Segredo Real

Capítulo II

Zay, está tudo bem? - Disse a mãe de Zaylu ao vê-la cochilando sobre seus livros.

Ela logo desperta, assustada e confusa. Então responde com voz trêmula: - Estou sim, mãe. Acho que peguei no sono.

- Então venha, temos visita para você.

Zaylu já sabia que eram seus tios que a ligaram mais cedo para desejar os parabéns.  Então ela começa  descer escadas, ainda meio tonta pelo estranho sonho que teve. Ela tentou se concentrar enquanto sua mãe a chamava, mas suas pernas tremiam um pouco. Parecia que ela estava entre o mundo real e o dos sonhos, sem saber o que era verdadeiro. Cada palavra da sua mãe soava longe, como se estivesse em um túnel. Ela se perguntava se o sonho tinha algum significado especial ou se era apenas coisa da sua cabeça. Mas algo dentro dela dizia que não podia simplesmente ignorar aquilo; parecia tão real, tão estranho. Era como se precisasse entender o que aconteceu, mesmo que fosse assustador.

Zaylu desceu as escadas e encontrou seus tios na sala. Eles a cumprimentaram com sorrisos calorosos e lhe desejaram feliz aniversário. Mas, por mais que tentasse, Zaylu mal conseguia se concentrar nas palavras deles. Ainda estava confusa com o que acabara de acontecer em seu estranho sonho. Ela tentou sorrir e agradecer pelo gesto, mas por dentro, sua mente estava uma bagunça de perguntas e incertezas.

- Vou dar uma volta na rua, daqui a pouco eu volto!

Então sai e anda alguns quarteirões, e caminha  pela rua pela rua, com os olhos fixos no chão enquanto o mundo ao seu redor parece girar lentamente. Ela passa por casas e árvores sem realmente vê-las, sua mente ainda presa nas imagens confusas de seu estranho sonho. As cores das casas se misturam em um borrão, e o som dos pássaros parece distante e irrelevante. O sol brilha forte, mas Zaylu não sente seu calor; tudo o que ela sente é uma sensação de desorientação e medo enquanto tenta entender o que aconteceu. E  logo decide voltar para casa e relatar tudo o que viu em seu diário. Ela pensa que não pode deixar de lembrar desse sonho. Pois sabia que aquilo não foi um simples sonho ou algo do tipo. Ela entendia que aquilo poderia ser tudo, menos algo simples.

11/04

Querido Diário,

Não quero me prolongar, mas senti que você precisava saber de algo que acabou de acontecer comigo. Por algum motivo, acabei pegando no sono e quando achei que acordei, na verdade eu estava em outro lugar. Um lugar que não me lembro de já ter visto, mas que me pareceu muito familiar.

Sinto que não foi apenas um sonho, apesar de parecer mais com um pesadelo. Nesse lugar, que parecia um campo de guerra, frio e sombrio, eu vi um homem. Não me recordo de conhecê-lo, mas assim como o sonho, ele parecia familiar. Como se em alguma outra vida a gente se conhecesse.

Eu não conseguia me mover, parecia que perdi o controle do meu próprio corpo. Na verdade, aquele não parecia ser meu corpo. As roupas, não sei o que mais, esses já não me eram familiares.

Enquanto tentava entender o que estava acontecendo, senti uma confusão e medo dominarem meus pensamentos. Não fazia ideia de como acabei ali ou o que estava acontecendo ao meu redor. Será que tudo aquilo era apenas um sonho estranho ou algo mais sombrio? Meu coração batia tão rápido que mal conseguia me concentrar. Precisava manter a calma e encontrar uma maneira de lidar com aquela situação inesperada.

Quando pensei que estava acabando, que algo de ruim poderia estar prestes a acontecer, esse homem veio e me abraçou. Senti uma paz, um sentimento que não sei descrever. É estranho, mas é como se eu ainda o sentisse. Como se o calor do seu corpo ainda me aquecesse. E além do mais, ele disse meu nome. Eu não me lembro de ninguém ter dito meu nome. Eu fico me perguntando quem era ele. Se o que aconteceu era real. Eu não consigo saber e isso tudo está me deixando cada vez mais confusa. Começar os 16 anos confusa não me parece uma boa forma de iniciar mais um ano de vida.