Calithen, a cidade capital de Soravelle, repleta de beleza e perigos, é palco de segredos antigos e intrigas reais. Lar da poderosa família Hartley, a realeza de sangue azul abençoada pelos Deuses, Calithen agora enfrenta um mistério sombrio: os don...
— Deuses! Você é um fantasma ou o quê? — exclamo, arfando. A criada tenta conter o riso.
— Vossa alteza, a rainha deseja falar com você.
Demoro alguns segundos para processar a informação.
— Arabella? Por quê?
— Ela não me disse mais nada, vossa alteza.
A criada se curva e volta ao seu posto. Faço menção de sair, mas Tarquin ainda está ali, me observando.
— Com licença, Milorde. Foi... agradável conversar com você — Mentira — mas preciso ir.
— Ah, me chame apenas de Tarquin, alteza. Foi um prazer conhecê-la. Espero revê-la em breve.
Ele segura minha mão mais uma vez e a beija. Retribuo com um sorriso breve e me apresso para sair, desviando das pessoas com cuidado. O salão de baile é vasto, decorado em dourado e vermelho. Uma opulência que me enjoa. Odeio ouro. Odeio dourado.
— Me chamou, madrasta? — me ajoelho discretamente ao lado do trono. Ela inclina levemente a cabeça na minha direção, sem me encarar.
— Sua irmã não está aqui. Sabe onde ela foi?
Está falando de Andrômeda. Ela deveria estar aqui — foi ela quem me trouxe até o salão.
— Achei que estava com Simon...
Eles estavam juntos antes, devorando uma torta de framboesa. Não os observei depois disso.
— Estava. Mas agora sumiu. Simon continua com os amigos, mas Andrômeda desapareceu. Procure por ela. Não posso sair daqui.
— E eu posso, Arabella? Meu pai foi bem claro: não devo perambular pelo palácio.
Não que eu o obedeça com frequência, mas hoje é especial para Lucien. Se meu pai se irritar, poderá descontar no menino. E não quero isso.
— Eu mesma falarei com ele, princesa. Não se preocupe. Ele não ficará bravo se souber que está procurando sua irmã.
Desta vez, ela me encara. E vejo, em seus olhos, a preocupação sincera de uma mãe. Suspiro.
— Céus... Está bem. Vou procurar Andrômeda.
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Talvez Andrômeda esteja do lado de fora, no jardim da ala leste. Apesar de não ser particularmente fã de flores, é lá que ela costuma praticar seus poderes quando quer ficar sozinha. Assim que avisto a porta de vidro da estufa principal, percebo que está entreaberta. Claro. Eu estava certa. Ela veio para cá.
— Andrômeda? Está aqui? — chamo em voz baixa. — Sua mãe está te procurando.
Silêncio. Nenhuma resposta. Nenhum movimento. As luzes mágicas do interior, alimentadas por encantamentos, piscam fracas, intermitentes. Parada à porta, hesito por um instante. Então, sinto um empurrão.
— Ei! Mas que diabos?! — tropeço e caio de joelhos, sem tempo para me equilibrar.
Meus olhos se fixam à frente. Há uma figura encapuzada ali. Uma máscara negra, com detalhes prateados e pequenas rosas espelhadas, como esculpidas em rubi, cobre o rosto do estranho. Um artesanato refinado demais para um qualquer. Quem quer que seja esse homem, tem dinheiro — e um gosto questionável para extravagâncias inúteis.
Ele dá alguns passos para trás e se acomoda em uma das cadeiras da estufa. Arabella adora fazer festas de chá aqui, então mesas e assentos estão sempre prontos.
— Olá, princesa. Ainda não fomos apresentados, mas eu sei exatamente quem você é — diz ele, com voz inexpressiva.
— Ah, claro que sabe. Todos sabem — respondo, seca. Não vou me mostrar frágil só porque fui empurrada.
O homem solta uma risada curta e chama outra pessoa, que se aproxima em silêncio. Talvez o responsável pelo empurrão. Ele se inclina, e o mascarado lhe sussurra algo.
— Vão mesmo jogar esse joguinho? Se eu quisesse, poderia queimar vocês dois agora mesmo — aviso, encarando-os com firmeza.
Ambos me observam, como se avaliassem minha ameaça.
— Ah, minha cara... você pode, de fato. Mas não vai.
Sua voz adquire uma rouquidão repentina. Um tom mais grave, mais sombrio.
— E por que não? — pergunto, rangendo os dentes.
— Porque, neste exato momento, todos naquele salão correm perigo. E sua irmãzinha, princesa... ela está em uma situação ainda pior.
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