" Que belo filho da..."

 O sorriso dele se estica, como uma lâmina fina prestes a cortar. Os olhos brilham com um prazer sombrio — o tipo de prazer que nasce de ver o outro desconcertado.

— Perdão, vossa alteza. Não fomos apresentados como convém. Sou Tarquin Hazel. É um grande prazer conhecê-la, finalmente.

Ele se curva, pega minha mão com uma delicadeza quase ofendida — e a beija. Um gesto digno de um conto de fadas...

Se não fosse pelo detalhe de que, segundos antes, ele basicamente me chamou de ignorante.

— Ora... vejam só. Durante todo esse tempo, achei que Tarquin fosse a verdadeira vítima. Mas, pelo visto, era o outro. — Inclinei a cabeça, pensativa por um instante. — Como era mesmo o nome dele?

A pergunta desliza da minha boca como seda — baixa, delicada, e ainda assim cortante. Um sussurro... porém certeiro. O rosto de Tarquin endurece, os olhos se arregalam, e por trás do silêncio surge algo mais afiado do que dor: raiva. Pura, incontida.

— Ah... perdoe-me, é claro. Não tive a intenção de soar insensível.

Mentira. Tive, sim.

"Que estupidez. Que espécie de criatura diz algo assim para alguém que perdeu o próprio irmão?"

Ainda finjo não saber. Ainda brinco de inocência.
Talvez um dia eu aprenda a medir as palavras. Mas não hoje.

Tarquin baixa os olhos, encarando o chão por um instante, e depois me encara novamente.

— Está tudo bem, alteza. Sei que não foi sua intenção me ofender.

Ele sorri, os olhos se fechando levemente. Mas não sou tola: vejo as veias saltadas em seu pescoço. Ele está furioso. E com razão. Eu, no lugar dele, não teria sido tão contida.

De repente, todos os olhares no salão se voltam para o trono. Meu pai se levanta, chamando Lucien.

— Meus amigos! Todos aqui sabem o quanto admiro vossa presença e lealdade. Hoje, essa admiração cresce, ao ver que vieram de suas terras, de suas casas, apenas para prestigiar meu filho, o segundo príncipe Lucien.

Ele ergue uma taça de ouro com a mão esquerda e segura Lucien com a direita. O menino solta uma risada escandalosa, fazendo todos rirem em resposta. Mas minha atenção se dispersa.

— O rei parece estar muito satisfeito em apresentar o segundo príncipe, não é mesmo, vossa alteza?

Tarquin fala com desdém. Não estou com ânimo para responder.

— Claro. Muito satisfeito.

Meu olhar se volta para Arabella. Seu vestido azul é longo e volumoso, formado por várias camadas de tecido. Ela se senta ao lado de meu pai, alisando os próprios cabelos negros com delicadeza, um sorriso perfeitamente calculado nos lábios. Seus olhos percorrem o salão até encontrarem os meus. Em seguida, ela chama uma empregada e sussurra algo em seu ouvido. A criada some entre os convidados.

— Princesa herdeira.

A voz atrás de mim me faz sobressaltar.

•𝕷𝖆𝖌𝖗𝖎𝖒𝖆𝖘 𝕼𝖚𝖊 𝕼𝖚𝖊𝖎𝖒𝖆𝖒•Where stories live. Discover now