24. Aceite o vazio

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Miguel deixou seu pupilo descansar por aquela noite, porém sabia que não podia se dar ao luxo de descuidar-se, ou de não instruir o garoto em como lidar com um semelhante. Quando fora visitar Gabriel no pequeno apartamento arranjado pelos secretários de Lúcia, o vampiro experiente adentrou o quarto e deparou-se com o rapaz alimentando-se de Hélio, que sempre mantinha-se imóvel. Sempre calado, mesmo que isso fosse uma maneira de evitar problemas com o mundo humano. Miguel não podia deixar de sentir-se enojado por tomar a liberdade de alguém. Aquilo tocava algo em seu interior, que o deixava de certa forma furioso.

Palavras não foram necessárias naquele momento. Ao notar a presença de seu tutor, Gabriel afastou-se do rapaz, fechou a ferida no ombro dele, servindo de um pouco de seu próprio sangue, como lhe foi ensinado. O mais velho não disse nada, apenas gesticulou para que o seguisse, e o novato assim o fez de bom grado.

A dupla saiu em direção a porta, enquanto Ana ficou para montar guarda e cuidar de Hélio. Miguel olhou para duas pessoas que estavam escondidas nas sombras e que os guiariam até o estacionamento, levando-os até um carro preto com janelas de insulfilm, que os protegeria da ação dos raios do sol.

O quarteto seguiu pelas ruas de São Paulo, como se não fosse nada. Gabriel observava da janela escura, o astro rei em todo seu esplendor. Sentiu um pesar em seu coração, pois sabia que sentiria falta de passar os fins de tarde na praça vendo o pôr-do-sol com seus amigos, e sobretudo, com Diego.

— Pra onde estamos indo? — Gabriel enfim rompeu o silêncio dentro do automóvel negro.

— Para um lugar em que não precisemos nos preocupar em sermos nós mesmos — revelou o mais velho.

O jovem vampiro não compreendeu o que seu mentor estava querendo dizer com aquilo, no entanto, tinha certeza de que não voltariam ao complexo. Não, Lúcia jamais aceitaria que fizessem isso, pelo menos, não sem uma pista concreta de quem estaria por trás destes ataques. O pequeno grupo de vampiros não demorou muito até chegar em um prédio abandonado, com a fachada toda pichada, vidraças esburacadas e faixas mostrando que o imóvel estaria interditado.

Miguel foi o primeiro a abrir a porta, somente agora, o jovem vampiro compreendeu por que o mais velho carregava consigo um enorme guarda-chuva preto. Seu tutor colocou a perna para fora, e mesmo protegido com uma calça escura, sentiu a pele queimar. Depois foi a hora de abrir o vistoso guarda-chuva negro e sair completamente do refúgio das sombras que o carro providenciava aos vampiros.

Gabriel ficou um pouco receoso em repetir o que o mais velho tinha feito, mas o olhar de reprovação que recebeu, o fez repensar suas escolhas. Enchendo-se de coragem, colocou sua perna direita para fora e foi recebido com os raios singelos do sol, porém que queimavam como labaredas ao menor contato com a luz esplendorosa do astro rei.

Saíram às pressas da rua, não queriam ser vistos e nem ficar tempo demais dependendo da proteção de um misero guarda-chuva. A dupla avançou até o interior do prédio abandonado, embrenhando-se dentro da escuridão providenciada pela falta de espaço nas vidraças, para que a luz do dia invadisse completamente o ambiente.

Gabriel seguiu o vampiro mais velho pelo prédio adentro. Já Miguel, decidiu por ter este encontro para poder avaliar o quanto seu protegido sabia sobre suas próprias habilidades. Afinal, ele tinha noção de que Gabriel podia saber algumas coisas, mas acreditava que o jovem vampiro não compreendia como seus dons noturnos funcionavam, e dar-lhe um pouco de orientação, não faria mal algum. Pelo menos era o que acreditava...

— Me diga, garoto, você sabe o que pode matar um vampiro? — Miguel perguntou repentinamente, pegando o novato de surpresa.

Gabriel levou algum tempo para pensar sobre o que poderia responder. No entanto, recordou-se de uma de suas experiências de quase morte.

O Outro Lado do AnoitecerМесто, где живут истории. Откройте их для себя