então pulo na minha cama. Ele desliga a luz e só agora consigo ficar nervosa. Mesmo depois de perceber que ele está deitado, minha respiração continua acelerada.

Daqui da cama posso sentir o cheiro do Brian. Seu perfumo forte, amadeirado. É estranho como no escuro todos nossos sentidos ficam aguçados. O barulho dele se mexendo no colchão, dos seus pés passado um no outro. Até mesmo sua respiração calma, que me faz acreditar que ele já tenha dormido. Não me atrevo a olhá-lo. Apenas fico olhando para a lua.

Lembro-me da primeira noite nesse quarto. E é engraçado perceber que ainda consigo sentir as emoções; a mesma sensação que senti no dia em que deitei nessa cama para dormir pela primeira vez. Em toda minha fúria, minha vontade de que o ano passasse rápido, meu desejo de voltar para minha vida antiga.

Hoje mal lembro mais de como era.

Óbvio que sinto muitas saudades da minha mãe, da Babi, de alguns colegas do colégio, da minha família de lá, de tudo. Das ruas, da padaria e até da mulher do caixa da farmácia que ficava na esquina.

Lembrar de tudo isso faz com que meus olhos encham de lágrimas ao perceber que me afastei de todo mundo. Até mesmo da minha mãe. Mal converso com ela mais, trocamos várias mensagens ao longo dos dias, mas são mais coisas simples, para saber o que estou fazendo e se estou bem. Nunca mais conversamos de verdade.

Já com a Babi tenho falado com mais frequência. É evidente que jamais será a mesma coisa que ter a pessoa do meu lado, mas sempre fazemos o máximo que podemos para conseguir conversar. Ainda mais agora que ela decidiu começar a trabalhar em uma loja de roupas com estilo, hm, digamos que alternativo. E eu, com meus trabalhos de modelo, mais o colégio e meu pai pegando no meu pé para conseguir entrar em alguma faculdade.

O Guilherme foi outra pessoa da qual me afastei. Tudo bem que o motivo não foi o fato de não querer sentir saudades. Talvez tivesse um pouco mais de sentimentos em jogo e a medida que o Brian começou a tomar conta dos meus pensamentos com mais frequência, menos vontade eu sentia de falar com ele, até que, aparentemente, ele resolveu desistir de investir em mim também. No fim, acabamos virando apenas conhecidos. Como se todas as conversas e o sentimento, de nome desconhecido, tivesse dissipado no ar. Ou na distancia.

- Não dormiu ainda? - A voz do Brian me desperta depois de alguns minutos em absoluto silencio. Ainda estava longe de dormir, mas era como se tivesse viajado para longe. Muito longe.

- Você também não. - Me viro e o vejo sentado no colchão olhando para mim. Permanecemos em silêncio nessa cena constrangedora. - Por que ainda está acordado?

- Sem sono. Muita coisa pra pensar. E você?

- Mesma coisa. - Sorrio e ele sorri de volta. Alguns minutos se passam até que eu diga mais alguma coisa. - Essa é a coisa mais louca que já fiz, sabia? - Ele suspende as sobrancelhas. - Tipo, virar a noite em uma praia também foi maluquice, mas deixar um garoto dormir no meu quarto e escondê-lo aqui é ainda pior.

- Se eu fosse te contar todas as minhas loucuras, acho que você nem acreditaria! - Ele solta uma risada rouca e baixa. É uma risada sem humor.

- O que você vai fazer amanhã? - Pergunto e me viro novamente para ver a lua. - Quer dizer, com seu pai e tudo mais.

Just a Year - (COMPLETA)Where stories live. Discover now