— Estou ficando boa nisso, não acha? A melhor dama me ensinou.
Antes, eu não fazia ideia de como usar maquiagem. Minha mãe era natural demais para isso, e a rainha prefere que façam tudo por ela. Então pedi à Gwendolyn que me ensinasse. Se eu preciso usar uma máscara, que ao menos seja do meu próprio jeito.
— Você tem melhorado muito, Marisol. Mas... você se queimou recentemente. Tem certeza de que quer cobrir com maquiagem? Pode piorar.
— Gwen, eu não quero, mas preciso. Meu rosto ainda arde, mas aparecer diante da corte com essas marcas seria imperdoável. O rei quer uma princesa impecável, não uma garota ferida.
Ela bufa e revira os olhos, puxando uma cadeira para se sentar ao meu lado.
— O seu pai é mesmo cruel. Obrigar você a se apresentar assim... é desumano. — Gwen pega o material em minhas mãos, e agora é ela quem dá continuidade à maquiagem.
Gwendolyn às vezes se esquece de que está falando do rei. Do homem mais poderoso do reino. Mas é por isso que confio nela. Ela vê o que os outros fingem não ver.
— Ele não se importa com a dor. Se eu estiver bonita o suficiente para servir de moeda de troca, é o que basta.
Faço uma pausa para não inalar o pó que ela aplica com delicadeza, mas continuo, com a voz mais baixa:
— Ele quer esconder as cicatrizes, como se elas desvalorizassem o produto que ele quer vender. E logo, quer me leiloar para o príncipe mais rico que aparecer.
— Só para mandar matar o coitado depois...
Ela sussurra, mas ouço claramente. Finjo não ouvir. Melhor para nós duas.
Gwendolyn se aproxima pelo espelho da penteadeira, observando meu reflexo com olhos atentos.
— Luma, você realmente quer ser rainha? — Meu coração se aqueceu ao ouvir o apelido. — Por que não aceita o convite da sua mãe e vai embora? Você teria uma vida mais simples, mas ao menos seria sua.
Ela me faz um carinho leve no ombro e vai até o armário, pegando minhas roupas cuidadosamente.
— Sim, Gwendolyn. Eu quero ser rainha. Não porque gosto dos métodos do meu pai, mas porque fui criada para isso. Não conheço outro caminho. Daqui a três anos, Seravelle terá uma nova soberana — e será alguém que conhece as dores da coroa por dentro.
Ela me ajuda com o espartilho marrom, apertando-o com força por cima da blusa de seda e da saia volumosa.
— Ai! Merda! Isso está apertando demais!
— A rainha mandou fazer esse modelo. Disse que você deve parecer... irretocável.
— Essa mulher é perturbada... mas admito que o espartilho é bonito. Só não precisava me esmagar como um pergaminho enrolado!
Estou de frente para o espelho, agarrada aos apoios com toda a força. Gwendolyn termina o nó e ajoelha-se para me ajudar com as botas. Imagino o desgosto da rainha ao ver que optei pelas de cano longo. Um pequeno gesto de rebeldia.
— Acho que ela está apressando os planos. Tenho visto cartas chegando dos reinos vizinhos. Muitas. E ouvi o rei falar sobre um acordo de casamento.
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•𝕷𝖆𝖌𝖗𝖎𝖒𝖆𝖘 𝕼𝖚𝖊 𝕼𝖚𝖊𝖎𝖒𝖆𝖒•
RomanceCalithen, a cidade capital de Soravelle, repleta de beleza e perigos, é palco de segredos antigos e intrigas reais. Lar da poderosa família Hartley, a realeza de sangue azul abençoada pelos Deuses, Calithen agora enfrenta um mistério sombrio: os don...
