23. Estranhas coincidências

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Rodrigues encarava o estranho envelope deixado em sua porta. Ponderava sobre quem o poderia ter deixado, e sobretudo, por que justamente pra ele? Todas estas perguntas martelavam em sua cabeça. O policial deu uma última inspecionada no estranho objeto abandonado em sua porta, e como não encontrou nada de suspeito ao chacoalhá-lo, o levou para dentro de casa.

Fechou a porta atrás de si, a sensação de que algo espreitava por aí ainda persistia, e para ter certeza de sua segurança, travou o trinco e voltou até sua mesa, onde seu jantar o esperava. Aproximou-se de sua cadeira, sentou-se e encarou o envelope por algum tempo, questionando se deveria ou não abri-lo. Deu um pequeno gole em sua taça de vinho, finalmente decidindo-se em saciar a curiosidade que se apoderava como um tumor indesejável.

Rodrigues esticou seu braço, e pegou uma faca que estava à disposição no porta talheres. Passou a lâmina sobre o lacre que impedia a abertura da estranha correspondência, em seguida, o abriu revelando em seu interior algo que lhe confundiu mais do que esperava.

Dentro do envelope encontrou fotos de uma autópsia realizada pelo menos uma semana atrás. Nelas havia um rapaz deitado sobre uma mesa metálica, ele tinha o rosto magro e jovem, e estava virado para o lado esquerdo, revelando duas pequenas lacerações em seu pescoço, entretanto, na foto não demonstrava ter nenhum traço de sangue vertendo a ferida, e o laudo dizia que a morte deveria ter sido por uma grande perda de sangue.

Um sinal de alerta lhe fez parar tudo. Recordou ter visto algo estranho, já vira essas marcas em duas ocasiões, e ambas pareciam estar conectadas. A primeira foi quando encontrara Diego no dia seguinte do suposto ataque sofrido dentro de seu quarto. Havia algumas manchas de sangue no lençol de sua cama, como a perícia tinha relatado, e seu corpo tinha alguns traços de que sofrera algum ferimento em seu ombro. O rapaz na ocasião parecia muito abalado para dizer qualquer coisa, o que achou estranho demais.

A segunda vez, não tinha acontecido tão longe assim, há poucas horas tinha encontrado Caio com as mesmas marcas, com as mesmas características de que estivera abatido, apesar de que Diego não demonstrara tal cansaço quando conversaram. 

Algo não me parece certo. É como se uma peça importante estivesse faltando... — refletiu juntando mentalmente as pequenas peças do quebra-cabeças dispostas diante de si.

Bebeu mais um gole de seu vinho e percebeu que sua taça já estava vazia, colocou mais um pouco da bebida em sua taça e deu uma garfada em seu macarrão. Notou que estava frio, e fez uma careta. Lá se foi um bom jantar — ponderou cansado e frustrado.

O policial se levantou, retirou o prato com o resto de comida, as panelas e a garrafa de vinho no fim, colocando tudo sobre a pia, deixando o envelope com as fotos sobre a mesa, ao lado de sua taça com vinho. A comida que ainda estava nas panelas, levou até sua geladeira, depois dirigiu-se até a pia para lavar a louça que tinha sujado. A imagem das fotos da autópsia não saiam de sua cabeça.

Aqueles cabelos encaracolados lhe pareciam familiares, onde eu já os vi antes? — Questionou-se curioso. 

Ainda com as mãos molhadas e com um pouco de sabão do detergente, encarou as fotos dispostas sobre a mesa, e com o dedo indicador moveu uma delas, até achar a foto que mostrava o rosto e o torso do rapaz.

Não pode ser! — pensou chocado.

Deixou a louça em sua pia por alguns instantes e subiu correndo até seu quarto, onde deixou seu notebook. Adentrou o cômodo, acendeu as luzes e percebeu a bagunça que o quarto estava.

Onde tenho andado com a cabeça? Olha o estado disso! — Rodrigues repreendeu-se mentalmente. 

Procurou primeiro em seu armário, seu computador haveria de estar lá, e para sua infelicidade, não estava, partiu para o próximo local provável, a escrivaninha abaixo do aparelho de televisão. Mobília que o ajudou durante muitas noites, a estudar para os concursos para entrar na polícia. Se seu computador deveria estar em algum canto do quarto, era lá que estaria.

O Outro Lado do AnoitecerWhere stories live. Discover now