Bem-te-vi

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     Vitor tinha uma tradição, costumava sair cedo de sua casa para ir trabalhar. Gostava de tomar café na padaria próximo ao seu serviço, após desfrutar de seu desjejum, caminhava até uma pequena praça, não tão distante dali.

     Ele gostava de tirar uns minutos de seu dia corrido, apenas para observar os pequenos pássaros se refrescando no chafariz.

    O jovem era um grande amante dos voadores, já pensou diversas vezes em ter alguma espécie em casa, mas o desejo se perdia, quando pensava em vê-los presos num apartamento.

    Numa certa manhã de tradição, Vitor observava os pássaros banhando-se e cantarolando, quando se surpreendeu com o pequeno gesto de uma mulher.

     Ela carregava consigo um pequeno saco de papel, dele tirava pequenos pedaços de pão e se certificava de jogá-los próximos aos pássaros. Em todo esse tempo vindo aqui ele nunca havia visto tal gesto e muito menos, alguém assim.

     Em era de cães e gatos é difícil encontrar amantes de pássaros pelas ruas — pensou Vitor, observando-a moça de cabelos quase curtos.

     Logo a bela mulher havia terminado e seguiu diante dos olhos do amante das aves. Ele pensou em abordá-la e elogiar o que havia acabado de fazer, porém, temia se atrasar para seu emprego.

     Vitor trabalhava como assistente numa empresa prestadora de serviços, seu trabalho era corrigir textos. O negócio era contratado por pessoas que buscavam textos para seus sites.

     Os colegas escreviam e ele os revisava antes de enviar para os clientes. Apesar de cansativo, o jovem gostava das palavras assim como de pássaros.

     Após o fim de seu expediente ele fez questão de retomar a praça, mas não havia nenhum canto, tão pouco oportunidade para pequenos gestos. Então, seguiu seu caminho recordando-se daquela manhã.

     Em mais uma manhã de observação, os olhares do revisor se desviram dos pássaros a procura daqueles cabelos quase curtos.

     Quando voltou sua atenção para as pequenas rolinhas e pombos, viu que alguém jogava algo no chão. Ele não pôde ver direito, pois, esse alguém estava do outro lado do chafariz.

    Com expectativa que fosse quem seus olhos tanto esperavam esta manhã, ele levantou-se do banco para ir até lá, porém um telefonema interrompeu seu andar. Seu chefe estava o procurando, não havia se dado conta de que haviam se passado vinte minutos de seu horário.

    Ainda, sim, ele fez questão de dar uma espiadela naquele alguém. A mulher era de estatura mediana, usava uma calça jeans clara e uma blusa de meias mangas de cor bege, em seus pés um all-star branco.

    Seus cabelos quase curtos, eram cor de chocolate e seus olhos castanhos se realçavam por detrás das lentes de seu óculos de grau.

     Durante seus afazeres no trabalho, Vitor pensava na imagem daquela mulher e não mais só naquele pequeno grandioso gesto com os cantadores.

     Certo de que iria falar com ela no dia seguinte, se decepcionou por não a encontrar desta vez. Pensando no alimento de seus amantes, foi até a padaria e comprou dois pãezinhos e assim como ela faria, espalhou ao redor de onde eles estavam.

     Desta vez as horas para ele no escritório se arrastaram, pois seus pensamentos tentavam desvendar o porquê dela não ter aparecido nesta manhã, logo quando ele havia planejado até o que dizer a ela.

     Pensando que a sorte do encontro viria, voltou a praça no fim de seu serviço, apesar dos bem-te-vis perambulando pela praça, ele só conseguiria buscar por ela.

Bem-te-viWhere stories live. Discover now