WCBF - CAPÍTULO ÚNICO

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Vi sua silhueta passando atrás de mim no espelho do meu quarto, nessa madrugada fria na mesma cidade triste de sempre. Precisei guardar novamente o livro do qual eu estava lendo, que já era perturbador o suficiente, intitulado de "Ramanga", meu amigo me enviou por sedex seu primeiro original, como explicar o quão péssimo é sem magoa-lo?

Eu sou como a meia noite chuvosa, enquanto você, é como o sol do meio dia, eu correria e dançaria na chuva em madrugadas frias totalmente chapado e bêbado, enquanto aquele sentiria vergonha em ser visto ao meu lado, mas não o culpo, culpo a mim mesmo talvez por ter me fragilizado e autorizei ele entrar na minha mente como um vampiro quando precisa de autorização para entrar em sua casa.

Caminhei descalço até a cozinha, apenas com algumas velas acessas aos arredores, aquilo que acabei de fazer pode ser um tanto quanto perigoso levando em consideração que desde a infância ouvimos que não devemos brincar com o outro lado. Peguei o vinho suave que estava guardado a um certo tempo, coloquei duas taças em cima da mesa, arrastei o tabuleiro ouijia do qual havia acabado de usar, e senti sua respiração cada vez mais próxima.

-Foi esse vinho que bebemos aquela noite em que quebramos a mesa de vidro- honrei erguendo a taça levemente para o alto, infelizmente as risadas descontroladas não fizeram a cicatriz do corte que a mesa deixou em meu braço desaparecer.

Sentei na varanda que tinha ao lado da cozinha, esperando ele finalmente se sentar ao meu lado depois de tanto tempo sem se ver. Comecei a congelar, e nem era por conta da chuva, senti seu cheiro, mesmo sabendo que poderia não ser ele. Coloquei para tocar ao fundo a mesma música idiota de sempre, "Just Another Girl" da minha banda preferida, The Killers.

-Por quê você continua me assombrando? - Perguntei em quase sussurro, vendo pela primeira vez seu rosto depois de quase esquecer como seus olhos brilhavam no fundo em meio a obscuridade.

-Foi você quem me procurou agora Léo, você me deu abertura com aquele tabuleiro idiota -respondeu, podendo ouvir sua voz que me acalmava novamente.

-Não mente pra mim, eu sei que as vezes você me visita durante a noite, e me observa calado sem ter o que dizer - rebati bebericando a minha taça- eu preciso que você pare de me assombrar, mas ao mesmo tempo quero que continue.

-Isso é tão confuso - sussurrou levemente perdido em meu olhar – o nome disso é esquizofrenia, você deveria estar se tratando.

-Eu penso o tempo todo em todos os momentos que vivemos, as noites de boliche, todos os filmes de terror que você maratonava comigo mesmo sempre sabendo o final, todas as vezes em que você segurou minha mão – Tentei evitar de suspirar enquanto o vento frio com a leve chuva cortava o meu rosto.

-Mas nada disso aconteceu no mundo real, isso só ficou na sua imaginação - suas palavras me cortaram mais que a chuva.

Talvez em um outro momento tivesse sido diferente, a forma mais fácil que encontrei foi começar a fugir, precisei encarar que a vida adulta não é um "Heartstopper" e não imaginava alguém gostando de mim romanticamente falando, talvez esse seja um problema psicológico meu, afinal, depois de vivenciar traumas, eu sempre fiquei meio afetado por migalhas.

Eu sei que existem todas aquelas frases motivacionais sobre espelhos contarem mentiras sobre nós e nossos corpos, por tantos anos me senti estranho e sinto como se uma avalanche estivesse cada vez mais próxima da minha cabeça bagunçada. Minha melhor amiga sempre me fala que eu mereço o mundo, mas quando isso vai acontecer? Quando eu vou parar de confundir tudo ao meu redor e sentir coisas que podem ser controladas?

-Eu nunca havia feito o seu tipo, e você sabe muito bem disso - passei a mão em seu cabelo tentando limpar o vinho que escorreu sem querer na minha mão.

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⏰ Last updated: May 02 ⏰

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Como Você Poderia Ao Menos Tentar Me Assombrar?Where stories live. Discover now