── Chega! ─ Ouviu seu pai pedir de forma abafada, parecia genuinamente preocupado, minimamente humano, mas já era tarde.
── Desliga! ─ Grita outro.
O choque é interrompido no meio do caos, mas o estrago já foi feito. A máquina ainda solta um zumbido agudo antes de silenciar de vez, como se estivesse irritada por ter sido calada. Técnicos se movem rápido demais, esbarrando uns nos outros, mãos tremendo ao soltar fios, desligar cabos, afastar a escada. Alguém deixa cair uma prancheta no chão. Outro xinga baixo. O controle escorre pelos cantos da sala.
A criança chora agora em soluços de tirar o fôlego. Os olhos estão abertos demais, perdidos, como se ainda estivessem presos em outro lugar. O corpo continua tremendo mesmo depois que tudo para.
Ela olha para o homem engravatado. Ou tenta. O rosto dele entra e sai de foco, misturado com corredores vermelhos e portas quebradas. Quando ele fala de novo, a voz parece vir de muito longe.
── Estão mortos! Estão todos mortos! ─ Agora a voz vinha carregada de raiva, dura, quase ferindo ao sair. As palavras eram cuspidas entre os dentes, altas demais, acusatórias demais, como se ele fosse o responsável. E talvez fosse mesmo.
── Quem está morto? ─ Alguém pergunta atrás do homem grisalho.
A garota sacode a cabeça, desesperada, como se isso pudesse expulsar as imagens. Só a deixa mais irritada. Ela se ergue parcialmente na maca, os fios ainda presos, o lençol amassado sob as mãos fechadas em punhos.
── Todo mundo! Todos sem olhos e com ossos quebrados!
Os técnicos recuam um passo. Alguém tenta se aproximar, falar baixo, acalmar, mas ela se debate quando sente mãos perto demais. Qualquer toque poderia quebrá-la.
── Não encosta em mim! ─ Grita.
A raiva vem misturada com medo, com confusão, com algo que não sabe nomear. As imagens ainda piscam na cabeça dela, insistentes, e cada vez que alguém fala parece que estão dizendo que aquilo é culpa dela. Que ela é o problema.
As mãos e os pés ainda presos à maca só aumentam a sensação de claustrofobia, o aperto sufocante de não ter controle algum. Ela não é o monstro ali. Não pode ser.
── Número sete, preciso que me conte exatamente o que viu com calma. ─ Ele pede.
Isso só deixa pior.
── Estão mortos, não me ouviu?! Mortos! ─ Ela responde, quase como um rosnado.
A garota puxa as mãos com força, tenta chutar, se libertar daquelas amarras, fazer qualquer coisa que a tire dali. Mas não consegue. Não é forte, é feroz, como um animal encurralado. O corpo treme inteiro, e os olhos ardem, cheios de raiva e pânico.
O silêncio era quebrado por gritos e resmungos altos, pelo som seco da maca batendo contra a parede. Ninguém ousava dizer nada, até que seu pai rompeu o silêncio.
── Sedem ela.
Ela vê a seringa antes de sentir. O pânico explode de vez.
── Não! ─ Grita, tentando se soltar. ── Por favor!
A criança se debate com tudo o que tem, mas é pequena demais, cansada demais. Sente a picada no braço, o frio se espalhando rápido demais.
── Não... Por favor...
As forças vão embora de repente, como se alguém tivesse desligado algo dentro dela. A raiva não some, só afunda, pesada, puxando-a junto. As vozes ficam distantes. As luzes borram. No último pensamento que consegue segurar, tudo o que sabe é simples demais para aquele lugar.
Não quer morrer. Não quer ficar sozinha no fim do corredor. Não quer ser a garota coberta de sangue. Não quer ser a responsável. Não quer ser um monstro.
Ela só quer fechar os olhos e acordar em algum lugar onde crianças não fazem esse tipo de coisa.
E então, finalmente, não há mais nada. Uma badalada de relógio ecoou dentro de sua mente e foi vencida pelo sono.
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⟡ ֺ 𓂂 notes ! ˚
OO1 : Veio aí fanfic de stranger things FINALMENTE, eu queria muito escrever isso e espero muito que gostem!!
OO2 : Votem e comentem para me ajudar, vejo vocês no próximo capítulo.
OO3 : Lembrando, vão sair vários edits da fanfic lá no meu tiktok (@/vhenid.wp)!!